Do nada começaram a pipocar notícias e reviews sobre o Ghost. Não dei
muita bola. Demorei a ter curiosidade sobre os caras. Mas depois de ver que até
figurões como Phil Anselmo (Down, Pantera) e James Hetfield (Metallica) se
declararam fãs e andavam por aí com camisetas do grupo deixei a preguiça de
lado e fiz o download. Verdade seja dita, de cara não curti a banda. Achei leve
demais e o timbre do vocal Papa Emeritus I não me desceu. Mas de repente me vi
cantarolando algum riff ou melodia dos caras. E ouvi mais uma vez o álbum, só
pra tirar teima. E mais uma. E outra. Logo já estava cantando todas as letras
por aí. Não teve jeito, também fui pego pela praga do Opus Eponymous,
debut dos suecos. Já se passaram uns 2 anos desde meu primeiro contato e
continuo ouvindo o cd sem parar.
Pra quem não sabe, o Ghost é uma banda que faz um resgate do heavy metal
setentista, com influências de Blue Oister Cult e Uriah Heep e alguma pitada de
Mercyful Fate. Desta última trouxeram principalmente o aspecto visual e teatral
e as temáticas demoníacas. Para reforçar o aspecto sombrio a banda decidiu
manter em sigilo as identidades de seus músicos. Alias, fora o vocalista Papa
Emeritus I (agora Papa Emeritus II), que a imprensa acredita ser Tobias Forge,
vocalista das bandas de death metal Repugnant e Subdivision, todos os outros outros cinco instrumentistas encapuzados são conhecidos apenas como
Nameless Ghouls.
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O Papa e seus seguidores |
Dá para entender o rebuliço que o debut da banda causou. O contraste dos
vocais suaves aliadas às belas melodias do hard rock/heavy metal setentista com
as letras e visual obscuro e enigmático conferiram uma aura cult ao grupo.
Aliás, não consigo parar de pensar que a banda é, além de uma grande homenagem
as bandas clássicas, uma certa sátira à alguns clichés do metal. As letras de
tão absurdamente satânicas (e até meio juvenis) passam a ser engraçadas.
Veja bem, isso não é uma crítica. Muito pelo contrário, acredito que a cada
detalhe da banda foi pensado e repensado em cada pormenor e o Ghost é
entretenimento puro. Desde as especulações sobre as identidades dos músicos até
o que mais importa mesmo, o som.
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Phil Anselmo, Dave Grohl e James Hetfield, fã club do Ghost |
Com tudo isso veio a ansiedade pelo segundo álbum. O primeiro single
liberado foi a "valsa" Secular Haze, que ganhou um clip no melhor estilo Black Sabbath. A música já mostrava o que seria ouvido no álbum, uma
produção mais caprichada e uma atenção redobrada aos teclados.
A banda fez excelentes escolhas na composição de Infestissumam. O primeiro
aspecto é que não fizeram uma mera cópia do cd anterior. O grupo evoluiu e se
aprofundou ainda mais em seu resgate da sonoridade setentista. Seu som está até mais leve e melódico do que em Opus Eponymous, porém não menos carismático.
Como já dito, a presença do teclado é bem mais forte e a adição de alguns
corais gregorianos em certas faixas só acrescenta dramaticidade e consistência
ao som do grupo.
O trabalho abre com a excelente instrumental que dá nome ao álbum, com
bateria rápida e corais, já deixando o ouvinte em estado de alerta e preparando
o clima para Per Asperi Ad Inferi, uma das mais pesadas do cd, com seu riff
cortante e bateria militar em seu refrão. Esta é provavelmente uma das faixas
que mais se parece com as do registro anterior.
Uma das diferenças entre este cd e o debut é a presença de
"baladas". A primeira metade do épico Ghuleh/Zombie Queen é um
exemplo, com seus teclados, piano e clima triste. A segunda metade da faixa começa com
um efeito "tecnobrega" (o Ghost se inspirou em The Strokes?) e ela se
torna uma das faixas mais agitadas e divertidas do álbum. Outra balada é Body and
Blood, que poderia ter saído de qualquer cd da Mark III do Deep Purple.
Jigolo Har
Megiddo, Idolatrine e Depth of Satan's Eyes são ótimos hard rocks. Todas com andamentos moderados em termos de velocidade, as faixas apresentam muita melodia e um
clima até dançante, meio post-punk. Mostre essas músicas pra aquele seu amigo
que acha que música boa é só aquela produzida nos anos 70 e pode apostar que
ele vai amar.
A grande música do álbum (e da banda, ao menos até agora) é Year Zero. O
coral cantando nomes de demônios dá espaço à riffs e andamentos que são ao
mesmo tempo vintage e modernos. Impossível não se empolgar com esta faixa. Ela
até já ganhou um clip bacaníssimo e bem sacado, cheio de subtextos, brincando
com rituais católicos e pagãos, além da óbvia piada a respeito da identidade
dos músicos.
O trabalho fecha com Monstrance Clock. Imagino o King Diamond ouvindo
esta e pensando "meus garotos" com um sorriso no rosto. Piano e um
riff sabbatico dão o tom aqui. Só tome cuidado para não sair cantando em
alto e bom som por aí "come together, together as one, come together, for
Lucifer's son".
Álbum: Infestissumam
Artista: Ghost
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora: Loma Vista
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