Karina
Pimenta
Produções indianas não são muito
comuns do lado de cá do oceano. Não paramos para pensar que jamais
chegam até nós simples propagandas como trailers de filmes indianos
logo anteriormente ao filme que estamos prestes a assistir nos
cinemas, ou mesmo chamadas para a pré-estreia na televisão, no
intervalo da novela. Não conhecemos os atores, ou os galãs, ou
aquelas modelos que viram atrizes. Nem nas locadoras encontramos os
dvd's. E a pérola Como Estrelas na Terra veio a mim livre e despido
de quaisquer preconceitos, onde eu desconhecia até mesmo o diretor,
a figura que mais influencia meu pré-julgamento. Desconhecia até
mesmo os atores principais.
Após um bate-papo muito bacana sobre
dislexia, uma prima psicóloga me recomendou fortemente o filme para
ajudar a rebater minha ignorância no assunto. Pronto, isso era tudo
o que eu sabia sobre ele.
Com o desenrolar do filme conhecemos
Ishaan, um adorável garotinho de 8 anos, portador de uma vívida
imaginação e um mundo que ele expressa por meio de muitas cores de
tinta guache e lápis de cor. Seu mundo é singelo, tranquilo,
caminha com passos lentos, e ele aproveita cada instante em seu
brilho. Mesmo atrasado para a escola, oferece toda sua atenção a
cachorrinhos na rua, ou espera o momento certo para fisgar um peixe
em mais uma de suas brincadeiras.
Toda essa parcela lúdica do filme se
desenvolve ao redor do personagem de Ishaan. Em contrapartida, o
aspecto perturbador permeia-se ao seu redor no chamado mundo dos
adultos, que começa logo no início do filme, em uma passagem
acelerada, barulhenta, um jogo de cenas rápidas, com professores
lendo as notas dos alunos em voz alta enquanto Ishaan se sente
humilhado diante de seu desempenho cognitivo.
Em diversas passagens temos Ishaan
sendo fisgado de dentro de suas espaçonaves e planetas de volta para
a realidade.
O contraste entre a calmaria de si próprio com a
eletricidade do exterior faz menção a sua dificuldade conseguir
acompanhar o ambiente frenético que o cerca. Ele se torna o aluno
diferente, aquele que fica para trás na sala de aula, o único que
não sabe ler. Ishaan se esconde atrás de piadas e até mesmo de
rebeldia.
Tanto os pais de Ishaan quanto os seus
professores deixaram que o problema cognitivo passasse despercebido,
e ninguém atentou para a possibilidade da dislexia. A criança foi
se sentindo cada vez mais diminuída, e a sua auto-estima foi sendo
destruída com os passar dos dias. Ishaan já não pintava mais, já
não falava mais, vivia com medo. Só mais tarde um professor de
artes consegue entender o padrão de seus erros gramaticais típicos
da dislexia, e então tenta salvá-lo, lutando para tirar Ishaan de
seu comportamento depressivo.
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O professor de artes de Ishaan é o diretor do filme, Aamir Khan |
Todos os elementos que compõe o filme foram escolhidos a dedo. A sensibilidade da trilha sonora escolhida, envolvente, a fantástica atuação das crianças, a fotografia impecável. O filme tem inumeros aspectos que o tornam leve e gostoso de ver. As 2h40 minutos de filme correm que vc nem percebe. O enredo, muito bem construído, coordena de forma belíssima toda essa temática pedagógica da dislexia dentro da sala de aula com uma envolvente história de superação.
Título: Como Estrelas na Terra: Toda Criança é Especial/ "Taare Zameen Par" (original)
Lançamento: 2007
Direção: Aamir Khan, Amole Gupte
Duração: 163 minutos
IMDB:
Link do filme (com legendas em inglês)
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