Marlon Villas
Ramones, fab four punk. (Fonte: http://www.filmjackets.com/) |
Estranho
como uma coisa pode virar contra si mesma. Vamos começar com algumas
definições, de acordo com o dicionário (pode ser qualquer um):
Discriminação significa
o ato de distinguir, separar, apartar alguma coisa ou alguém de qualquer meio
geral e comum, por assim dizer. Preconceito já envolve, como o nome sugere,
"pré-conceitos", opiniões e julgamentos pré-formados sobre algum
assunto ou objeto, sem antes mesmo de conhecê-lo mais profunda ou
detalhadamente. Percebam que as definições são diferentes, ainda que de um modo
um tanto sutil.
O
rock e todas as suas vertentes sofre de ambas as definições. É motivo de
preconceito pela massa social enganada/desinformada pela grade mídia, que
também não entende o que vem a ser o rock, sua importância, sua história, seus
estilos, costumes e outros adendos mais. E o que, de certa forma, demorei para
enxergar, talvez porque não
pensasse muito por esse ângulo quando se tratava do tal assunto: o rock sofre
discriminação por parte de seus próprios fãs, o que não deixa de ser um
paradoxo, no mínimo, curioso.
Lynyrd Skynyrd, que homenageou um professor que pegava no pé deles. (Fonte: http://www.collapseboard.com) |
Está certo, quem nunca pratica discriminação ou
preconceito vez em quando é um mentiroso, ou grande hipócrita. Todos temos
nossas cotas de um ou de outro, isso é fato. Bem como é fato também certas
pessoas terem o estereótipo do roqueiro em geral como um deliquente,
desajustado, encrenqueiro, viciado em todo tipo e quantidade de drogas. (Em
tempo: uma vez, uma garota - que adorava sertanejo, pagode, entre outros
estilos musicais dessa linha dita popular - me perguntou por que eu gostava
desse "tipo de coisa", já que eu era um sujeto tão
gentil, inteligente etc... Tive de dar uma pequena aula sobre a diferença
entre o roqueiro e a imagem distorcida e preconceituosa que fazem dele.
Mesmo assim, ela não se convenceu do que eu estava falando. Isso é o que o
preconceito fortemente enraizado é capaz de produzir.) Porém, se for o caso,
volto a este tópico mais especificamente em outra postagem.
O motivo de estar escrevendo todo esse palavrório é
outro: a discriminação interna do rock. E eu pensava que isso, embora
existisse, como em outras coisas nesse mundo, não fosse levado tão a sério -
engano bastante infeliz o meu.
Johnny Cash dispensa comentários. (Fonte: http://www.billboard.com) |
Costumo acessar alguns sites de rock para
obter mais informações a respeito de bandas, shows, histórias, biografias,
curiosidades e outros assuntos dentro do rock, uma
fonte impressionantemente extensa para conversas em bares,
festas e pizzadas na casa de amigos. E o que comecei a me dar conta, entre
matérias de diversos assuntos e títulos, é a quantidade de comentários
discriminatórios, incluindo xingamentos e comparações descabidas de bandas, artistas,
até mesmo discos e músicas. Punk falando mal de heavy metal, heavy metal
denegrindo o thrash metal, thrash metal humilhando metal progressivo,
progressivo escarnecendo de death metal, e por aí vai, porque a lista é muito
longa. Uma batalha de gostos que não tem o menor sentido, por mais que se
procure algum no meio de tanta discussão irracional. E o pior de tudo é que os
autores das frases ainda fazem pose de intelectuais e donos da
verdade, como se gostos e estilos fossem algo totalmente desprovido de
subjetividade.
Blind Guardian, de Krefeld, Alemanha. (Fonte: http://www.blind-collection.com) |
Uma coisa escrita alguns parágrafos acima foi de
que sertanejo, pagode e outros estilos musicais são ditos populares. O que
muita gente não entende é que o rock, este sim, é o estilo musical mais popular
do planeta, pois em todos os continentes ele é aceito, e em várias facetas:
países escandinavos são fábricas de grandes bandas de black e death
metal; a Inglaterra, com algumas das bandas dos primórdios do hard rock e heavy
metal, como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, e outras da chamada New
Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), como Iron Maiden, Saxon, Diamond Head,
impulsionaram toda uma nova maneira de fazer som pesado, veloz e com técnica
que não deviam nada a grandes compositores do passado, de outras décadas, eras
e estilos; o rock australiano, também conhecido por alguns como "aussie
rock", já produziu algumas pérolas como AC/DC, Midnight Oil, Men at Work e
várias outras bandas; o Japão é sempre palco de grandes shows de todos os
estilos, do hard rock ao thrash, do rock alternativo ao power
metal; Brasil é um berço de grandes bandas em quase todos os tipos de
rock, vide Sepultura (thrash metal, inicialmente death metal), Angra (metal
melódico), Titãs (pop rock), entre tantos outros. Não há canto algum do mundo
em que ainda não se tenha ouvido acordes dos Beatles. A figura de Elvis
Presley é imitada e cultuada por muitos, dos mais jovens ao mais velhos.
O que há de errado, então? Talvez falta de unidade
entre os fãs dos diferentes gêneros e subgêneros de rock? Bem provável. Essa
falta de unidade se vê claramente em fóruns de rock, onde você pode emitir sua
opinião, obviamente, contanto que não extrapole a regras de civilidade
- detalhe que, muitas vezes, é ignorado pelos autores de alguns
comentários infelizes e sem propósito - tais comentários são feitos
simplesmente para provocar outras pessoas que acessam estes fóruns, sem
respeito à opinião e gosto musical alheios. E, volto a enfatizar, estes
comentários ruins, em sua grande maioria, são de pseudointelectuais e pessoas
que não buscam saber corretamente as informações sobre o assunto tratado. O que
não consegui entender até hoje é de onde surgiu essa rivalidade entre estilos
de rock - lembrando, a rivalidade é de todos contra todos, basicamente. Claro
que há roqueiros que não se dignam a fazer papel de bobo como esse e respeitam
o gosto dos seus vizinhos, mas a outra grande parcela não vê o rock dessa
forma.
Queen, hard operístico e afins. (Fonte: http://collider.com/) |
Como não podia deixar de ser, as inúmeras
demonstrações de discriminação por roqueiros contra roqueiros não se limitam à
internet: basta frequentar algum bar ou qualquer outro local que dê preferência
aos costumes do rock em geral (lojas especializadas em discos, acessórios,
camisetas de bandas etc., por exemplo). Certa vez, em um bar de rock onde
costumava assiduamente frequentar, um rapaz pediu ao dono do estabelecimento
que tocasse algum disco do Aerosmith, banda de hard rock (para muitos, hard/pop
rock) que começou sua fama nos anos 1970. Logo que foi atendido o
pedido, outra moça em outra mesa, acompanhada do namorado (guitarrista de uma
banda local), começou a xingar, em alto e bom som, o dono do bar por ter
colocado aquela "merda" para tocar, bem como o "imbecil"
que fez aquela escolha. O mais triste de tudo é que, enquanto ela esbravejava
toda aquela discriminação, o namorado não fazia nada para impedir o papelão da
garota. E o rapaz que pediu o disco também ficou bastante incomodado com a
situação, assim como o proprietário do local (que por pouco não expulsou o
casal) e vários outros frequentadores naquela noite.
Se alguém souber de algo que possa esclarecer as
origens dessa guerra de opiniões, gostos e atitudes no rock em geral, por
favor, me avise. Enquanto isso, continuo acessando sites especializados em
rock, frequentando bares temáticos no assunto, ouvindo, conversando, tirando
minhas próprias conclusões e dialogando, tudo dentro do respeito mútuo, pois
afinal de contas, ninguém precisa aturar algum indivíduo com ares e
narizes de superioridade.
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