Marlon Villas
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John. (Fonte: mail-attachment.googleusercontent.com) |
Até poucos dias atrás eu não tinha
tido a oportunidade de pegar um livro de John Fante em minhas mãos. Muito ouvi
falar dele, de que era um escritor marginal ou coisa parecida, que não se
importava em ter um estilo rebuscado como outros famosos escritores de sua
época (aliás, estilo rebuscado seria algo que não faria o menor sentido em seus
escritos) etc. Muitos outros escritores admiram ou admiraram sua obra. Um deles
foi Charles Bukowski, de quem você já me viu falando aqui pelo menos duas
vezes. Outro é Marcelo Mirisola, um paulistano da geração 90 de novos
escritores brasileiros, irônico, crítico ao extremo e escatológico por
excelência, com diversos livros lançados por diferentes editoras (quem sabe eu
fale mais sobre ele num outro momento).
A primeira vez que descobri o nome de
Fante foi quando avistei um pôster do filme Pergunte
Ao Pó em uma locadora de vídeos anos atrás. Demorou mais um tempo para que
eu assistisse à obra, protagonizado por Colin Farrell e Salma Hayek. A história
me pareceu um pouco estranha, talvez porque eu não estivesse preparado para o
que iria presenciar na tela da minha televisão. Depois fui entendendo melhor o
enredo e, por fim, achei bem interessante.
Logo após isso esqueci John. Não me
lembrava de procurar saber mais sobre o autor de Pergunte Ao Pó, livro que deu origem ao filme, com tantas outras
coisas acontecendo, como por exemplo o fato de que eu tentava sair vivo, pelo
menos respirando, da universidade onde me enfiei, ou então de arranjar um
trabalho razoável com um diploma de nível superior debaixo do braço.
Até que outro dia entrei em uma
livraria que não possuía um acervo muito grande de livros, e encontrei uma
dessas edições de bolso de Sonhos de
Bunker Hill, da editora LP&M. Sonhos... é o último romance de Fante
antes de sua morte, e que foi ditado à sua esposa pois o escritor estava cego e
aleijado ao final de sua vida, por conta do diabetes do qual sofreu por anos
até 1983, quando faleceu. Claro, soube disso apenas porque estava na
contracapa. Eu ainda me perguntava: quem diabos é John Fante?
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Capa da edição. (Fonte: mail-attachment.googleusercontent.com) |
Da mesma forma que em Pergunte Ao Pó, em Sonhos de Bunker Hill John usou mais uma vez seu personagem (e
espécie de alter ego) Arturo Bandini como protagonista, um típico, clássico
anti-herói, um sujeito meio ressentido que, entre empregos mal pagos, tenta se
tornar um escritor de renome após o que sobrou da América com a grande crise de
1929. Neste livro ele chega perto da fama, quando consegue um lugar ao sol
entre os roteiristas de Hollywood da década de 1930. Porém, por mais que
desejasse escrever algo, qualquer coisa para se sentir útil, o seu chefe sempre
diz que é para ele esperar o momento certo, e que “está fazendo um bom
trabalho”. Mesmo sem atividade, Bandini ganha cheques polpudos um atrás do
outro.
O aspirante a escritor ainda se mete
em confusão com uma mulher, também escritora e rica, quando praticamente a
ataca na praia durante o que deveria ser uma tarde relaxante para os dois. Envolve-se
com a sua senhoria do prédio onde mora, uma mulher bem mais velha que ele, que
no início julgava ser uma pessoa ruim, e que termina por gostar bastante
dela. Recusa-se a ter seu nome creditado
a um roteiro de faroeste por princípios morais, roteiro este que foi totalmente
modificado por outra escritora, e que havia sido o único que ele tinha escrito
durante toda a sua estada em Hollywood. Arturo também dá a impressão, às vezes,
de ser um tipo que, embora reclame de muita coisa e de muita gente, não possui
uma certa coragem para enfrentamentos, pois em pelo menos duas ocasiões deixa
bilhetes com palavras duras a pessoas que o aborreceram ou o decepcionaram.
Como no caso em que, num jantar em um restaurante com um amigo, encontra o
escritor Sinclair Lewis (pessoa real, o primeiro norte-americano laureado com o
prêmio Nobel de Literatura, transformado aqui em personagem) e este o despreza
publicamente. Enfim, um homem que busca um lugar no mundo e que ainda busca
descobrir que lugar é esse.
Sonhos
de Bunker Hill é um
livro fácil e rápido de ser lido, e que me fez ter vontade de conhecer mais
John Fante pela riqueza e simplicidade de suas palavras. Um escritor que não se
preocupava em trabalhar e expor emoções, que abria feridas morais e
sentimentais, sem regalias. É isso, sem dúvidas, o que John foi.
Título: Sonhos de Bunker Hill (original:
Dreams of Bunker Hill)
Autor: John Fante
Editora: LP&M
Número
de páginas: 166
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