segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

TOP 10 musical de 2012


Ah, fim de ano. Festas, peru, presentes, tiozões perguntando se “é pavê ou pra cumê?”... e listas! Aqui vai a minha com os cds lançados em 2012 que mais me agradaram. 


10. Lacrimosa - Revolution
Eu não ouvia Lacrimosa há algum tempo. Já fui bastante viciado na banda e considero o vocalista/líder da banda, Tilo Wolf, um gênio, um dos poucos que conseguem realmente inserir música erudita no metal sem soar forçado ou piegas. Revolution não tem a força de um Elodia, é claro, mas é um belíssimo cd.




9. Van Halen – A Different Kind of Truth
Não sou fã de Van Halen. Quero dizer, eu curto muito algumas músicas que conheço, mas nunca tinha ido atrás de conhecer o som dos caras mais profundamente. Esse deve ser o primeiro álbum completo deles que ouço, então nem tenho condições de comparar com trabalhos mais antigos da banda, mas o fato é que fora o primeiro single Tattoo, todas as músicas desse cd me cativaram bastante. Em especial as pesadonas Chinatown (uma das melhores introduções de música que já ouvi na vida!), As is e Honeybabysweetiedoll. 


8. Down - IV - Part I: Purple EP
Pra ser sincero eu esperava mais. Pensava que uma hora dessas estaria tecendo odes de glória ao EP, mas a verdade é que, mesmo muito longe de ser ruim, ele também não empolga como faziam os dois primeiros álbuns da banda. É muito legal sim, como sempre a banda faz aquele som pesado, lento e malvado, calcado em riffs Iommicos, mas as músicas aqui apresentadas não ganharam minha afeição como fizeram anteriormente uma Temptations Wings, uma Stone the Crow ou uma Beautifully Depressed, por exemplo. 




7. Graveyard - Lights Out
Bela surpresa vinda da Suécia. Lights Out é o terceiro album da banda, mas o primeiro que escuto. Hard rock de primeira, cheio de psicodelia e peso, não devendo em nada pra gigantes setentistas do estilo. Vocal forte e ótimos riffs vindos de guitarras sujonas em músicas incrivelmente empolgantes. Rock sem frescura.




6. Joey Ramone - Ya know?
Pois é, o cara morreu faz mais de 10 anos e mesmo sendo uma raspa do tacho de sobras de sua carreira, esse álbum ainda é poderoso. Claro, é inconstante, tem muita música que entrou só pra encher linguiça mesmo, mas as boas compensam, e muito! 
E mesmo que 14 das 15 músicas fossem ruins, esse cd mereceria destaque. Tudo por causa do hino Rock'n'roll is the Answer. Uma pena que essa música, devido às circunstâncias em que o cd foi lançado, vai passar despercebida. Esse musicão que soa uma mistura de Ramones com AC/DC teria tudo pra se tornar um grande clássico do rock, caso tivesse sido lançada em algum antigo LP dos Ramones.



5. Paradise Lost - Tragic Idol
Fazia tempo que a banda não lançava um álbum tão consistente quanto este Tragic Idol. Em todos os seus trabalhos sempre houve faixas ótimas, porém, em seus últimos cds, estas eram diluídas em meio a músicas medianas. Aqui não, dá pra curtir o álbum todo do começo ao fim sem pular faixa nenhuma.




4. Alabama Shakes - Boys & Girls 
Pare tudo que estiver fazendo e escute a vocalista Brittany Howard cantar. Que voz! Se ela lançasse um álbum à capela já seria muito bom, com o acompanhamento de sua excelente banda então nem se fala. A primeira referência que me vem à cabeça é Janis Joplin, tanto pela vocal quanto pelo instrumental com sua levada blues/soul/rock.





3. Killing Joke - MMXII
Até esse ano não tinha ouvido nada tocado pela própria banda, apenas o excelente cover de The Wait, em sua versão feita pelo Metallica. Posso dizer que foi uma das grandes descobertas de 2012 e logo devo correr atrás de trabalhos mais antigos dos caras. O que se ouve aqui é um post-punk metal, se é que isso existe. As músicas tem aquela pegada típica de bandas post-punk dos anos 80, aliadas à riffs e elementos mais pesados de metal e industrial.


2. Mark Lanegan Band - Blues Funeral
Nunca ouvi os outros álbuns dele. Nem solo, nem com a Isobel Campbel e nem com o Screaming Trees. Conhecia apenas os (excelentes) trabalhos do cara junto com o Queens of the Stone Age. Isso foi o suficiente pra fazer com que eu me interessa-se em descolar o Blues Funeral ao ler sobre um show que faria em SP no começo do ano (que infelizmente perdi). E que ótima decisão foi esta! Mark usa sua voz de trovão em um álbum que é basicamente composto por blues e rock alternativo, mas com influências que vão até a disco music!!! Uma das melhores faixas, a Ode to a Sad Disco, não poderia ter um nome melhor. É bem isso mesmo, uma sonoridade disco, mas longe da alegria e festividade que tal tipo de música evoca, o negócio aqui é soturno e deprê. Coisa linda!
  

1. Baroness - Yellow & Green
O top 1 é tão bom, mas tão bom, que já ganhou uma resenha própria AQUI. Mas não custa enfatizar: Yellow & Green é fantástico! Rock progressivo, stoner metal, psicodelia, folk... um amálgama de estilos, mas a classificação que importa e que cabe aqui é: música ótima.





P.S.: Não posso colocar na lista porque são lançamentos de 2012, mas quero fazer uma menção honrosa a dois álbuns que ouvi pela primeira vez este ano e que estariam facilmente dividindo o primeiro lugar com o Baroness: Dreamland (2002) e Mighty Rearranger (2005), ambos da carreira solo do Robert Plant. Também já escrevi sobre eles AQUI.

P.S.2: Top 3 chatices do ano: Born Villain - Marilyn Manson: Porque esse cara não se aposenta? The 2th Law - Muse: Essa banda até começou bacana, mas essa pretensão de querer ser o "novo-Queen" estragou tudo. Muita pompa pra pouca música. Oceania - Smashing Pumpkins: Ok, faz tempo que não fazem nada digno de nota, mas acho que essa foi minha broxada do ano. CD absurdamente sem sal.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As realidades de Philip K. Dick

Danilo Altman

Philip K.
(Fonte: http://www.radiotimes.com/)
Você acha que não sabe quem é Philip K. Dick, mas assim como nas tramas de suas histórias, a realidade não é exatamente o que parece e as ideias desse escritor se encontram em algum lugar dentro de sua mente.

Nascido em Chicago, em 1928, Philip K Dick escreveu 44 livros e mais de 120 contos, muitos deles organizados em coletâneas. Ao contrário do estilo elegante e calcado em ciência real de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, Dick não tinha problemas em inventar a pseudociência absurda que fosse necessária para contar suas histórias. No meio de seus textos você encontra todo tipo de coisa bizarra, como lesmas lunares e afins. Outra diferença dele é sua visão pessimista de mundo. Não raro, suas histórias se passam em realidades devastadas pela guerra, pobreza e decadência, tendo como protagonistas personagens desajustados e paranóicos.

Em vida, o escritor não fez grande sucesso, ficando bem atrás, em termos de popularidade, quando comparado com os peixes grandes da ficção científica, como Robert Heinlein, Ray Bradbury e os já citados Clarke e Asimov, mas no início da década de 80 o cineasta Ridley Scott viria a dirigir o filme Blade Runner, baseado em um de seus livros, Do the androids dream of electric sheep?, que abriu as portas de Hollywood para Philip K Dick. Desde então muito de seu trabalho já foi adaptado para as telonas, sendo os maiores destaques, sem contar, obviamente, Blade Runner, Minority Report - A Nova Lei (2001) e O Vingador do Futuro (1990).
A soturna Los Angeles futurista de Blade Runner.
(Fonte: http://blu.stb.s-msn.com/)
O filme de Ridley Scott é um filmaço! Um noir futurista sobre um caçador de androides fugitivos. Com diálogos e atuações incríveis, direção segura, efeitos especiais de primeira e um roteiro irretocável, o filme, apesar de não triunfar nas críticas e bilheterias na época de seu lançamento, tornou-se um clássico cult ao sair em VHS. Além de ter sido o primeiro, este é, sem sombra de dúvidas, o melhor filme baseado nas ideias do escritor. Ficção profunda, mais voltada para o aspecto intelectual do que para a correria e ação, Blade Runner é um filme impressionante, que até agora não ficou datado e merece ser sempre revisto, pensado e analisado.

O diretor holandês Paul Verhoeven não era um novato na ficção científica quando resolveu fazer seu Vingador do Futuro, ele já tinha dirigido um dos grandes clássicos do gênero, Robocop (1987). Inspirado no conto “Lembramos para você a preço de atacado”, o diretor criou um filme de ação com inúmeras cenas e passagens memoráveis.
O grande trunfo do diretor foi não se levar tão a sério. O filme tem um tom escrachado que faz com que inverossimilhanças e a violência gráfica não incomodem o espectador. O roteiro expande a história imaginada por Dick de maneira bastante satisfatória e costura toda a ação com uma história intrigante.

Minority Report adapta um dos melhores contos de Dick, “Relatório Minoritário”. Trazendo o astro Tom Cruise no papel principal, o filme parece mesmo com um “Missão Impossível do Futuro”. O design de produção é fantástico e o filme funciona muito bem como um thriller de ação futurista. Sequências empolgantes de fugas e lutas são amarradas por um belo roteiro. Entretanto, o roteiro retira da trama o final mais bombástico e até, porque não?, racional do conto, adquirindo um tom mais moralista e, eu diria, até sem sentido do que o do desfecho originalmente pensado de Dick, quando o personagem principal é obrigado a tomar uma decisão cruel, porém sensata dentro das situações e possíveis desenrolares de suas decisões.
No universo de Dick nada nunca é o que parece.
(Fonte: http://mundodomanolo.com.br/)
Muitos outros filmes foram baseados em histórias de Dick, alguns utilizando apenas uma ou outra ideia do autor, como O Vidente (2007), com Nicholas Cage, que é vagamente inspirado pelo conto “O Homem dourado”, ou até mais fiéis, como O Pagamento (2003), mas todos de qualidade duvidosa, sendo de medianos a ruins.

Aproveitando o lançamento do (desnecessário) remake de O Vingador do Futuro, a editora Aleph resolveu lançar uma coletânea com todos os contos do autor que deram origem a filmes. O remake em si não é ruim, mas pouco agrega ao cinema sci-fi, sendo uma mistura da versão original da história com uma correria mais estilo "Minority Report" e até alguma influência visual de Blade Runner e de Eu, Robô. O grande trunfo do filme foi trazer às bancas este livro, uma edição inédita no mundo, excelente para quem quer começar a tomar contato com o surtado mundo de Philip Dick.

Curiosamente, as ideias deste americano geraram muito mais filmes do que as de Asimov, Clarke e Heinlein e, se estes ficaram conhecidos como o Big 3 da literatura de ficção, Philip Dick é, sem dúvida, o rei do cinema do gênero.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Contato

Danilo Altman

Carl.
(Fonte: http://devaneiostolos.com/)

Sempre tive a tendência para o nerdismo. Quando criança acordava cedo no sábado para assistir documentários da National Geographic que passavam na Globo. Tinha interesse principalmente naqueles sobre inseto e os sobre Egito antigo. E de domingo adorava ver o Globo Ciência. Mesmo o Globo Rural eu não perdia, sempre tinha algo interessante em meio as notícias sobre a cotação da arroba do boi zebu. Mas nenhum desses exerceu tamanho fascínio sobre mim quanto a série Cosmos, produzida e apresentada pelo astrônomo Carl Sagan. Desde então posso dizer que Carl Edward Sagan é uma das minhas pessoas preferidas em toda a existência humana. 

Olha o currículo do sujeito: Doutor em astronomia e astrofísica pela Universidade de Chicago, ele trabalhou nos projetos da NASA Apollo, Mariner, Viking, Voyager e Galilleu. Além disso ele foi professor de astronomia e ciências espaciais, publicou inúmeros livros e artigos e é tido como um dos grandes divulgadores da ciência em todos os tempos. Além de tudo isso, Sagan era um poeta. Quem já assistiu Cosmos, leu alguma coisa  ou viu alguma entrevista dele já sabe. Seu amor pela ciência, pela cultura e pela busca do conhecimento eram impressionantes e foram destiladas em cada palavra dele.

Dito tudo isso, não sei por que demorei tanto para ler Contato. 

O livro, lançado em 1985, conta a história da astrônoma Eleanor Arroway e sua participação no projeto SETI. Pra quem não sabe este é um projeto real, que busca evidências de vida inteligente fora da Terra através do monitoramento de radiofreqüência. A ideia básica do projeto é apontar um radiotelescópio para uma estrela e, através da análise da radiação eletro-magnética captada, determinar se esta é natural (emissões da própria estrela) ou se  possui alguma lógica, como sinais com repetições ou sequencias bem estabelecidas, o que a configuraria como uma transmissão de alguma civilização inteligente.

Contato.
(Fonte: http://imagens.pontofrio.com.br/)
Na história acompanhamos a Dra Arroway desde sua infância e formação (tanto de caráter quanto científica) até o momento em que ela finalmente consegue captar sinais que possivelmente são provenientes de seres extra-terrestres habitando algum planeta em órbita da estrela Vega, assim como as consequências desse contato. Esse deve ter sido um dos livros mais bem escritos que já li em toda minha vida. A história engloba todos os aspectos de um possível contato com seres extra-terrestres e mostra como isso se refletiria na sociedade, na ciência, nas religiões e na política. Além disso, Sagan dá vida a personagens complexos, multidimensionais e plausíveis. A construção da personagem principal se dá de uma forma completa e esta poderia ser a biografia de uma pessoa real. A obra foi pensada em cada um de seus pormenores, sendo profunda, completa e sem falhas.
 
O livro é bem mais do que uma ficção científica. É um debate sobre ciência e fé, sobre política, sobre relações humanas, sobre astronomia. Tudo isso sem nunca deixar de prender a atenção dos leitores sobre seus personagens ou sua história. Para quem já leu ou viu qualquer outra coisa de Sagan, dá pra perceber que Eleanor é o próprio autor dentro da história. Sua paixão pela ciência e seus argumentos fortes e inteligentes sempre me soavam com a própria voz de Carl. E este passeio pelo cosmos dessa mente privilegiada é um dos maiores prazeres que já tive desde que fui alfabetizado.
Dra. Arroway na pele de Jodie Foster.
(Fonte: http://arquivoufo.com.br/)

Terminada a leitura, fui atrás do filme baseado no livro, lançado em 1997, o qual também curti muito. O diretor Robert Zemeckis conseguiu enxugar o texto e transpor a história de forma competente para as telas. Ter a excelente Jodie Foster no papel principal também foi de grande valia. Entretanto, recomendo que, mesmo quem já assistiu à película, que leia o livro, já que este se aprofunda bem mais em alguns pontos da história, trazendo a tona muito mais detalhes em todos os aspectos da história do que seu irmão da sétima arte.

Contato é uma obra única. Uma prova de que ao menos na Terra existe vida inteligente.