terça-feira, 24 de setembro de 2013

Rock in Rio 2013

Não vou ficar aqui esmiuçando cada show, cada setlist ou falar mais do mesmo. Muito já se comentou e ainda se comenta sobre cada show. Pretendo, com esse post, apenas fazer algumas observações quanto ao festival. 
Para mim esse Rock in Rio foi diferente e, até mesmo, especial. Não pude estar lá, fisicamente, para acompanhar as bandas que eu gostaria de ver, mas aproveitei cada instante e cada pedacinho pelo streaming, com direito a um chat via gtalk com meu amigo que está morando em Belo Horizonte e minha amiga que, até então, estava na Austrália, sendo que eu estava em Campinas (SP).


Do que vi no Rock in Rio (RiR), constatei algumas coisas: 

Slayer. Sofrendo com os engenheiros de som no Rock in Rio. 
1 - O RiR é um festival fantástico e com uma estrutura incrível, mas ainda precisa superar problemas como mixagem (como ocorreu com o Slayer) e em que palco colocar as bandas. Não só nós reclamamos de algumas coisas como colocarem o Kiara Rocks no palco mundo e o Rob Zombie no palco Sunset (que é bem menor, diga-se de passagem), mas teve até banda que reclamou disso. O Destruction, que tocou no último dia do festival, não gostou de ter que dividir o palco com o Krisiun ( e reclamou publicamente quanto a isso). Porém a banda brasuca soube dar uma 'amaciada' nos alemães e os chamaram pra tocar Total Desaster, do próprio Destruction

Offspring. No palco SUNSET !?

2 - As contradições dos próprios organizadores. O palco Sunset é, alegadamente, um palco para participações entre bandas. Contudo, como explicar o Offspring e o Rob Zombie, que tiveram shows solo?  
Verdade seja dita: ambos mereciam o palco Mundo. 


GHOST BÊ-CÊ ??


3 - Realmente o público brasileiro não está pronto para coisas novas. O Ghost que tem músicos bons e que tem todo um apelo teatral fez um bom show, que não foi apreciado pela enorme maioria do público presente (ainda que houvesse pessoas com camisetas da banda ou, até mesmo, um chapéu papal com o símbolo da banda sueca). Em contrapartida, o Kiara Rocks, um ilustre desconhecido para o público, conseguiu ter seu nome gritado ao fim do show depois de uma técnica eficiente de ganhar a multidão com um cover matador de 'Ace of Spades' e de ainda apelar chamando duas figuras importantes para alguns que estavam ali assistindo o show: o Marcão (ex-guitarrista do Charlei Brown Jr) e o Paul Dianno (ex-vocalista do Maiden). 
O Kiara Rocks pegou em dois pontos ao chamar as participações especiais: primeiro, mexeram com os sentimentos de quem, pela segunda vez em um mesmo ano, se sentiu órfão de uma banda que gostava; segundo, exaltaram as lembranças mais saudosistas de quem tem grande empatia pelo primeiro vocalista do Iron Maiden, que se apresentaria mais tarde, inclusive tocando Wrathchild, uma das músicas mais icônicas da donzela de ferro. Tudo para cativar o público. E deu certo. Cheat mode: On. 

Tenho até mesmo a ousadia de dizer que o visual do vocalista Cadu Pelegrini deu uma leve chupinhada no visual do vocalista do Motörhead, Lemmy Kilmister, que é a única pessoa que consegue usar um chapéu de cowboy sem ser crucificado por isso. Digo mais, até mesmo o vídeo de Criswell predicts parece ter sido tirado do chapéu, mimetizando a fala de Winston Churchill ao introduzir Aces High do Iron Maiden. Pra quem não sabe, o vídeo usado na introdução ao show do Kiara Rocks fazia parte de um programa do canal 13 de Los Angeles  em que um ex-estudante de história, com dons mediúnicos, voz marcante e smoking fazia previsões errôneas. Algo a ser pensado, não é mesmo? 


Particularmente, achei uma pena o Iron Maiden não ter chamado o Dianno pra cantar uma música durante seu show. Seria uma participação sem antecedentes: dois vocalistas do Iron Maiden presentes no mesmo show. Bem, eles devem ter tido fortes motivos para não fazê-lo. 
No fundo, a tática usada pela banda foi feita para evitar o efeito 'Carlinhos Brown' no dia do metal. Deu certo. 

Cade Pelegrini e seu Kiara rocks

4 - Ainda que algumas escalações tenham sido desastrosas e muitos erros tenham ocorrido, percebi que a organização do RiR está atenta às novidades do Rock, metal e afins. Chamar o Ghost foi uma aposta arriscada, e eu gostei disso. Chamar o Avenged Sevenfold, ainda que controverso, também foi uma aposta arriscada... mas, ironicamente, mais acertada do que comparada aos suecos, visto que o público vibrou muito mais ao som dos californianos do A7X. 
Apostar na performance dos alemães do Destruction e dos brasileiros do Krisiun foi pensar de uma forma mais metal e, parafraseando um post que vi tempos atrás, de 'injetar sangue nos olhos de dobermans raivosos'. Quem estava lá deve ter gostado (e pogado) muito. 

Papa Emeritus II e seus nameless ghouls: 'realizando o batismo das trevas' no Rock in Rio 

5 - Algumas misturas podem se sair muito melhor do que imaginamos. Quem diria que o show do Zépultura (uma protocooperação de Zé Ramalho e Sepultura) seria tão bom!!! Deixou gosto de quero mais. Não duvidaria se esse show gerar ainda mais frutos dessa parceria. 

Zépultura. A busca pelo ouro terminou. Nós o achamos. 


6 - Bruce Springsteen. Ainda não vi sua performance no RiR na íntegra. Mas só de saber que houve tamanha sensibilidade de tocar Sociedade alternativa para um público que está cada vez mais acostumado a ouvir músicas em inglês é, no mínimo, inspirador. É reconfortante. É lembrar que temos, sim, nossas jóias musicais, e quem está fora consegue reconhecer isso melhor do que nós mesmos. Sociedade alternativa foi único e lindo. Vi o vídeo da apresentação em São Paulo e fiquei extasiado. 

Bruce Springsteen: enlouquecendo a sociedade alternativa

MAIDEEEN, MAIDEEEN! .... ME-TALLICA! ME-TALLICA!

7 - Nós precisamos urgentemente aprender que gritar o nome de uma banda durante o show da(s) banda(s) anterior(es) em nada adianta. Isso não fará que a banda que está ali tocando pare de tocar e que, imediatamente, o público tenha seus desejos atendidos. Gritar "Maiden" durante o show do Slayer ou gritar "Metallica" durante o show do Ghost não é apenas inútil: é desrespeitoso. Por mais que o público estivesse ansioso, a impressão que isso passa é "Cai fora daí e coloca o 'Iron'/'Metallica' pra tocar". Pra uma banda não há nada pior do que não agradar ao público para o qual está tocando. É fato de que a maioria esmagadora estava ali para ver os headliners. Porém seria muito mais interessante gastar energia ouvindo e aproveitar o que está sendo ali oferecido ao invés de gastar saliva gritando o nome de uma banda que só vai tocar depois de horas, seguindo um cronograma que não mudará, independentemente do quanto o nome dessa banda seja urrado. 
Sim, somos apaixonados por nossas bandas do coração, mas é como diz aquele velho ditado "Se você não tem nada de bom para falar de alguém, melhor é não falar nada". Para shows vale também. Guarde esforços para a banda que você gosta e seja feliz. 

...

Algumas coisas poderiam ser repensadas no Rock in Rio. Ao invés de considerar apenas colocar bandas com participações especiais no palco Sunset, a organização do RiR poderia pensar no impacto que cada banda tem no público. Se o Ghost (ainda pouco conhecido no Brasil) tivesse tocado no palco Sunset, ao invés do palco Mundo, talvez o impacto teria sido outro. Quem realmente gosta dos suecos, teria ido ao Palco Sunset e ficaria até um pouco mais próximo da banda. 
Se a organização queria uma banda nacional para tocar antes do Slayer, por que não escalaram o Krisiun ao invés do Kiara Rocks? Faria muito mais sentido. 


Dentre erros e acertos, acho que o RiR teve um saldo positivo. Provavelmente o Medina vai continuar apanhando e continuar cometendo os mesmos erros para 2015. No próximo RiR vai continuar havendo MPB, Pop e coisas não-rock e não-metal. Mas, nesse sentido, pouco importa. Afinal, quem é que vai se importar com Ivete, Justin ou Alicia Keys? "Hoje dia de rock, bebê!". 


... e que venha o Rock in Rio 2015. 

3 comentários:

  1. É isso aí, cara, falou tudo!
    A ideia original do Palco Sunset já foi pras cucuias, então pq não repensá-lo, né?
    Ghost é uma das bandas que mais gosto ultimamente e achei ridículo eles ocuparem o palco ppal enquanto um cara com muito mais história e uma base de fãs imensamente maior como o Robbie Zombie ficar no Sunset.
    Teria sido melhor pra todo mundo se tivessem invertido a ordem das bandas. Ghost e seus fãs teriam fcado bem mais confortáveis.
    E o Offspring então? Aposto que naquele dia teve uma grande porcentagem de fãs que foi só pra ve-los.
    Alias, li que os maiores públicos do Sunset foram Offspring e Helloween.
    O caso Kiara é um dos piores. Uma banda que deve ter um padrinho muito bom. Ngm nunca tinha ouvido falar deles e eles ocuparam o palco principal. E numa atitude covarde foram só uma banda cover de luxo. Deu certo, mas continuam irrelevantes. Fizeram duas bandas de extrema importância como Destruction e Krisiun dividirem um palco e um horário, deixando bandas importantes e históricas como Helloween e Viper no palquinho pra um bando de ilustres desconhecidos terem seus 5 minutos de fama tocando música dos outros... não dá pra entender.
    Outra porcaria são essas "homenagens" que fazem a músicos mortos. Chega a dar vergonha alheia.

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  2. Acho que podiam pensar o palco sunset como um espaço alternativo. Podiam deixar o Sunset realmente só pros grandes e o Sunset pra bandas novas/independentes. Nem sempre dá pra usar o palco para "misturar" artistas, como provou o show do Destruction/Krisiun.
    Posso opinar mais quanto a rock e metal, que é oq tenho mais conhecimento:
    Nesse ano teria sido mais legal o Ghost no Sunset. O Kiara tb! De repente teriam tido mais colhões e mostrado mais de seu próprio trabalho.
    O Medina tem headliner que sozinhos já colocam 85 mil pessoas no evento e já tem esse palco menor. Pq nao se arriscar mais?
    Colocar no Sunset, num dia do metal futuro, bandas como Baroness, Red Fang e Hellbenders, por exemplo.

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  3. Danilo, suas indicações ao palco mundo são ótimas! Talvez o problema de transformar o palco Sunset em um espaço mais alternativo seria justamente o de atrair pouco público, principalmente em horários próximos aos das apresentações no palco Mundo. Alguns bons nomes de peso podem ser cogitados. Acho que aliado a isso, mantenho minha posição: o critério deveria ser mais pelo impacto da banda no público do que meramente cooperações entre bandas.

    Eu adoraria ver um show do Hellbenders no palco Sunset =)

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