A definição acima (em letras quase garrafais) são a definição no dicionário, mas basicamente um videoclipe
(videoclip, clip ou clipe) é um filme curto que interage com imagens e música,
produzido para fins promocionais e/ou artísticos. Apesar de hoje em dia serem
utilizados – em sua maioria – como meio de divulgação ou marketing, ainda são
muito apreciados. Nesse, e nos próximos posts, vamos tentar explorar um pouco
dessa ‘Jugendstil televisiva’, essa
Art Noveau contemporânea, verificando os aspectos que começaram ainda no cinema
mudo e chegaram aos videoclipes, como os conhecemos hoje.
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Joe Stern e Edward Marks: os "criadores do videoclipe". À esquerda, uma propaganda de uma lanterna mágica tripla |
Em 1894, os
americanos Edward Marks e Joe Stern, editores de partituras musicais, contrataram
o eletricista George Thomas e vários artistas para promover as vendas de sua
música ‘The little lost child’.
Utilizando uma lanterna mágica – um projetor de imagens provavelmente
desenvolvido por Christian Huygens no séc. XVII – George Thomas projetou uma
série de imagens em uma tela, simultaneamente a performances da música ao vivo.
Essa forma de entretenimento tornaria-se conhecida como “canção ilustrada”, o
que seria o primeiro ‘videoclipe’ a ser feito na história. Se eles usaram o 'clipe' para auxiliar a venda de sua música, eles obtiveram grande êxito, pois venderam mais de dois milhões de cópias das partituras de sua música.
Algo desnecessário de
ser dito é que o que contribuiu massivamente para a criação dos vindouros
videoclipes foi o avanço das técnicas de cinema. No início do século passado, os filmes,
inicialmente mudos, começariam a agregar sons sincronizados (previamente
gravados), por volta da década de 1920. Posteriormente, com uma tecnologia
melhorada, alguns diálogos sincronizados começaram a ser incorporados e esses
filmes começaram a ser conhecidos como ‘fotos falantes’. As técnicas foram
melhorando e muitos musicais curtos passaram a ser produzidos (diga-se de
passagem, Cary Grant e Hupmfrey Bogart , conhecidos atores americanos,
estrearam em filmes dessa leva, como em “This is the night” e “The dancing
Town”, respectivamente). Na década de 1930 o processo de incorporação de áudio
em filmes chegou a ser feito de forma inovadora, fazendo com que filmes fossem
adaptados à música, e não o contrário. Muitos desenhos animados da época são
ótimos exemplos disso – como Fantasia, da Disney. Esses desenhos, inclusive os
que assistíamos na nossa infância, possuíam músicas que eram executadas em
‘live-action'.
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"Os homens preferem as Loiras"(no alto à esquerda), "Amor, sublime amor" (abaixo, à esquerda) e a famigerada maquininha da Scopitone. |
Em 1964 foi lançado o
filme – em preto e branco - ‘A hard day’s night’, que retratou alguns dias da
banda no auge da Beatlemania, intercalando músicas
e sequências de diálogos. No ano seguinte os Beatles gravariam o filme ‘Help!’
– em cores. A faixa título, gravada em preto e branco, foi a Pedra de Roseta
para os vídeos musicais das décadas seguintes, por conta de ângulos e tomadas
de câmera não usuais para a época: foco nas mãos do baterista ou apenas em seu
rosto (junto com um pedaço de um dos pratos), a mão esquerda de George Harrison
e o braço de sua guitarra vistos em primeiro plano, enquanto, ao fundo, há um
desfocado John Lennon, tomadas rápidas das câmeras de cada beatle, seguidas pelo enquadramento de todos eles juntos. quem
quiser conferir, veja a partir de 1:08 nesse link http://www.youtube.com/watch?v=jbCVKEUkQzc,
onde há o filme completo. Quem assistir ao clipe provavelmente achará que não
há nada inovador, mas devemos lembrar que algumas poucas décadas antes as
atenções voltavam-se mais para musicais, pois os clipes, propriamente ditos,
ainda não existiam ou não eram massificados.
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"A hard day's night"( 1964) e "Help!" (1965) |
Muitas
bandas seguiram essa linha de vídeos promocionais: Bob Dylan, Pink Floyd, The
Who... Algumas músicas chegaram a ter mais de um clipe promocional, como foi o
caso de "Jumping Jack Flash", do Rolling Stones. Porém seria David Bowie a ter mais
notoriedade com seus clipes. O vídeo de “John,I’m only dancing”, de 1972, foi feito com orçamento de apenas US$ 200,00,
retratando um ensaio de David Bowie e sua banda. Esse clipe, entretanto, foi recusado pela
BBC, que considerou de muito mal gosto as conotações homossexuais (??) presentes no
clipe. Posteriormente o Top of the pops
– programa da BBC – exibiria um clipe muito diferente para essa música, com
sequências de motociciclistas e dançarinos.
O clipe de “Jean Genie” não
causou tanta polêmica, mas também custou pouco: US$ 350,00. Foi filmado em
apenas um dia e editado em menos de dois. Nessa década a country music também
acabou aderindo a produção de vídeos promocionais.
David Bowie fez o primeiro clipe 'mamilos' da TV britânica |