"Desde que saí do Sabbath, diversos
grandes músicos passaram pela banda. Mas ninguém toca o Sabbath como o
Sabbath." disse Ozzy Osbourne em uma entrevista. Nada poderia estar mais
certo. Com todo respeito à quem curte mais alguma outra fase da banda, o Black
Sabbath original é que foi a banda que vai ficar na história. Com a formação
Ozzy, Geezer, Ward e Iommi a banda lançou dezenas de clássicos imortais,
redefiniu padrões e deu bases para a fundação de inúmeros estilos da música
pesada. Em outros momentos o BS foi uma boa banda de heavy metal, mas foi com
esse quatro garotos de Birminghan tocando seu blues pesado que o grupo fez suas
obras primas.
Podemos analisar 13 de três formas: é
uma qualidade incrível para uma banda que não fazia nada junta desde 1978. Ou,
ainda: é um trabalho morno para quem já lançou álbuns como o Master of Reality
e Vol 4. Não à toa tenho visto dois tipos de reação ao trabalho, gente o
descrevendo como a oitava maravilha do mundo, enquanto outros o
massacram. Por fim, podemos analisar o álbum como se fosse o primeiro
álbum de um novo grupo. Nesse caso, qual seria a reação da crítica e do
público, teria tanta gente empolgada assim? Acho que dá pra chegar à um
meio termo entre essas análises.
Na primeira análise, se levarmos em
conta o tempo desde a última vez que os 3 músicos estiveram em estúdio juntos o
álbum pode ser considerado um sucesso. Claro que (provavelmente) não tem
nenhuma música que vai figurar no olimpo do rock juntamente com Iron Man ou
Sabbath Bloody Sabbath, entretanto o grupo
aproveitou muito bem a oportunidade e este é um (provável) fechamento de
discografia muito mais digno do que os fraquíssimos Technical Ecstasy e Never
Say Die. Se não vai ocupar o mesmo lugar de honra na história do rock que os
quatro ou seis primeiros discos dos caras, ao menos 13 traz um
bom conjunto de canções. Boas suficiente para ser o melhor álbum dos caras
desde Heaven and Hell, de 1980, talvez o único sem a formação
clássica que seja digno de nota.
Brad Wilk |
Já a comparação direta com os clássicos
é até injusta. O Black Sabbath dos anos 70 está dentre as mais geniais e
influentes bandas de rock da história. A saída foi o auto-plágio. Desta forma,
a escolha do produtor Rick Rubin foi acertada. Dá pra dizer que o cd está
para os ingleses como o Death Magnetic está para o Metallica. Um monte de
ideias usadas nos seus tempos áureos recicladas. Ou vai dizer que o
começo e a estrutura de End of the Beginning (e mesmo de God is Dead?) não é
idêntica à música que nomeia o grupo? E o que seria Zeitgeist se não uma Planet
Caravan parte 2? Faça um exercício, tente cantar a letra de NIB enquanto ouve
Loner. A faixa nada mais é do que uma irmã mais nova do clássico. Usando um
pouco, bem pouco, de imaginação, é possível encontrar ecos do passado em todas
as faixas. Por sorte este trabalho tem mais fôlego do que aquele dos
americanos. As músicas soam mais como grandes homenagens do que como marmita
requentada. Aliás, não entendo o porquê God is Dead? ter sido o primeiro
single. É facilmente a faixa mais fraca do álbum. Apesar de seguir a cartilha
da banda em seu ritmo arrastado, ela me soa mais tediosa do que tenebrosa (ainda
que seus riffs finais sejam excelentes). Fiquei pensando que se tivessem
deixado apenas a metade final da música ela seria bem mais interessante e
poderosa. O outro clone
de Black Sabbath, End of the Beginning é bem melhor. Ainda que seus primeiros três minutos sejam pura cópia, sua parte final
é bastante empolgante.
Os 3 Sabbathicos com Rick Rubin |
Por fim, o olhar sobre 13 como se este
fosse o debut de uma banda desconhecida. Temos aqui um bom conjunto de canções,
em especial no que se refere à guitarra. Iommi é o mestre, não tem
jeito. Seus solos estão incríveis. Parece que foram gravados nos anos 70
e estão sendo usados agora. Além disso, ele mostra que ainda tem alguns ótimos
riffs na manga. Geezer sempre foi um dos meus baixistas prediletos e
continua mostrando toda sua técnica e peso. Uma pena Bill não ter participado
das gravações, mas seu substituto, Brad Wilk, fez um ótimo
trabalho. Já a voz do Ozzy é só um fiapo do que era. Nem o mais die
hard dos fãs pode dizer que o comedor de morcego foi algum dia um excelente
cantor, mas ao menos em juventude ele tinha um vigor que os anos de abusos
levaram embora. O timbre inconfundível está lá, o carisma também, mas falta um
pouco de emoção em suas linhas, parece que ele está desanimado, cantando
enquanto pensa nos seus problemas com a Sharon. No conjunto da obra acredito
que esta "nova banda" conseguiria sim atrair alguma atenção. Não
haveria tantas odes de amor ao álbum, mas tenho certeza de que arrebanhariam um
número considerável de fãs e boas críticas. Principalmente devido às duas
grandes músicas do cd, que são Live Forever e Damaged Soul. A primeira um
vigoroso heavy metal com o melhor riff do trabalho e a segunda um delicioso
blues cheio de solos e gaitas. Nessas duas músicas consegui sentir a magia Sabbathica
chegando bem perto da força dos longínquos anos 70.
As três músicas bônus são todas muito
boas, até é engraçado terem ficado de fora, sendo melhores do que a
maioria das "oficiais". Enquanto Peace of Mind e Pariah são faixas
que conseguem remeter à fase clássica soando, ao mesmo tempo, modernas,
Methademic é uma desgraceira da melhor qualidade. Interessante notar que são
justamente nestas que estão os melhores momentos de Ozzy. Acredito que se
tivessem seguido nessa direção o resultado final seria bem melhor. Entretanto,
é fácil entender o porquê das 3 músicas terem ficado de fora da edição
"normal" do cd, elas são conceitualmente bem diferentes das
demais. Essas faixas não cometem, por exemplo, o erro das anteriores, de
serem mais longas do que deveriam.
Hora do chá |
Resumindo:
Ao meu ver, são três os grandes
problemas do álbum: a já discutida falta de empolgação de Ozzy, a duração das
músicas, muitas delas são muito maiores do que deveriam, e o auto-plágio. Também
faltaram alguns refrãos mais poderosos. Dear Father, por exemplo, é uma
música com ótimas guitarras, mas com um refrão que dá uma certa broxada.
E como pontos positivos: grandes riffs
e solos e ... o auto-plágio! Em sua maioria as músicas dão aquela sensação de "já ouvi isso antes", mas sejamos honestos, alguém queria realmente que o Sabbath fizesse
algo diferente nessa altura do campeonato? 13 não é apenas a continuação de uma
discografia, é um retorno depois de mais de três décadas. Era difícil se
arriscar (e acertar). Neste ponto a banda acertou o tom. Musicas com uma pegada
setentista e a produção moderna. Seria irreal esperar uma evolução do BS, surgindo em 2013 como se tivesse passado apenas um ou dois anos de Volume 4.
Pensando bem, se olharmos o período
entre o primeiro e este último álbum dos ingleses, muitas boas bandas de heavy
metal surgiram, algumas poucas conseguiram chegar perto, menos ainda se
igualaram (Iron Maiden, Metallica...talvez mais uma ou duas...), mas ninguém conseguiu superar os pais. Um Black Sabbath recauchutado e sem brilhar, muito longe do que
já fez de mais incrível, é melhor do a gigantesca maioria das bandas atuais.
Álbum: 13
Artista: Black Sabbath
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora: Vertigo, Universal
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