terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ninguém Pode Saber (2005)

Karina Pimenta


Com o título original Dare mo Shiranai, este drama japonês relata a história real de quatro crianças abandonadas à sorte pela mãe. Em meados de 1980, a manchete foi amplamente divulgada em jornais de vários países. Um assunto polêmico, maus tratos com crianças pequenas em plena Tóquio. O assunto teve tamanha repercussão no Japão que foi criado então um filme a partir desse escândalo.

Ninguém Pode Saber, tradução para o português do título, traz o cerne do filme em si. Ninguém pode saber que, em um pequeno apartamento nos subúrbios de Tóquio, mora uma mãe solteira com quatro filhos, uma de cada pai. Ninguém pode saber que elas não têm estudo, e não frequentam a escola. Certa vez, quando questionada pela filha, a mãe diz que pelo fato de não ter pai, ela iria sofrer bullying. (Para quem não é familiarizado, bullying é um assunto realmente muito sério no país.) Nenhum vizinho os conhece, e as crianças nunca saíram de dentro do apartamento.

A mãe, jovem e infantil, frequentemente chega bêbada em casa. Ela precisa do filho mais velho para cuidar dela, uma cena que demonstra a necessidade de amadurecimento precoce do menino frente à imaturidade da própria mãe. Em inúmeras vezes, ela dorme fora de casa. Às vezes, passa semanas longe. Sem demais explicações, sem muitos diálogos. 

Em um esforço de tentar enganar a si mesma, ela envia envelopes de dinheiro para o filho, como se fosse ele o responsável por cuidar de todos os seus irmãos, tão crianças quanto ele. Faz o mercado, o almoço, e ainda estuda matemática sozinho. Após longos intervalos, a mãe retorna para casa. Como uma resposta à ferida causada pelo abandono, os filhos esquecem que foram esquecidos, e só querem um abraço apertado da mãe. Ela passa uns dias com eles, e depois some novamente.

A estrela do filme é, sem dúvida, o filho mais velho, Akira. Muitos jovem, com apenas 12 ele anos, ele se dá conta da situação à qual sua vida se encaminha. Meses seguidos sentindo a ausência da mãe, sem mais envelopes de dinheiro, as contas atrasadas, o corte de luz, o corte de água, os malabarismos para conseguir comida, deixando tanto os filhos quanto o telespectador presos na angústia da espera do retorno da mãe.

O receio a pedir ajuda de outras pessoas tem uma simples resposta: a fobia ao desmembramento dos irmãos pelo serviço social. Apesar disso, o desmoronamento da família se transforma em realidade, só não é físico. Estão juntos, mas arruinados em sua sorte. 

Você deve estar pensando "Mas que bela receita de filme dramalhão barato: história real + sofrimento + closes nos rostos de criançinhas, cheios de lágrimas". Mas, apesar de todos esses trágicos acontecimentos, não temos nada que remeta ao não-querido Fausto Silva em seu programa infame. O tema abandono é tão bem explorado neste filme que até a câmera mantém uma distância segura do telespectador. O sofrimento calado das crianças depende basicamente da atuação das próprias, e não de closes acompanhados de uma bela trilha sonora ao fundo. A bela atuação do ator mirim que interpreta o irmão mais velho, Yagira Yura, lhe rendeu uma premiação como melhor ator no Festival de Cannes com apenas 14 anos.

Deixo aqui uma recomendação de um filme estruturado, que retrata um triste acontecimento de forma inigualável, capaz de transmitir emoção sem utilizar diálogos. 

Bom filme a todos!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Into The White

Marlon Villas

Cartaz na Noruega.
(Fonte: http://all-artisans.com)

O garoto já é conhecido no mundo inteiro como o eterno Ronald Weasley, dos filmes da saga Harry Potter. Mas alguma coisa me dizia, há alguns anos, que ele tinha algo de especial como ator. E parece que tem mesmo, ao menos como um sujeito versátil naquilo que faz.

Into The White, sem título em português no Brasil até este instante, foi lançado recentemente, em agosto de 2012, na Noruega em Blu-ray e DVD, mas ninguém por enquanto confirmou se será lançado no Brasil da mesma forma, conforme alguns sites internéticos. O que posso dizer a respeito do filme é que se trata de uma história baseada em fatos reais. E que Rupert (falo mais no nome dele por ser o mais famoso do elenco, é claro, não que os outros atores não tenham atuações excelentes) mostrou algo bem diferente do que todos estão acostumados a ver em suas atuações como o melhor amigo do jovem e inseguro bruxo na série criada por J. K. Rowling.

Antes de continuar, devo acrescentar que Rupert Grint está demonstrando mais fôlego como ator de cinema fora da imagem de Weasley do que os outros famosos colegas de filmagem em Hogwarts, Emma Watson e Daniel Radcliffe.

O garoto Weasley, ou melhor, Grint interpreta um jovem soldado inglês que combateu na Noruega durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial, em 1940. Ele e seu capitão, após serem abatidos em seu avião, acabam encontrando uma cabana no meio do deserto gélido do país, onde três soldados alemães, também derrubados em combate aéreo, já estavam alojados. No início, obviamente, há uma disputa entre rendição e controle de poder entre os inimigos, porém aos poucos todos percebem que precisam se unir não como militares, mas como homens para garantir a sobrevivência em um período inusitado, de privação e sofrimento.

O filme expõe aquilo que as forças armadas não podem admitir em momentos críticos (não que não possam reconhecer, o que é diferente): que um inimigo de guerra, no fundo, é apenas outro ser humano, como qualquer um. Não desejo entrar aqui em discussões sobre o que é certo e o que é errado na conduta de formação de militares de qualquer esfera, apenas que a obra, baseada em uma história verídica, aponta um fato bem claro. Tal fato é o de que, além de ideologias, políticas e regras institucionais rigidamente estabelecidas, existe algo mais profundo: a necessidade da humanidade enquanto um conjunto de seres sociais, que buscam alguns instintos primitivos de bando ou comunidade diante de adversidades.

Cena na cabana, onde se passa a maior parte do filme.
(Fonte: http://recantoadormecido.com.br)

Acredito que muitos de vocês já assistiram a outros filmes ambientados em conflitos armados com temáticas subjacentes similares a esta, mas escrevo sobre este em particular para que possam se interessar em conhecer uma parte da Segunda Grande Guerra do qual poucos, ao menos no Brasil, tenham ouvido falar alguma vez. E para verem que Rupert Grint, embora para sempre ficará em nossas memórias como aquele garoto ruivo e engraçado com uma varinha mágica nas mãos, pode ser também uma boa promessa como ator, que poderá nos deixar fascinados com suas atuações, por querer ser mais do que um ídolo jovem.

Título: Into The White
Lançamento: 2012
Direção: Petter Næss
Duração: 100 minutos

sábado, 16 de fevereiro de 2013

As aventuras de Tintim


A nona arte sempre esteve presente em minha vida. Como muitas crianças brasileiras eu lia muita Mônica, Cebolinha e toda a turma criada por Maurício de Souza. Uma coisa leva a outra, e logo fui apresentado aos quadrinhos do bárbaro gaulês Asterix e do repórter belga Tintim, colecionando vários volumes desses quadrinhos por volta dos meus 10-12 anos. Gostava de ambos personagens, mas meu fascínio maior era pelas aventuras do topetudo e seu cachorro Milú, com suas pitadas de mistério, intrigas internacionais, humor, ação e até ficção científica.
Tintim e seu fiel amigo Milu
O personagem foi criado pelo belga George Remi, que utilizava o pseudônimo Hergé, e teve sua primeira aparição em 10 de janeiro de 1929, no suplemento infantil do jornal Le Vingtième Siècle, sendo uma evolução de um personagem anterior de Hergé, o escoteiro Totor. Apesar de, ao menos à principio, a série ser direcionada à crianças, o autor sempre trouxe temas adultos aos seus quadrinhos. Assim, ao lado de situações cartunescas, personagens caricatos e com nomes como General Tapioca, podemos encontrar temas como tráfico de drogas, guerra, espionagem, assassinatos e máfias. Ao mesmo tempo que os Dupond escorregavam em cascas de bananas, o protagonista era capaz de pegar em armas e arriscar a vida em revoluções na América do Sul e no oriente.
A primeira fase do personagem é hoje vista de forma polêmica. Em álbuns como Tintim no país dos Sovietes, Tintim no Congo e Tintim na América, as histórias passam visões eurocêntricas e preconceituosas de seu criador. O mais discutido trabalho desta época é, sem dúvida, aquele em que o personagem vai para a então colônia belga. Retratando o povo local como ignorantes e usando traços estereotipados nos personagens negros, o álbum é hoje tema de discussão por seu suposto racismo. Anos mais tarde Hergé se desculpou, dizendo ser a história produto do ambiente e das informações que chegavam a ele em sua juventude.
Mais uma polêmica se deu quando a Bélgica foi invadida pela Alemanha nazista. Impedido de publicar suas histórias no Le Vingtième Siècle, Hergé passa a ter seus personagens frequentando páginas de jornais nazistas. Entretanto, é possível perceber no álbum "O cetro de Ottokar", publicado durante esses anos, uma clara alegoria à posição anti-expansionista que o quadrinista imprime em sua história.
A grande virada do personagem se deu na história O Lótus Azul, de 1936. Durante a escrita, Hergé se tornou amigo do estudante chinês Zhang Chongren, que supervisionou toda a concepção da história e retratação de seu país natal. Considerada uma das obras primas do autor, O Lótus Azul marcou um imenso salto de qualidade nos trabalhos por ele produzidos. À partir deste ponto Hergé se livrou de preconceitos e passou a fazer um grande trabalho de pesquisa sobre cada lugar que utilizava em suas histórias. Sua habilidade como roteirista (passando a substituir histórias segmentadas e a tremenda sorte do protagonista por  argumentos mais intrincados) e sua técnica como desenhista também evoluíram enormemente. Seu traço limpo e a presença de ambientes altamente detalhados se tornaram uma marca registrada e foram influência para todas as gerações de desenhistas posteriores.
Alguns dos álbuns de Tintim
Nesta fase vieram as histórias que se tornaram verdadeiros clássicos dos quadrinhos. Aventuras a la Indiana Jones, O ídolo roubado, As 7 bolas de cristal e O Império do Sol, conspirações como em No país do Ouro Negro, A Ilha Negra e O Caso Girassol e ficção científica como em Rumo à Lua, Explorando a Lua e A Estrela Misteriosa.
Hergé e seus amigos
Caso você não tenha acesso às HQs e quiser conhecer o trabalho de Hergé, a melhor forma é através da série animada franco-canadense produzida pelas empresas Nelvana e Ellipse Animation no início dos anos 90. Dividindo as histórias em 39 episódios distribuídos por três temporadas, foram produzidas adaptações para todos as HQs, com exceção das duas primeiras, Tintim no país dos Sovietes e Tintim no Congo, além da inacabada história Tintim e a Alfa-arte. Acredito que esta série foi uma das mais bem sucedidas transições de mídia que já tomei contato. Utilizando as cores e traços (da fase mais desenvolvida) de Hergé, os desenhos traziam histórias praticamente Ipsis litteris daquelas encontradas nos álbuns  Mudanças aqui e ali, algumas pequenas adaptações e até melhoria o desenvolvimento de alguns pontos da trama (em uma história, por exemplo, Tintim escapa de um sequestro usando um serrote para sair de um carro, no desenho trocaram o serrote por um canivete, objeto infinitamente mais plausível de ser carregado no bolso por qualquer um) foram feitas de forma extremamente competente.
Hergé conseguiu dar vida a um universo único, entre o real e o cartunesco, entre o infantil e o adulto, fazendo de seus personagens ícones dos quadrinhos europeus. Não à toa, mesmo tantos anos após sua morte, Tintim, Milu, Capitão Haddock, Professor Girassol, os Dupond e tantos outros personagens se mantém vivos e queridos por legiões de fãns.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Fullmetal Alchemist (2003-2004)

Karina Pimenta


Para quem não é muito familizarizado dentro do vasto mundo dos animes, como eu, e gostaria de conhecer um muito intrigante, uma dica é Fullmetal Alchemist. Fullmetal Alchemist é um seriado/anime adaptado de uma série de mangás, com uma temporada de 51 episódios, cada um com aproximadamente 30 minutos de duração. Não se engane pensando que esse é mais um desenho japonês para crianças.

Imagine um mundo em que a alquimia é possível. Imagine pessoas que a estudam e a praticam. Neste universo, a alquimia é uma ciência, a mais avançada técnica científica, portanto, como toda ciência, tem regras que devem ser estritamente seguidas. Com a alquimia, é possível combinar uma variedade de materiais em estado bruto e transformá-los um objeto específico, colocando em prática o ideal que permeia toda a saga: o conceito da troca equivalente. De acordo com tais princípios, é possível obter qualquer objeto de desejo, contanto que seja pago o valor equivalente nessa troca. 

Alphonse e Edward são irmãos que, logo no início do anime, sofrem com a perda da mãe e se vêem órfãos. Sem pai, e totalmente sozinhos, buscam na alquimia uma alternativa para reavivá-la. Na teoria, como o corpo humano é formado por diversos elementos químicos, seria possível reconstituí-lo ao misturar os ingredientes nas devidas proporções. Entretanto, a transmutação em humanos é uma técnica proibida pelas leis que regem a alquimia. Como a graça de uma boa história é ver o circo pegar fogo, é claro que eles desconsideram esta informação e continuam o procedimento de trazê-la de volta à vida, e complementam o processo utilizando uma gota do próprio sangue para inserir informações genéticas à receita. 


Círculo de transmutação para realizar alquimia

Como esperado, eles falham, e o resultado é assombroso. Afinal, não é possível gerar uma vida utilizando matéria morta. Na troca equivalente pela vida da mãe, eles obtém um corpo sem alma, uma massa escura, medonha. O pior é que os ingredientes empregados não foram suficientes, e o preço a ser pago nesses casos é muito caro: a troca consumiu todo o corpo do irmão mais novo, enquanto o mais velho perdeu sua perna esquerda. No desespero, e assustado por ter perdido tanto seu irmão quanto sua mãe, Edward sacrifica o seu braço esquerdo para selar a alma do irmão pequeno em uma armadura, o primeiro objeto que viu em sua frente. E este é só o primeiro episódio!

Braço mecânico de Edward

Grandiosas cenas de explosões, muitas cenas de lutas, e a velha conhecida dualidade O Bem contra o Mal são parte da fórmula convencional, daquela receita que dá certo tanto para filmes como para animações. Neste caso, esta estrutura convive de forma harmoniosa ao lado de uma discussão intrigante sobre a ética dentro da ciência e, ao mesmo tempo, da religião. Qual o limite da sensatez na realização de experimentos com humanos? Ou mesmo: É possível um 'pastor' comandar toda uma cidade? Por que as pessoas se tornam tão vulneráveis e chegam ao ponto de obedecer, simplesmente? Qual teor de sofrimento deve ser atingido para cegar um indivíduo mentalmente?

Achei interessantíssima a crítica a estas entidades, sendo que os acontecimentos dão chance para o telespectador pensar a respeito. De uma maneira elegante, esse anime é capaz de passar uma mensagem madura empregando uma abordagem tranquila, com cenários bonitos e iluminados e ainda agrega tiradas bem-humoradas com personagens muito carismáticos. Super recomendado!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Luz . Câmera . CLIPE! (parte II)


videoclipe | s. m. : Curta-metragem que ilustra um tema musical ou apresenta o trabalho de um artista.  Sinônimos: clipe, teledisco.

         Para continuar a história dos videoclipes, decidi manter a definição presente no dicionário, para não perdermos o foco: no início os clipes eram apenas um modo de divulgar o novo trabalho de uma banda. Os Beatles ‘fizeram escola’ ao mostrar para seus fãs clipes com novas técnicas de filmagem, graças a acertada escolha de diretores como Michael Lindsay Hogg e Peter Goldman. Como o mundo reagiu após a tantas revoluções de som, imagens e vídeos?


1974 – 1982
         Os programas de TV australianos Countdown e Sounds, ambos iniciados em 1974, foram importantes para a popularização de videoclipes na Austrália e em outros países e, assim, estabelecer a sua importância como meio de promover lançamentos. Em 1974, o ex-radialista Graham Webb lançou um programa musical para adolescentes, o Sounds Unlimited­ – rebatizado em 1975 para Sounds - que passava nas manhãs de sábado. Como o programa necessitava de material, Webb conversou com Russel Mulcahy (funcionário de redação do canal sete) e lhe pediu para fazer algumas filmagens que acompanhassem músicas conhecidas, mas que não tivessem clipes. Usando este método, Webb e Mulcahy conseguiram cerca de 25 clipes para o show. O êxito dessa empreitada encorajou Mulcahy a pedir demissão do emprego que tinha e tornar-se um diretor em tempo integral, e assim ele fez clipes para várias bandas populares, como o AC/DC. Conforme os clipes iam ganhando popularidade, outros produtores também entenderam que os clipes estavam se tornando uma nova commodity no mercado musical. Embora com um orçamento muito baixo, o produtor de outro programa, Paul Drane (do Countdown), conseguiu criar vários vídeos memoráveis, como “It’s a long way to the top” e “Jailbreak”, ambas do AC/DC. Depois de ir para o Reino Unido em meados da década de 1970, Mulcahy fez videoclipes de sucesso para muitas bandas britânicas, como o ‘Video Killed the Radio Star’, do The Buggles (este clipe será importante em um post futuro, lembre-se dele). Lembram-se daquele clipe épico da Bonnie Tyler, o “Total Eclipse of the Heart”? Pois bem. Também é uma criação do Mulcahy.

Russel Mulcahy na década de 70 (acima, à esquerda ), nos anos 2010 (abaixo à esquerda), o vídeo produzido para o The Buggles (ao centro) e o famigerado/épico clipe de "Total eclipse of the Heart" da Bonnie Tyler (à direita)

         O programa Top of the Pops (do canal britânico BBC) começou a exibir vídeos musicais no fim da década de 1970, porém a emissora limitava o número de vídeos que poderiam ser exibidos diariamente. Eles perceberam que se um vídeo fosse interessante, as vendas de uma determinada música poderiam aumentar se os espectadores a vissem novamente na semana seguinte. Em 1975, a banda The Who lançou o filme Tommy, cuja trilha sonora era composta unicamente por músicas deles. O filme foi dirigido por Ken Russel e foi baseado no ‘rock-ópera’ homônimo. Ainda em 1975 foi lançado o mundialmente conhecido clipe de “Bohemian Rhapsody”, dirigido por Bruce Gowers , para que pudesse ser exibido no Top of the Pops. Alguns atribuem a esse clipe o início da ‘era MTV’.
 Em 1982, o lançamento do filme The Wall, dirigido por Alan Parker, transformou o duplo LP homônimo do Pink Floyd, de 1979, em um labirinto apocalíptico áudio-visual de letras, melodias, sons e imagens estilizados, sendo cultuado até os dias de hoje. Já o programa britânico, voltado ao rock, “The old Grey Whistle test” produziu um grande número de vídeos específicos para o programa durante as décadas de 70 e 80. Em 1980, David Bowie alcançou, pela primeira vez, a primeira colocação nas paradas britânicas em quase uma década, graças à perspicácia do diretor David Mallet com a direção do vídeo de “Ashes to ashes”.

Dois grandes musicais inspirados em álbuns musicais: Tommy (1975) e o aclamado  The Wall (1982)

         Enquanto isso, em terras americanas, o Video Concert Hall – com estreia em 1 de Novembro de 1979 – foi o primeiro programa de vídeos musicais exibido em todo o território yankee, quase 3 anos antes da MTV. Posteriormente, outro programa, também antecessor a MTV, também passou a exibir videoclipes. O Night Flight (com estreia em 5 de Junho de 1981) era um programa de variedades  do canal USA Network. Lá eram exibidos documentários, comédias stand up, filmes de baixa publicidade (ou filmes B), curtas e, claro, videoclipes, que passaram a ser exibidos como uma forma de arte e não como mera ferramenta de divulgação para artistas. Esse programa durou até 1988 e foi contemporâneo a MTV (que estreou em 1 de Agosto de 1981, quase 2 meses depois da estreia de Night Flight). Esse programa era uma espécie de MTV sem frescura: se a MTV censurava clipes, o Night Flight mostrava; se um clipe era banido da MTV, lá estaria o Night Flight pra salvar os mais curiosos. Para uma pequena lista de vídeos censurados pela MTV estadunidense podemos citar "Body language" do Queen (devido a supostas conotações homoeróticas), “Girls on Film”  do Duran Duran (que possui mulheres com seios à mostra durante uma luta) e “Girls, Girls, Girls”  do Mötley Crüe (por mostrar mulheres seminuas dançando). Alguns clipes eram exibidos apenas a madrugada, como If I could turn back time da Cher, em que ela usa uma roupa, digamos, reveladora.

Os canais de videoclipes dos Estados Unidos: Video Concert Hall (1979), Night Flight (1981) e MTV (1981)

A comédia musical de horror de 1975
Esse era um programa televisivo muito à frente de seu tempo. Se hoje há enxurradas de filmes-paródia, parte dessa história também está lá, nesse programa, que possuía quadros em que se produziam paródias de filmes do início do século passado. Além disso também exibia documentários Cult (como o “Ladies and Gentlemen, The Fabulous Stains”, que falava sobre 3 adolescentes que montaram uma banda punk feminina, só pra citar um bom exemplo) e filmes como o aclamado “The Rocky Horror Picture show”. O programa foi uma ótima opção para os espectadores daquela época, por oferecer uma programação diferenciada. Muito dizia-se que o diretor do programa, Stuart Samuels, possuía doutorado na história das ideias, ao querer compilar vídeos de maneira temática de maneira que eles pudessem se intercomunicar e que permitissem os espectadores tirar suas próprias conclusões sobre os vídeos. Talvez não à toa, Samuels merecesse a alcunha de ‘Doutor em História das ideias’, visto que ele foi professor de História na Universidade da Pensilvânia, deu aulas nos seminários anuais do Festival de Cannes e que tenha a autoria de um livro clássicos filmes Cult, entitulado Midnight Movies (que possui um documentário homônimo de 2005, que foi exibido no festival de Cannes daquele mesmo ano) que fala sobre filmes gore de baixo orçamento.
O Night Flight durou até 1988, sendo ressuscitado em 1990, até ter sua morte definitiva decretada em 1996. Eles nunca se consideraram rivais da MTV, ainda que eles passassem vídeos censurados pela mesma.

O grande Night Flight teve seu fim, mas não os videoclipes. A MTV continuou e prosperou na década de 80 ao consolidar os patamares dos videoclipes, e nos anos 90 ao espalhar seus tentáculos mundo afora. Mas isso ficará para o próximo post...


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Gravidade - Tess Gerritsen


 Dentre todas as pessoas que já conheci na vida, meu pai é a pessoa que mais lê. A mesa da sala dele vive lotada de livros, coisa linda de se ver. Em geral, ele comenta muito pouco comigo sobre os livros que está lendo, talvez por nossos gostos não serem tão parecidos, mas certa vez ele me mostrou este Gravidade, de Tess Gerritsen, e me garantiu "você gostaria bastante deste aqui". Passou algum tempo, mas finalmente li o volume. E não é que é adorei mesmo o dito cujo? O livro é uma ótima combinação de gêneros. A princípio é um thriller médico, mas com contornos de uma história policial e elementos de ficção científica, principalmente por se passar, em grande parte, na Estação Espacial Internacional, a ISS.
A autora norte-americana, filha de imigrantes chineses, é formada em medicina pela Universidade da Califórnia, por isso boa parte de seus livros é composta por thrillers médicos como este. Sua primeira publicação foi o conto "On Choosing the Right Crack Seed" que ganhou o primeiro prêmio em um concurso promovido por uma revista. Seu romance de estreia saiu em 1987 e desde que alcançou sucesso como escritora ela tem se dedicado apenas a isso, deixando a carreira como médica de lado.
 A primeira analogia que me veio a cabeça ao ler Gravidade foi "e se o Dr House estivesse em Alien, o oitavo passageiro?". Guardadas as devidas proporções é exatamente esta a proposta de Gravidade, mas ao invés do famoso ranzinza e sua equipe, o livro traz como personagens principais os médicos Jack McCullum e Emma Watson, um ex-casal. Ambos os personagens fizeram treinamento na NASA, mas apenas Emma conseguiu de fato se tornar uma astronauta, uma vez que Jack já teve pedra no rim, uma condição médica que o impossibilita de permanecer em microgravidade segundo as normas da agência espacial. A história começa com a ida da Dra Watson à ISS, onde ela logo enfrenta uma grande crise quando um de seus companheiros adoece gravemente e ela, como médica à bordo, deve, além de cuidar de seu paciente, tomar importantes e difíceis decisões.
A simpática Tess Gerritsen
Assim como os mestres Asimov e Clarke, Gerritsen tenta ancorar sua história em ciência real, tendo em sua vantagem o fato da mesma se passar nos dias atuais, não em um futuro distante, e em veículos e estações que existem de verdade. Cada capítulo é recheado de informações interessantíssimas sobre a vida dos astronautas e todo dia-a-dia da NASA, acredito até ter sido este o aspecto que mais me fascinou na obra. Mas diferentemente das histórias contemplativas e filosóficas destes autores clássicos da ficção científica, Tess conduz aqui uma história frenética, lotada de cenas empolgantes, desde o primeiro capítulo, que se passa em submarino, até sua conclusão. Assim, o livro não é indicado apenas para nerds aficcionados por ficção científica hard, mas também para quem gosta de aventuras com correrias contra o tempo, mistérios e desafios a serem superados pelos personagens.
A autora consegue transmitir todo o desenvolvimento da ação de forma clara e fácil e as imagens se formavam automaticamente na minha mente. O livro é um roteiro pronto para o cinema, lendo-o me sentia como vendo um filme durante todo o tempo. Acredito que o único motivo da publicação não ter sido levada às telas é o fato de que os ônibus espaciais, tão importantes no desenvolvimento da história, foram aposentados poucos anos após seu lançamento (1999). Ainda assim, se eu fosse produtor de Hollywood, apostaria fácil em uma adaptação para as telonas.