quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Luz . Câmera . CLIPE! (parte II)


videoclipe | s. m. : Curta-metragem que ilustra um tema musical ou apresenta o trabalho de um artista.  Sinônimos: clipe, teledisco.

         Para continuar a história dos videoclipes, decidi manter a definição presente no dicionário, para não perdermos o foco: no início os clipes eram apenas um modo de divulgar o novo trabalho de uma banda. Os Beatles ‘fizeram escola’ ao mostrar para seus fãs clipes com novas técnicas de filmagem, graças a acertada escolha de diretores como Michael Lindsay Hogg e Peter Goldman. Como o mundo reagiu após a tantas revoluções de som, imagens e vídeos?


1974 – 1982
         Os programas de TV australianos Countdown e Sounds, ambos iniciados em 1974, foram importantes para a popularização de videoclipes na Austrália e em outros países e, assim, estabelecer a sua importância como meio de promover lançamentos. Em 1974, o ex-radialista Graham Webb lançou um programa musical para adolescentes, o Sounds Unlimited­ – rebatizado em 1975 para Sounds - que passava nas manhãs de sábado. Como o programa necessitava de material, Webb conversou com Russel Mulcahy (funcionário de redação do canal sete) e lhe pediu para fazer algumas filmagens que acompanhassem músicas conhecidas, mas que não tivessem clipes. Usando este método, Webb e Mulcahy conseguiram cerca de 25 clipes para o show. O êxito dessa empreitada encorajou Mulcahy a pedir demissão do emprego que tinha e tornar-se um diretor em tempo integral, e assim ele fez clipes para várias bandas populares, como o AC/DC. Conforme os clipes iam ganhando popularidade, outros produtores também entenderam que os clipes estavam se tornando uma nova commodity no mercado musical. Embora com um orçamento muito baixo, o produtor de outro programa, Paul Drane (do Countdown), conseguiu criar vários vídeos memoráveis, como “It’s a long way to the top” e “Jailbreak”, ambas do AC/DC. Depois de ir para o Reino Unido em meados da década de 1970, Mulcahy fez videoclipes de sucesso para muitas bandas britânicas, como o ‘Video Killed the Radio Star’, do The Buggles (este clipe será importante em um post futuro, lembre-se dele). Lembram-se daquele clipe épico da Bonnie Tyler, o “Total Eclipse of the Heart”? Pois bem. Também é uma criação do Mulcahy.

Russel Mulcahy na década de 70 (acima, à esquerda ), nos anos 2010 (abaixo à esquerda), o vídeo produzido para o The Buggles (ao centro) e o famigerado/épico clipe de "Total eclipse of the Heart" da Bonnie Tyler (à direita)

         O programa Top of the Pops (do canal britânico BBC) começou a exibir vídeos musicais no fim da década de 1970, porém a emissora limitava o número de vídeos que poderiam ser exibidos diariamente. Eles perceberam que se um vídeo fosse interessante, as vendas de uma determinada música poderiam aumentar se os espectadores a vissem novamente na semana seguinte. Em 1975, a banda The Who lançou o filme Tommy, cuja trilha sonora era composta unicamente por músicas deles. O filme foi dirigido por Ken Russel e foi baseado no ‘rock-ópera’ homônimo. Ainda em 1975 foi lançado o mundialmente conhecido clipe de “Bohemian Rhapsody”, dirigido por Bruce Gowers , para que pudesse ser exibido no Top of the Pops. Alguns atribuem a esse clipe o início da ‘era MTV’.
 Em 1982, o lançamento do filme The Wall, dirigido por Alan Parker, transformou o duplo LP homônimo do Pink Floyd, de 1979, em um labirinto apocalíptico áudio-visual de letras, melodias, sons e imagens estilizados, sendo cultuado até os dias de hoje. Já o programa britânico, voltado ao rock, “The old Grey Whistle test” produziu um grande número de vídeos específicos para o programa durante as décadas de 70 e 80. Em 1980, David Bowie alcançou, pela primeira vez, a primeira colocação nas paradas britânicas em quase uma década, graças à perspicácia do diretor David Mallet com a direção do vídeo de “Ashes to ashes”.

Dois grandes musicais inspirados em álbuns musicais: Tommy (1975) e o aclamado  The Wall (1982)

         Enquanto isso, em terras americanas, o Video Concert Hall – com estreia em 1 de Novembro de 1979 – foi o primeiro programa de vídeos musicais exibido em todo o território yankee, quase 3 anos antes da MTV. Posteriormente, outro programa, também antecessor a MTV, também passou a exibir videoclipes. O Night Flight (com estreia em 5 de Junho de 1981) era um programa de variedades  do canal USA Network. Lá eram exibidos documentários, comédias stand up, filmes de baixa publicidade (ou filmes B), curtas e, claro, videoclipes, que passaram a ser exibidos como uma forma de arte e não como mera ferramenta de divulgação para artistas. Esse programa durou até 1988 e foi contemporâneo a MTV (que estreou em 1 de Agosto de 1981, quase 2 meses depois da estreia de Night Flight). Esse programa era uma espécie de MTV sem frescura: se a MTV censurava clipes, o Night Flight mostrava; se um clipe era banido da MTV, lá estaria o Night Flight pra salvar os mais curiosos. Para uma pequena lista de vídeos censurados pela MTV estadunidense podemos citar "Body language" do Queen (devido a supostas conotações homoeróticas), “Girls on Film”  do Duran Duran (que possui mulheres com seios à mostra durante uma luta) e “Girls, Girls, Girls”  do Mötley Crüe (por mostrar mulheres seminuas dançando). Alguns clipes eram exibidos apenas a madrugada, como If I could turn back time da Cher, em que ela usa uma roupa, digamos, reveladora.

Os canais de videoclipes dos Estados Unidos: Video Concert Hall (1979), Night Flight (1981) e MTV (1981)

A comédia musical de horror de 1975
Esse era um programa televisivo muito à frente de seu tempo. Se hoje há enxurradas de filmes-paródia, parte dessa história também está lá, nesse programa, que possuía quadros em que se produziam paródias de filmes do início do século passado. Além disso também exibia documentários Cult (como o “Ladies and Gentlemen, The Fabulous Stains”, que falava sobre 3 adolescentes que montaram uma banda punk feminina, só pra citar um bom exemplo) e filmes como o aclamado “The Rocky Horror Picture show”. O programa foi uma ótima opção para os espectadores daquela época, por oferecer uma programação diferenciada. Muito dizia-se que o diretor do programa, Stuart Samuels, possuía doutorado na história das ideias, ao querer compilar vídeos de maneira temática de maneira que eles pudessem se intercomunicar e que permitissem os espectadores tirar suas próprias conclusões sobre os vídeos. Talvez não à toa, Samuels merecesse a alcunha de ‘Doutor em História das ideias’, visto que ele foi professor de História na Universidade da Pensilvânia, deu aulas nos seminários anuais do Festival de Cannes e que tenha a autoria de um livro clássicos filmes Cult, entitulado Midnight Movies (que possui um documentário homônimo de 2005, que foi exibido no festival de Cannes daquele mesmo ano) que fala sobre filmes gore de baixo orçamento.
O Night Flight durou até 1988, sendo ressuscitado em 1990, até ter sua morte definitiva decretada em 1996. Eles nunca se consideraram rivais da MTV, ainda que eles passassem vídeos censurados pela mesma.

O grande Night Flight teve seu fim, mas não os videoclipes. A MTV continuou e prosperou na década de 80 ao consolidar os patamares dos videoclipes, e nos anos 90 ao espalhar seus tentáculos mundo afora. Mas isso ficará para o próximo post...


6 comentários:

  1. Pow, fiquei a fim de assistir Night Flight

    ResponderExcluir
  2. Eu confesso que não vi quase nada do Night Flight, apenas pesquisei. Mas saca só essa vinheta do programa, que inclui um tokusatsu e fala um pouco sobre o filme do George Romero, o "Night of the living Dead", de 1968. Pena que não é mostrado, mas a locutora também fala do Dracula interpretado por Bela Lugosi.
    http://www.youtube.com/watch?v=7cV9nM0UhUE

    ResponderExcluir
  3. Bem interessante! Posso dar uma sugestão? Como você vai fazer um próximo post, poderia aproveitar para colocar impressões pessoais!! Acho que fica mais dentro da proposta do blog. Bjs e parabéns pela pesquisa!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, pra fechar o assunto seria legal o autor dar uma opiniao pessoal sobre o tema :)

      Excluir
    2. Não coloquei tantas impressões nos posts anteriores porque tudo que escrevi eram coisas novas para mim. Então achei que seria mais interessante expor alguma opinião na última parte do post, visto que os leitores também já teriam tudo revelado e também poderiam se sentir mais incluídos no texto ;)

      Excluir