sábado, 18 de maio de 2013

LUZ. CÂMERA. CLIPE! (parte III)



            Antes de tudo, gostaria de me desculpar pelo hiato de meses sem postar nada (tive problemas com meu computador e as atividades da faculdade estavam me consumindo). Agora toda vez que eu mencionar um clipe, farei o máximo pra achar algum bom exemplo do vídeo comentado e, assim, agitar um pouco esse blog, trazendo muitos clipes para os leitores. 

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          No post anterior falamos de como a produção de vídeo clipes começou a crescer e ganhar importância, sendo um meio muito eficiente para a divulgação de músicas novas e artistas. Tão importante que até passou a ser encarada como uma commodity. Neste post vamos falar de como a indústria de clipes se desenvolveu na década de 80 e da criação dos canais que se dedicariam exclusivamente a exibição de vídeos musicais. 

1981 – 1991: a popularização dos videoclipes
         Em 1 de Agosto de 1981, às 12:01 a.m. de Nova York, o recém criado canal MTV exibia o vídeo Video killed the Radio star (lembram que eu disse no post anterior que esse clipe seria importante?) e começou uma era de clipes musicais 24 horas por dia na TV. Com esse novo canal, os videoclipes ganhariam cada vez mais importância no marketing musical, principalmente a partir de meados da década de 1980. Muitos artistas importantes desse período – como Madonna e Duran Duran – devem grande parte de seu sucesso ao apelo sedutor e à construção habilidosa de seus clipes.
Duas inovações na produção dos clipes modernos foram o desenvolvimento de técnicas mais simples e acessíveis de gravação/edição de vídeo, além de melhorias nas técnicas de efeitos visuais, como as obtidas com composição de imagens (como o Chroma key – ou fundo verde – que foi muito utilizado no seriados Chaves e Chapolin, da Televisa mexicana). 


Para muitos brasileiros, uma das cenas mais icônicas feitas em chroma key

A chegada dos gravadores de alta qualidade e de câmeras de vídeo portáteis coincidiu com a política do “faça você mesmo” da era New Wave, o que permitiu que muitos artistas pop produzissem vídeos promocionais de forma rápida e barata. Não à toa, a década de 80 é recheada por clipes que hoje consideraríamos de gosto, digamos, brega e duvidoso (o que, convenhamos, rende boas risadas). Conforme esse gênero se desenvolvia, os diretores dos clipes passavam a preferir filmes de 35 mm como meio preferido. Durante a década de 1980, os clipes tornaram-se quase que obrigatórios para os artistas. Essa obsessão chegou a ser parodiada em um clipe imperdível do programa Not the Nine O’Clock News, da BBC,  chamado “Nice vídeo, shame about the song”. Ao assistir esse vídeo não pude deixar de pensar que eles devem ter assistido Monty Python  por diversas vezes para ter inspiração. E sabe o que é pior? A música é legal e representa muito bem os clichês de clipes daquela década, tanto que em vários momentos ele se assemelha ao clipe de Total Eclipse of the Heart, que só seria lançado um ano depois. A letra é um tanto desconexa, pois há versos que não fazem sentido entre si (Vamos passar a lua de mel em Berlin oriental / E, como lemingues, nunca vamos nadar / A nave lunar do Diabo faz ondas no tempo / Meu irmão asiático diz ‘me dá um trocado’). Nessa música talvez haja algumas críticas a acontecimentos da época, já que eles falam sobre visitas a Alemanha Oriental (que era socialista) e sobre o ‘irmão asiático’, talvez uma referência às conseqüências da guerra do Vietnã, terminada em 1975, que deixou o Vietnã economicamente devastado. Crítica aliada a humor: a melhor combinação, não é mesmo? 
Nesse período, artistas e diretores começaram a explorar e a expandir a forma e o estilo dos clipes, usando efeitos mais sofisticados em seus vídeos e introduzindo uma história com enredos. Poucos eram os clipes que não mostravam os artistas (como nos raríssimos clipes de Under pressure, dirigido por David Mallet e TheChauffeur, dirigido por Ian Eme).  
Em 1983, foi lançado um dos clipes mais bem sucedidos, influentes e icônicos: o vídeo de 14 minutos para Thriller, de Michael Jackson, dirigido por John Landis. Esse vídeo estabeleceu novos padrões de produção, com um custo de quinhentos mil dólares para ser feito (se hoje esse valor ainda é expressivo, imaginem naquela época). Esse vídeo e outros previamente lançados pelo rei do pop contribuíram para que vídeos de afro-descendentes pudessem ser exibidos na MTV, pois antes do sucesso de Michael Jackson estes eram raramente exibidos. A própria MTV alegava ser um canal orientado para o rock (quem diria, não?) o que justificava a falta de clipes de artistas afro-americanos. Contudo, muito se falava que a MTV não os exibia por conta de um ‘racismo descarado’.

O rei do Pop e seus Dead Walkers. 

Ainda em 1983 seria lançado o primeiro rival da MTV: o Country Music Television (CMT) – ainda que exibisse uma programação voltada para a música country. Entretanto, houve conflitos entre a MTV e a CMT (esta, inclusive, acabou adotando a sigla CMTV em resposta a uma denúncia feita pelo canal concorrente, fazendo com que a sigla dos dois canais ficassem semelhantes). Hoje a CMT pertence à Viacom, que fundou a MTV Networks, administradora de operação de vários canais de TV (inclusive a própria MTV). A CMT chegou ao Brasil em um empreendimento conjunto com o Grupo Abril, mas teve uma vida curta, entre 1995 e 2002.
No Canadá criaram o canal Much Music, em 1984, que existe até hoje e está bem ativo, pois possui sua própria premiação, o Much Music Video Awards, que esse ano terá o cantor Psy como anfitrião (e performer, claro), afinal, nada melhor para uma premiação do que chamar o primeiro cantor com mais de 1 bilhão de visualizações no youtube (que também será comentado em um post posterior). Nesse mesmo ano foi realizada a primeira edição do MTV Video Music Awards, em 14 de setembro, o que ajudou a marcar a importância da MTV na indústria musical. Por ser a primeira edição, premiaram os melhores vídeos lançados entre maio de 1982 e maio de 1984 (afinal, Boheman Rhapsody é hors concours). A premiação teve como apresentador o ator Dan Aykroyd, e teve como grandes ganhadores o cantor Herbie Hancock (5 prêmios) e Michael Jackson (3 prêmios). Nesse festival a cantora Cindy Lauper teve nove nomeações, seis pelo vídeo "Girls just wanna have fun" e três pelo vídeo de "Time after time" (que infelizmente foi recentemente regravada por Claudia Leitte). 
Em meados da década de 80 a MTV começou a lançar suas ‘filiais’: em 1985 criou o VH-1: Video Hits One (ou VH1), que compreendia músicas mais suaves para abocanhar um público maior; a MTV Europa foi lançada em 1987; 


a versão brasuca estreou ao meio dia (horário de Brasília) de 20 de Outubro de 1990 (os clipes já tinham chegado ao Brasil em 1975, mas até então eram exibidos em sua grande parte no programa Fantástico, da TV Globo); a MTV Ásia estreou em 1991. Alguns programas britânicos tentaram fugir ao padrão MTV, exibindo apenas clipes, sem apresentadores, como foi o The Chart Show, exibido pelo Channel 4 em 1986: havia janelinhas que pulavam na tela com informações sobre o clipe ou a música, o que era bem inovador e fez bastante sucesso na época.  Até mesmo a própria MTV chegou a adotar esse esquema em alguns de seus programas.
Um dos primeiros clipes a utilizar animação computadorizada foi o clipe de Money for nothing, do Dire Straits, em 1985. O clipe foi bem sucedido e fez com que a canção se tornasse um hit internacional.
Com métodos melhores de filmagem e com diretores cada vez mais interessados em fazer clipes, o mundo musical começou a ganhar clipes cada vez mais técnicos e memoráveis. Quem é que não se lembra de vídeos como “November Rain”, “Don`t Cry” e “Stranged” (Guns’n’roses), “Human” (Human League), o cômico “The Ultimate Sin” (Ozzy Osbourne) e do quase cinematográfico “Hole in my soul”, do Aerosmith? Pois todos eles tem uma coisa em comum: o diretor. No próximo post (que prometo, não vai levar meses pra sair) veremos a importância crescente dos diretores nos clipes. Daria até o nome de um filme: “Rise of Directors”. Alguém se habilita a fazer o roteiro?

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