Karina Pimenta
Esse filme foi lançado no ano de 2009, ou seja, a época em que uma crítica a seu respeito seria algo inovador já passou há alguns bons anos. Particularmente, eu realmente amo esse filme, entretanto, um número relativamente pequeno de pessoas que eu conheço o assistiram. Pensando nisso, sinto que é um dever da minha parte deixar aqui um pequeno texto para auxiliar a disseminar um filme maravilhoso e tocante.
Mary e Max é
uma animação australiana do premiado diretor Adam Elliot (Harvey
Krumpet, 2003), e se auto classifica como comédia e drama,
simultaneamente. Apesar de estar localizado na seção infantil das
locadoras, em nada se parece com aqueles já conhecidos da Pixar ou
Dreamworks.
E as
diferenças são muitas! Os bonequinhos dos personagens não são
fofinhos e engraçadinhos, pelo contrário, possuem defeitos e
imperfeições físicas. A coloração do filme não é viva e
brilhante: é sépia, terrosa, e também cinza, com músicas
melancólicas. Acredito que a única semelhança entre ambos seja a
importância da amizade, o fator-chave que permeia toda a trama. Em
Mary e Max temos uma animação única. Adjetivos tais como simples,
grotesco, belo e infeliz são extremamente representativos dentro
deste universo.
O filme tem
início ao ilustrar a simplicidade da vida de Mary, uma criança
australiana de oito anos que passa o dia vendo televisão e brincando
com bonequinhos feitos à mão por ela mesma. Começamos a simpatizar
com uma menina solitária e inocente, que tem dúvidas em relação
à origem dos bebês como toda criança. Mas a complexidade de sua
vida nos atinge como um soco quando nos damos conta das suas aflições
psicológicas, de sua baixa auto-estima, da rejeição dos pais, da
sua constante solidão e carência afetiva. Um sofrimento que não
esperamos que uma pessoa tão nova venha a passar. Ou ainda, que
consiga compreender e seguir em frente. Aqueles bonequinhos feitos à
mão não são apenas um passatempo de criança: eles são os amigos
que ela não têm, e são feitos com restos de comida devido à falta
de dinheiro para comprá-los.
O desenrolar
da história se inicia quando Mary começa a se corresponder com Max,
um nova-iorquino de quarenta e poucos anos. Assim como Mary, Max é
sozinho e também sofre com problemas de auto-estima devido à
obesidade. Eles não se conhecem, nunca se viram, mas ambos descobrem
nas cartas o primeiro contato com a amizade, e a paixão de ambos por
doces inicia o elo de vinte anos de cartas trocadas. O espectador
então entra em contato com a sua síndrome, uma variedade do
autismo, e é a partir daí que passamos a entender toda a frustração
de sua vida.
A
dedicação com
a qual esse filme foi construído fica explícita em uma diversidade
de segmentos. Além do belíssimo roteiro, detalhes como o quase
monocromatismo encaixaram-se perfeitamente: a Austrália terrosa e
Nova Iorque cinzenta, enquanto há o vermelho escarlate em ambos os
cenários. Em
algumas cenas há espaço para citar peculiaridades australianas como
o típico bolo Lamington, a caixa de correios vermelha que é a mesma
até hoje na
Austrália,
e até uma brincadeira
com os neozelandeses. (o que seria equivalente ao Brasil
vs. Argentina da Oceania).
Os detalhes são tantos, que até a máquina de escrever que Max usa em suas cartas funciona de verdade (foram necessários dois meses só para fazê-la funcionar). E, além de tudo isso, o filme foi construído em stop motion: empregou 212 bonecos, 147 roupinhas, e 400 acessórios. Cada semana de trabalho gerava 2 minutos e meio de animação. Após cerca de cinco anos para finalizar o filme, Mary e Max foi escolhido para ser apresentado na abertura do Sundance Film Festival, em 2009.
Mary
e Max é uma exploração mental, e traz à tona conceitos
como autismo,
homossexualismo, obesidade, cleptomania, diferenças religiosas,
alcoolismo e perdão, inseridos
gota-a-gota dentro de diversas
cartas entre
dois grandes amigos. Fascinante.
Ótimo post, Karina! :D Adorei, bem-vinda a bordo!
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