quarta-feira, 12 de junho de 2013

Black Sabbath - 13 (2013)

"Desde que saí do Sabbath, diversos grandes músicos passaram pela banda. Mas ninguém toca o Sabbath como o Sabbath." disse Ozzy Osbourne em uma entrevista. Nada poderia estar mais certo. Com todo respeito à quem curte mais alguma outra fase da banda, o Black Sabbath original é que foi a banda que vai ficar na história. Com a formação Ozzy, Geezer, Ward e Iommi a banda lançou dezenas de clássicos imortais, redefiniu padrões e deu bases para a fundação de inúmeros estilos da música pesada. Em outros momentos o BS foi uma boa banda de heavy metal, mas foi com esse quatro garotos de Birminghan tocando seu blues pesado que o grupo fez suas obras primas. 
 
Geezer, Ozzy e Iommi
Podemos analisar 13 de três formas: é uma qualidade incrível para uma banda que não fazia nada junta desde 1978. Ou, ainda: é um trabalho morno para quem já lançou álbuns como o Master of Reality e Vol 4. Não à toa tenho visto dois tipos de reação ao trabalho, gente o descrevendo como a oitava maravilha do mundo, enquanto outros o massacram. Por fim, podemos analisar o álbum como se fosse o primeiro álbum de um novo grupo. Nesse caso, qual seria a reação da crítica e do público, teria tanta gente empolgada assim? Acho que dá pra chegar à um meio termo entre essas análises. 

Na primeira análise, se levarmos em conta o tempo desde a última vez que os 3 músicos estiveram em estúdio juntos o álbum pode ser considerado um sucesso. Claro que (provavelmente)  não tem nenhuma música que vai figurar no olimpo do rock juntamente com Iron Man ou Sabbath Bloody Sabbath, entretanto o grupo aproveitou muito bem a oportunidade e este é um (provável) fechamento de discografia muito mais digno do que os fraquíssimos Technical Ecstasy e Never Say Die. Se não vai ocupar o mesmo lugar de honra na história do rock que os quatro ou seis primeiros discos dos caras, ao menos 13 traz um bom conjunto de canções. Boas suficiente para ser o melhor álbum dos caras desde Heaven and Hell, de 1980, talvez o único sem a formação clássica que seja digno de nota.
Brad Wilk

Já a comparação direta com os clássicos é até injusta. O Black Sabbath dos anos 70 está dentre as mais geniais e influentes bandas de rock da história. A saída foi o auto-plágio. Desta forma, a escolha do produtor Rick Rubin foi acertada. Dá pra dizer que o cd está para os ingleses como o Death Magnetic está para o Metallica. Um monte de ideias usadas nos seus tempos áureos recicladas. Ou vai dizer que o começo e a estrutura de End of the Beginning (e mesmo de God is Dead?) não é idêntica à música que nomeia o grupo? E o que seria Zeitgeist se não uma Planet Caravan parte 2? Faça um exercício, tente cantar a letra de NIB enquanto ouve Loner. A faixa nada mais é do que uma irmã mais nova do clássico. Usando um pouco, bem pouco, de imaginação, é possível encontrar ecos do passado em todas as faixas. Por sorte este trabalho tem mais fôlego do que aquele dos americanos. As músicas soam mais como grandes homenagens do que como marmita requentada. Aliás, não entendo o porquê God is Dead? ter sido o primeiro single. É facilmente a faixa mais fraca do álbum. Apesar de seguir a cartilha da banda em seu ritmo arrastado, ela me soa mais tediosa do que tenebrosa (ainda que seus riffs finais sejam excelentes). Fiquei pensando que se tivessem deixado apenas a metade final da música ela seria bem mais interessante e poderosa. O outro clone de Black Sabbath, End of the Beginning é bem melhor. Ainda que seus primeiros três minutos sejam pura cópia, sua parte final é bastante empolgante.
Os 3 Sabbathicos com Rick Rubin

Por fim, o olhar sobre 13 como se este fosse o debut de uma banda desconhecida. Temos aqui um bom conjunto de canções, em especial no que se refere à guitarra. Iommi é o mestre, não tem jeito. Seus solos estão incríveis. Parece que foram gravados nos anos 70 e estão sendo usados agora. Além disso, ele mostra que ainda tem alguns ótimos riffs na manga.  Geezer sempre foi um dos meus baixistas prediletos e continua mostrando toda sua técnica e peso. Uma pena Bill não ter participado das gravações, mas seu substituto, Brad Wilk, fez um ótimo trabalho. Já a voz do Ozzy é só um fiapo do que era. Nem o mais die hard dos fãs pode dizer que o comedor de morcego foi algum dia um excelente cantor, mas ao menos em juventude ele tinha um vigor que os anos de abusos levaram embora. O timbre inconfundível está lá, o carisma também, mas falta um pouco de emoção em suas linhas, parece que ele está desanimado, cantando enquanto pensa nos seus problemas com a Sharon. No conjunto da obra acredito que esta "nova banda" conseguiria sim atrair alguma atenção. Não haveria tantas odes de amor ao álbum, mas tenho certeza de que arrebanhariam um número considerável de fãs e boas críticas. Principalmente devido às duas grandes músicas do cd, que são Live Forever e Damaged Soul. A primeira um vigoroso heavy metal com o melhor riff do trabalho e a segunda um delicioso blues cheio de solos e gaitas. Nessas duas músicas consegui sentir a magia Sabbathica chegando bem perto da força dos longínquos anos 70.

As três músicas bônus são todas muito boas, até é engraçado terem ficado de fora, sendo  melhores do que a maioria das "oficiais". Enquanto Peace of Mind e Pariah são faixas que conseguem remeter à fase clássica soando, ao mesmo tempo, modernas, Methademic é uma desgraceira da melhor qualidade. Interessante notar que são justamente nestas que estão os melhores momentos de Ozzy.  Acredito que se tivessem seguido nessa direção o resultado final seria bem melhor. Entretanto, é fácil entender o porquê das 3 músicas terem ficado de fora da edição "normal" do cd, elas são conceitualmente bem diferentes das demais. Essas faixas não cometem, por exemplo, o erro das anteriores, de serem mais longas do que deveriam.
Hora do chá

Resumindo:

Ao meu ver, são três os grandes problemas do álbum: a já discutida falta de empolgação de Ozzy, a duração das músicas, muitas delas são muito maiores do que deveriam, e o auto-plágio. Também faltaram alguns refrãos mais poderosos. Dear Father, por exemplo,  é uma música com ótimas guitarras, mas com um refrão que dá uma certa broxada.

E como pontos positivos: grandes riffs e solos e ... o auto-plágio! Em sua maioria as músicas dão aquela sensação de "já ouvi isso antes", mas sejamos honestos, alguém queria realmente que o Sabbath fizesse algo diferente nessa altura do campeonato? 13 não é apenas a continuação de uma discografia, é um retorno depois de mais de três décadas. Era difícil se arriscar (e acertar). Neste ponto a banda acertou o tom. Musicas com uma pegada setentista e a produção moderna. Seria irreal esperar uma evolução do BS, surgindo em 2013 como se tivesse passado apenas um ou dois anos de Volume 4.

Pensando bem, se olharmos o período entre o primeiro e este último álbum dos ingleses, muitas boas bandas de heavy metal surgiram, algumas poucas conseguiram chegar perto, menos ainda se igualaram (Iron Maiden, Metallica...talvez mais uma ou duas...), mas ninguém conseguiu superar os pais. Um Black Sabbath recauchutado e sem brilhar, muito longe do que já fez de mais incrível, é melhor do a gigantesca maioria das bandas atuais.

Álbum: 13
Artista: Black Sabbath
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Vertigo, Universal

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Alice in Chains - The Devil Put Dinosaurs Here (2013)

Quando foi anunciado o retorno do Alice in Chains com um novo trabalho e um novo vocalista todos os fãs experimentaram uma enorme apreensão. Poderia a banda sobreviver sem seu icônico vocalista Layne Staley? Quem poderia substituir à altura uma figura tão talentosa e carismática? O vocalista e guitarrista Willian DuVall entrou na banda e os caras tiveram com Black Gives Way to Blue um excelente recomeço. Aquele álbum foi pensado e executado como uma reapresentação da banda e do novo integrante, investindo em músicas que buscavam elementos passados e consagrados de forma bastante convincente. Desta forma, o cd de 2009 foi mais uma visita aos álbuns passados com uma roupagem nova do que uma evolução da banda, que vinha agregando novos elementos e se alterando em cada novo trabalho. A missão foi cumprida com louvor, assim eu imaginava (e esperava) que a banda voltaria à sua "metamorfose ambulante" em seu segundo álbum da nova fase. Entretanto, o que o AiC fez em The Devil Put Dinosaurs Here foi lançar uma espécie de Black Gives... parte 2.


Dá pra dividir o álbum em 3 grandes blocos distintos: As músicas pesadas, baseadas em riffs fortes de guitarra e andamentos moderados de bateria; as músicas densas e depressivas, arrastadas e com dedilhados tristes; e por fim as sempre presentes baladas. 

O cd abre com 3 pauladas: Hollow, Pretty Done e Stone. São todas faixas muito boas, entretanto soam de forma muito semelhante entre si. É até curioso que a banda tenha escolhido colocar essas músicas em sequência, o que acaba por tirar um pouco do impacto individual de cada uma. Dá a impressão que os músicos encontraram uma fórmula e vão repeti-la até o fim. Ao ouvir esse primeiro bloco tive a impressão de que o AiC havia se tornado uma espécie de AC/DC do grunge.

Voices é a primeira balada do disco. Bem no estilo da Your Decision do álbum anterior, porém sem o mesmo frescor. Assim como a Scalpel, que tem uma pegada meio country em seu arranjo. Ambas não se comprometem e não se destacam. Perto da grande experiência em baladas da banda essas duas músicas são bastante fracas.  Já a última faixa, Choke, é de longe a música mais emocionante do trabalho. Belas melodias vocais e arranjos. Adoraria ouvi-la sendo tocada em um set acústico ao lado de Nutshell e Over Now.

A faixa título vem naquele estilo Love Hate Love, com dedilhados e climas pesados. Gosto bastante do refrão, mais pela letra do que pelo ritmo, mas também não tem nada nela que a faça ficar grudada na memória. Lab Monkey mantém a pegada sombria, com algumas partes mais agitadas e um belo solo. Se destaca mais do que a anterior e o vocal de DuVall finalmente ganha mais destaque.

Low Ceiling é a faixa mais hard rock do trabalho, sendo a única que não tem pares no mesmo. É também a que mais me lembrou os trabalhos solo do guitarrista Jerry Cantrell. Uma faixa sem muita inspiração, mas que traz um solo de guitarra muito bonito, que a faz valer a pena.

Breath on a window tem um ótimo riff e um ritmo mais rápido do que as outras do seu estilo no cd. A variação de andamento e a guitarra do final da musica tornam ela mais épica ainda. Uma das melhores do trabalho, sem dúvidas. Já Phantom Limb volta a fórmula das 3 primeiras, guitarras e bateria pesadas, tendo o melhor riff principal de todo o álbum. Esta deve ser a música com maior destaque do vocal de DuVall. Aliás, acho uma pena que ele não apareça mais. Gosto da voz do Jerry e da dinâmica das duas vozes juntas, mas o vocal mais agudo e agressivo do "novo" vocalista confere mais emoção às faixas.

Hung on a Hook é a "Down in a Hole" da vez. Aqui DuVall canta os versos de forma muito diferente e interessante, em tons baixos, para explodir nos refrãos. Do bloco das músicas mais arrastadas é a mais criativa e minha preferida.

The Devil... é mais um bom trabalho dos caras. Não é melhor do que os álbuns clássicos, e talvez nem os próprios músicos tenham a pretensão de tentar superar aqueles registros. O grande pecado do grupo foi escolher fórmulas prontas e “fáceis” ao invés de se arriscar, como a banda fazia em seus primeiros anos. O AiC de hoje é uma grande banda de hard rock, sem dúvida dentre as melhores do estilo em atividade, mas que aparentemente não consegue mais sair de sua zona de conforto. Lugar que os trabalhos com Layne nem chegaram a conhecer.



Álbum: The Devil Put Dinosaurs Here
Artista: Alice in Chains
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Capitol