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Jean começou sua carreira em HQs de faroeste, mas ficou mais conhecido pela criação da revista Metal Hurland (ou Heavy Metal, em sua versão norte-americana) e por seus trabalhos em quadrinhos de sci-fi e fantasia. Moebius também é largamente conhecido por ter trabalhado como designer de produção em filmes como Alien: O Oitavo Passageiro, Tron, Mestres do Universo,Willow, O Segredo do Abismo e O Quinto Elemento, entre outros.
O roteiro da HQ é de Alejandro Jodorowsky, chileno nascido na cidade de Iquique, dono de inúmeros talentos. Renomado escritor, poeta, psicólogo e cineasta, foi justamente em uma produção de cinema que Alejandro começou a trabalhar com Jean Giraud. Ambos deram início a produção de uma adaptação do livro Duna, de Frank Herbert, uma década antes daquela realizada por David Lynch. Dois anos de trabalho depois e o projeto colapsou. Entretanto, foi o contato de ambos artistas em meio à ficção científica que deu o ponta pé inicial em Incal, que acabou sendo escrito durante toda a década de 1980.
Longe do estilo poético de Neil Gaiman ou de Alan Moore ou mesmo das aventuras noir engendradas por Mike Mignola, o Incal parece uma imersão completa dentro de um brainstorm regado a LSD feito por Jodorowsky e Moebius. Cada página trás, sem nenhum pudor, novas situações, personagens, criaturas, mundos e desafios. Desafios estes que são superados rapidamente, como se os autores pensassem "Porquê perder tempo com isso? Ainda temos tanto a mostrar!". Em Incal o importante é a viagem, não o destino.
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Moebius e Jodorowsky: Produtores de LSD em forma de quadrinhos |
E assim se descortinam inúmeros personagens em que, mais do que suas personalidades, são seus interessantes nomes (Imperadortriz, Necrodroid, Meta-barão, Tecnopapa...) e suas criativas figuras que chamam a atenção e se tornam marcantes. Não só personagens humanóides, mas planetas, naves, cidades, animais e tudo que saiu do maravilhoso e detalhista traço de Moebius e da mente influenciada por Tarô de Jodorowsky (o personagem principal, por exemplo, é baseado na carta do Louco) é fascinante. É impossível virar a página antes de se admirar por uns bons minutos cada pequeno detalhe que ali se encontra.
Assim, Jodorowsky e Moebius levam seus leitores por mais de 300 páginas que exploram de uma decadente capital à outra galáxia, passando por um planeta aquoso, pelo interior de um mundo e por bizarras viagens metafísicas.
Não é dificil se perder na trama. Conspirações, revoluções, guerras entre galáxias... parece acontecer de tudo durante a história. Em certo momento eu já começava a temer por uma "sindrome de Lost" na HQ. Ou seja, pensei que os criadores do quadrinho, assim como aqueles do famoso seriado de TV, de tantos mistérios e reviravoltas iam acabar se perdendo e trazendo um final qualquer para sua história. Ledo (e feliz) engano. Em Incal acontece justamente o contrário, conforme avançamos no encadernado as pontas que pareciam soltas e sem propósito começam a se juntar, até que chegamos à um final excepcional.
Mais do que uma história em quadrinhos, Incal é um grande exercício de imaginação e criatividade de duas grandes mentes. Imperdível.
Adorei a resenha e a sua empolgação contagiou. Tem que garimpar para descobrir lançamentos que valham a pena, hoje em dia. Parabéns!
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