quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

TOP 2013

Qual a finalidade de se fazer essas listas? Bem, não posso responder por outras pessoas, mas para mim é porque acho divertido pensar sobre tudo o que vi, li e ouvi durante o ano.
Melhor ainda é ler a lista de outras pessoas. Dá pra descobrir um montão de coisas bacanas que deixamos passar em branco, por um motivo ou outro (em geral desconhecimento mesmo).
Sem mais delongas, aí vai meu TOP 2013:


10. Black Angels - Indigo Meadow: Explodiu minha mente desde os primeiros segundos de audição. Ótima mistura de surf music com garage rock e uma boa dose de psicodelia, além de deliciosas referências ao The Doors. Eu já havia ouvido outros álbuns dos caras e até presenciado um show deles. Sempre gostei da banda, mas esse foi de longe o álbum que mais me cativou.


9. Vista Chino - Peace: Pra quem não sabe, o Vista Chino é o Kyuss sem o Josh Homme. Antes do lançamento do cd ouvi por aí que "Kyuss sem Josh é o mesmo que o Sabbath sem o Iommi". Faz sentido. Porém, o guitarrista Bruno Fevery deve ser um clone do líder do Queens. Os riffs, solos, timbres e tudo mais que saem de sua guitarra parecem ter sido gravadas por Homme nos anos 90. Claro, eu sou contra cópias, acho que banda boa, em regra, é banda original. Mas quem mais poderia copiar o Kyuss senão o próprio Kyuss (ou pelo menos 3/4 dele)?
Fato é que Peace é um cd inteligente. Conseguiu resgatar toda a essência da banda, sem cair no auto-plágio descarado. Soa como se tivesse sido gravado pela banda original e saído 2 ou 3 anos depois do ...And the circus leave the Town. É fantástico? Será um clássico como Blues for the Red Sun e Welcome to Sky Valley? Certamente não. Mas mantém o legado do Kyuss intacto, ainda que com outro nome.


8. Seasick Steve - Hubcap Music: Ah, o véio mendigo! Este é seu álbum mais roqueiro até agora. Provavelmente por contar com ninguém menos do que John Paul Jones no baixo. Nenhuma dessas músicas é o cúmulo da criatividade e Hubcap Music não vai mudar o mundo, porém a pegada dele é tão honesta e tão empolgante que não tem como não amar.




7. Jimi Hendrix - People, Hell and Angels: Não há mais o que se falar do mestre da guitarra. O impressionante é que "míseras" sobras de estúdio dele sejam tão sensacionais. People, Hell and Angels é uma lição de rock, blues e soul. 



6. Arctic Monkeys - AM: Já longe da época de "sensação da internet" os Monkeys (donos de um dos nomes de banda mais idiotas que já ouvi) lançaram esse ano seu álbum mais sóbrio e equilibrado (isso não quer dizer que eu tenha achado o melhor deles, meu favorito ainda é o Favorite Worst Nightmare). Não gostei de todas as músicas, na metade o cd fica um pouco irregular, entretanto, as músicas que são boas, são boas mesmo. 

5. Deep Purple - Now what: Todo mundo na ansiedade pelo Black Sabbath e o Deep Purple correu por fora e lançou o melhor álbum de banda clássica do ano. Na minha modesta opinião, é o melhor desde que Steve Morse entrou na banda, o primeiro, desde então, que eu colocaria ao lado de outros grandes cds (lps, aliás) que os caras já gravaram. Um dos grandes destaques é o tecladista Don Airey. O cara, mesmo substituindo ninguém menos do que John Lord, não se intimidou e matou a pau. Não só ele, é claro, a banda inteira está afiadíssima e conseguiram fazer uma sucessão de riffs, solos e melodias com a propriedade de quem é uma lenda viva do rock.


4. Nick Cave & The Bad Seeds - Push the Sky Away: Lento quase parando, denso, pesado (no sentido de clima, não no de guitarras), intenso, depressivo, lindo. O álbum é um pacote de emoções. Não tem como ficar impassível ouvindo belíssimas composições como Water's Edge, Jubilee Street ou Higgs Bóson Blues.













3. David Bowie - The Next Day: Esse surpreendeu todo mundo. A gente achando que o Bowie tinha se aposentado e ele vem e lança essa pérola. O álbum parece até uma coletânea, já que tem tantas músicas tão boas, cada uma ecoando uma fase do camaleão. É aquele tipo de trabalho tão bem feito e detalhado que o ouvinte descobre uma coisa nova cada vez que o escuta. Coisa linda. 













2. Ben Harper and Charlie Musselwhite - Get Up!: Uma pequena obra de arte. Não conheço muito do Ben Harper e, admito, menos ainda do Charlie. Por acaso acabei assistindo à apresentação da dupla no Rock in Rio neste ano e meu queixo caiu. O blues e o rock praticado pela dupla em Get Up! é algo acima do normal. Tudo na medida, som redondinho, simples e poderoso, feeling em níveis estratosféricos.  Tudo que um bom cd do gênero pede.














1. Ghost - Infestissumam - Redux: Se eu colocasse outro álbum em primeiro lugar não estaria sendo honesto comigo mesmo. Não, eu não acho que Infestissumam é o mais criativo ou inovador lançamento do ano, há outros nessa lista mesmo que estão muito a frente dele nestes e em uma série de outros quesitos. Porém, o que é curtir música? Em primeiro lugar (ao menos pra mim) é diversão. E ninguém me divertiu mais em 2013 do que o Ghost. Adoro tudo sobre a banda. O "mistério", o satanismo de botequim, o figurino, os videos... e principalmente, claro, a música.  Consigo, ao ouvir os suecos, sentir toda a rebeldia adolescente do heavy metal fluindo pelo meu corpo. O som da banda, já saudosista por definição, me traz uma série de recordações e sentimentos bons da época que eu usava preto da cabeça aos pés, mesmo que estivesse fazendo 40ºC à sombra. A medalha de ouro vai, sem dúvidas, pra esse cd.
Coloquei aqui a versão redux já que ela inclui os maravilhosos covers que também não saíram do meu mp3 player durante o ano.


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Alguns P.S.:
1- Não, não tem Black Sabbath, Alice in Chains, Queens of the Stone Age e outros medalhões. É simples, tem 10 (ou mais) álbuns que gostei mais do que esses. 

2- Quase lá: a disputa para entrar na lista foi grande. Em décimo também poderiam também ter sido os novos do Motorhead (provavelmente a unica banda do mundo com tanto tempo de estrada que nunca decepcionou), do Paul McCartney, do Deafheaven, do Cult of Luna... foi um ano com muita coisa legal.

3- Os melhores álbuns de outros anos que só descobri em 2014 foram o Locked Down do Dr. John (de 2012) e o auto-intitulado do Fever Ray (de 2009). Se lançados este ano, ambos teriam entrado facilmente no meu top 10 e o Locked Down disputaria o primeiro lugar com o cd do Ghost (e se eu refizesse a lista do ano passado ele ficaria em segundo).




sábado, 9 de novembro de 2013

Como Estrelas na Terra: Toda Criança é Especial (2007) "Taare Zameen Par"

Karina Pimenta

Já aviso que esse filme é um dos meus favoritos.

Produções indianas não são muito comuns do lado de cá do oceano. Não paramos para pensar que jamais chegam até nós simples propagandas como trailers de filmes indianos logo anteriormente ao filme que estamos prestes a assistir nos cinemas, ou mesmo chamadas para a pré-estreia na televisão, no intervalo da novela. Não conhecemos os atores, ou os galãs, ou aquelas modelos que viram atrizes. Nem nas locadoras encontramos os dvd's. E a pérola Como Estrelas na Terra veio a mim livre e despido de quaisquer preconceitos, onde eu desconhecia até mesmo o diretor, a figura que mais influencia meu pré-julgamento. Desconhecia até mesmo os atores principais.


Após um bate-papo muito bacana sobre dislexia, uma prima psicóloga me recomendou fortemente o filme para ajudar a rebater minha ignorância no assunto. Pronto, isso era tudo o que eu sabia sobre ele.

Com o desenrolar do filme conhecemos Ishaan, um adorável garotinho de 8 anos, portador de uma vívida imaginação e um mundo que ele expressa por meio de muitas cores de tinta guache e lápis de cor. Seu mundo é singelo, tranquilo, caminha com passos lentos, e ele aproveita cada instante em seu brilho. Mesmo atrasado para a escola, oferece toda sua atenção a cachorrinhos na rua, ou espera o momento certo para fisgar um peixe em mais uma de suas brincadeiras.


Toda essa parcela lúdica do filme se desenvolve ao redor do personagem de Ishaan. Em contrapartida, o aspecto perturbador permeia-se ao seu redor no chamado mundo dos adultos, que começa logo no início do filme, em uma passagem acelerada, barulhenta, um jogo de cenas rápidas, com professores lendo as notas dos alunos em voz alta enquanto Ishaan se sente humilhado diante de seu desempenho cognitivo.
Em diversas passagens temos Ishaan sendo fisgado de dentro de suas espaçonaves e planetas de volta para a realidade. 

O contraste entre a calmaria de si próprio com a eletricidade do exterior faz menção a sua dificuldade conseguir acompanhar o ambiente frenético que o cerca. Ele se torna o aluno diferente, aquele que fica para trás na sala de aula, o único que não sabe ler. Ishaan se esconde atrás de piadas e até mesmo de rebeldia.

Tanto os pais de Ishaan quanto os seus professores deixaram que o problema cognitivo passasse despercebido, e ninguém atentou para a possibilidade da dislexia. A criança foi se sentindo cada vez mais diminuída, e a sua auto-estima foi sendo destruída com os passar dos dias. Ishaan já não pintava mais, já não falava mais, vivia com medo. Só mais tarde um professor de artes consegue entender o padrão de seus erros gramaticais típicos da dislexia, e então tenta salvá-lo, lutando para tirar Ishaan de seu comportamento depressivo.

O professor de artes de Ishaan é o diretor do filme, Aamir Khan

Todos os elementos que compõe o filme foram escolhidos a dedo. A sensibilidade da trilha sonora escolhida, envolvente, a fantástica atuação das crianças, a fotografia impecável. O filme tem inumeros aspectos que o tornam leve e gostoso de ver. As 2h40 minutos de filme correm que vc nem percebe. O enredo, muito bem construído, coordena de forma belíssima toda essa temática pedagógica da dislexia dentro da sala de aula com uma envolvente história de superação.



Título: Como Estrelas na Terra: Toda Criança é Especial/ "Taare Zameen Par" (original)
Lançamento: 2007
Direção: Aamir KhanAmole Gupte 
Duração: 163 minutos

IMDB:

Link do filme (com legendas em inglês) no YouTube:



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Rock in Rio 2013

Não vou ficar aqui esmiuçando cada show, cada setlist ou falar mais do mesmo. Muito já se comentou e ainda se comenta sobre cada show. Pretendo, com esse post, apenas fazer algumas observações quanto ao festival. 
Para mim esse Rock in Rio foi diferente e, até mesmo, especial. Não pude estar lá, fisicamente, para acompanhar as bandas que eu gostaria de ver, mas aproveitei cada instante e cada pedacinho pelo streaming, com direito a um chat via gtalk com meu amigo que está morando em Belo Horizonte e minha amiga que, até então, estava na Austrália, sendo que eu estava em Campinas (SP).


Do que vi no Rock in Rio (RiR), constatei algumas coisas: 

Slayer. Sofrendo com os engenheiros de som no Rock in Rio. 
1 - O RiR é um festival fantástico e com uma estrutura incrível, mas ainda precisa superar problemas como mixagem (como ocorreu com o Slayer) e em que palco colocar as bandas. Não só nós reclamamos de algumas coisas como colocarem o Kiara Rocks no palco mundo e o Rob Zombie no palco Sunset (que é bem menor, diga-se de passagem), mas teve até banda que reclamou disso. O Destruction, que tocou no último dia do festival, não gostou de ter que dividir o palco com o Krisiun ( e reclamou publicamente quanto a isso). Porém a banda brasuca soube dar uma 'amaciada' nos alemães e os chamaram pra tocar Total Desaster, do próprio Destruction

Offspring. No palco SUNSET !?

2 - As contradições dos próprios organizadores. O palco Sunset é, alegadamente, um palco para participações entre bandas. Contudo, como explicar o Offspring e o Rob Zombie, que tiveram shows solo?  
Verdade seja dita: ambos mereciam o palco Mundo. 


GHOST BÊ-CÊ ??


3 - Realmente o público brasileiro não está pronto para coisas novas. O Ghost que tem músicos bons e que tem todo um apelo teatral fez um bom show, que não foi apreciado pela enorme maioria do público presente (ainda que houvesse pessoas com camisetas da banda ou, até mesmo, um chapéu papal com o símbolo da banda sueca). Em contrapartida, o Kiara Rocks, um ilustre desconhecido para o público, conseguiu ter seu nome gritado ao fim do show depois de uma técnica eficiente de ganhar a multidão com um cover matador de 'Ace of Spades' e de ainda apelar chamando duas figuras importantes para alguns que estavam ali assistindo o show: o Marcão (ex-guitarrista do Charlei Brown Jr) e o Paul Dianno (ex-vocalista do Maiden). 
O Kiara Rocks pegou em dois pontos ao chamar as participações especiais: primeiro, mexeram com os sentimentos de quem, pela segunda vez em um mesmo ano, se sentiu órfão de uma banda que gostava; segundo, exaltaram as lembranças mais saudosistas de quem tem grande empatia pelo primeiro vocalista do Iron Maiden, que se apresentaria mais tarde, inclusive tocando Wrathchild, uma das músicas mais icônicas da donzela de ferro. Tudo para cativar o público. E deu certo. Cheat mode: On. 

Tenho até mesmo a ousadia de dizer que o visual do vocalista Cadu Pelegrini deu uma leve chupinhada no visual do vocalista do Motörhead, Lemmy Kilmister, que é a única pessoa que consegue usar um chapéu de cowboy sem ser crucificado por isso. Digo mais, até mesmo o vídeo de Criswell predicts parece ter sido tirado do chapéu, mimetizando a fala de Winston Churchill ao introduzir Aces High do Iron Maiden. Pra quem não sabe, o vídeo usado na introdução ao show do Kiara Rocks fazia parte de um programa do canal 13 de Los Angeles  em que um ex-estudante de história, com dons mediúnicos, voz marcante e smoking fazia previsões errôneas. Algo a ser pensado, não é mesmo? 


Particularmente, achei uma pena o Iron Maiden não ter chamado o Dianno pra cantar uma música durante seu show. Seria uma participação sem antecedentes: dois vocalistas do Iron Maiden presentes no mesmo show. Bem, eles devem ter tido fortes motivos para não fazê-lo. 
No fundo, a tática usada pela banda foi feita para evitar o efeito 'Carlinhos Brown' no dia do metal. Deu certo. 

Cade Pelegrini e seu Kiara rocks

4 - Ainda que algumas escalações tenham sido desastrosas e muitos erros tenham ocorrido, percebi que a organização do RiR está atenta às novidades do Rock, metal e afins. Chamar o Ghost foi uma aposta arriscada, e eu gostei disso. Chamar o Avenged Sevenfold, ainda que controverso, também foi uma aposta arriscada... mas, ironicamente, mais acertada do que comparada aos suecos, visto que o público vibrou muito mais ao som dos californianos do A7X. 
Apostar na performance dos alemães do Destruction e dos brasileiros do Krisiun foi pensar de uma forma mais metal e, parafraseando um post que vi tempos atrás, de 'injetar sangue nos olhos de dobermans raivosos'. Quem estava lá deve ter gostado (e pogado) muito. 

Papa Emeritus II e seus nameless ghouls: 'realizando o batismo das trevas' no Rock in Rio 

5 - Algumas misturas podem se sair muito melhor do que imaginamos. Quem diria que o show do Zépultura (uma protocooperação de Zé Ramalho e Sepultura) seria tão bom!!! Deixou gosto de quero mais. Não duvidaria se esse show gerar ainda mais frutos dessa parceria. 

Zépultura. A busca pelo ouro terminou. Nós o achamos. 


6 - Bruce Springsteen. Ainda não vi sua performance no RiR na íntegra. Mas só de saber que houve tamanha sensibilidade de tocar Sociedade alternativa para um público que está cada vez mais acostumado a ouvir músicas em inglês é, no mínimo, inspirador. É reconfortante. É lembrar que temos, sim, nossas jóias musicais, e quem está fora consegue reconhecer isso melhor do que nós mesmos. Sociedade alternativa foi único e lindo. Vi o vídeo da apresentação em São Paulo e fiquei extasiado. 

Bruce Springsteen: enlouquecendo a sociedade alternativa

MAIDEEEN, MAIDEEEN! .... ME-TALLICA! ME-TALLICA!

7 - Nós precisamos urgentemente aprender que gritar o nome de uma banda durante o show da(s) banda(s) anterior(es) em nada adianta. Isso não fará que a banda que está ali tocando pare de tocar e que, imediatamente, o público tenha seus desejos atendidos. Gritar "Maiden" durante o show do Slayer ou gritar "Metallica" durante o show do Ghost não é apenas inútil: é desrespeitoso. Por mais que o público estivesse ansioso, a impressão que isso passa é "Cai fora daí e coloca o 'Iron'/'Metallica' pra tocar". Pra uma banda não há nada pior do que não agradar ao público para o qual está tocando. É fato de que a maioria esmagadora estava ali para ver os headliners. Porém seria muito mais interessante gastar energia ouvindo e aproveitar o que está sendo ali oferecido ao invés de gastar saliva gritando o nome de uma banda que só vai tocar depois de horas, seguindo um cronograma que não mudará, independentemente do quanto o nome dessa banda seja urrado. 
Sim, somos apaixonados por nossas bandas do coração, mas é como diz aquele velho ditado "Se você não tem nada de bom para falar de alguém, melhor é não falar nada". Para shows vale também. Guarde esforços para a banda que você gosta e seja feliz. 

...

Algumas coisas poderiam ser repensadas no Rock in Rio. Ao invés de considerar apenas colocar bandas com participações especiais no palco Sunset, a organização do RiR poderia pensar no impacto que cada banda tem no público. Se o Ghost (ainda pouco conhecido no Brasil) tivesse tocado no palco Sunset, ao invés do palco Mundo, talvez o impacto teria sido outro. Quem realmente gosta dos suecos, teria ido ao Palco Sunset e ficaria até um pouco mais próximo da banda. 
Se a organização queria uma banda nacional para tocar antes do Slayer, por que não escalaram o Krisiun ao invés do Kiara Rocks? Faria muito mais sentido. 


Dentre erros e acertos, acho que o RiR teve um saldo positivo. Provavelmente o Medina vai continuar apanhando e continuar cometendo os mesmos erros para 2015. No próximo RiR vai continuar havendo MPB, Pop e coisas não-rock e não-metal. Mas, nesse sentido, pouco importa. Afinal, quem é que vai se importar com Ivete, Justin ou Alicia Keys? "Hoje dia de rock, bebê!". 


... e que venha o Rock in Rio 2015. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Black Sabbath - 13 (2013)

"Desde que saí do Sabbath, diversos grandes músicos passaram pela banda. Mas ninguém toca o Sabbath como o Sabbath." disse Ozzy Osbourne em uma entrevista. Nada poderia estar mais certo. Com todo respeito à quem curte mais alguma outra fase da banda, o Black Sabbath original é que foi a banda que vai ficar na história. Com a formação Ozzy, Geezer, Ward e Iommi a banda lançou dezenas de clássicos imortais, redefiniu padrões e deu bases para a fundação de inúmeros estilos da música pesada. Em outros momentos o BS foi uma boa banda de heavy metal, mas foi com esse quatro garotos de Birminghan tocando seu blues pesado que o grupo fez suas obras primas. 
 
Geezer, Ozzy e Iommi
Podemos analisar 13 de três formas: é uma qualidade incrível para uma banda que não fazia nada junta desde 1978. Ou, ainda: é um trabalho morno para quem já lançou álbuns como o Master of Reality e Vol 4. Não à toa tenho visto dois tipos de reação ao trabalho, gente o descrevendo como a oitava maravilha do mundo, enquanto outros o massacram. Por fim, podemos analisar o álbum como se fosse o primeiro álbum de um novo grupo. Nesse caso, qual seria a reação da crítica e do público, teria tanta gente empolgada assim? Acho que dá pra chegar à um meio termo entre essas análises. 

Na primeira análise, se levarmos em conta o tempo desde a última vez que os 3 músicos estiveram em estúdio juntos o álbum pode ser considerado um sucesso. Claro que (provavelmente)  não tem nenhuma música que vai figurar no olimpo do rock juntamente com Iron Man ou Sabbath Bloody Sabbath, entretanto o grupo aproveitou muito bem a oportunidade e este é um (provável) fechamento de discografia muito mais digno do que os fraquíssimos Technical Ecstasy e Never Say Die. Se não vai ocupar o mesmo lugar de honra na história do rock que os quatro ou seis primeiros discos dos caras, ao menos 13 traz um bom conjunto de canções. Boas suficiente para ser o melhor álbum dos caras desde Heaven and Hell, de 1980, talvez o único sem a formação clássica que seja digno de nota.
Brad Wilk

Já a comparação direta com os clássicos é até injusta. O Black Sabbath dos anos 70 está dentre as mais geniais e influentes bandas de rock da história. A saída foi o auto-plágio. Desta forma, a escolha do produtor Rick Rubin foi acertada. Dá pra dizer que o cd está para os ingleses como o Death Magnetic está para o Metallica. Um monte de ideias usadas nos seus tempos áureos recicladas. Ou vai dizer que o começo e a estrutura de End of the Beginning (e mesmo de God is Dead?) não é idêntica à música que nomeia o grupo? E o que seria Zeitgeist se não uma Planet Caravan parte 2? Faça um exercício, tente cantar a letra de NIB enquanto ouve Loner. A faixa nada mais é do que uma irmã mais nova do clássico. Usando um pouco, bem pouco, de imaginação, é possível encontrar ecos do passado em todas as faixas. Por sorte este trabalho tem mais fôlego do que aquele dos americanos. As músicas soam mais como grandes homenagens do que como marmita requentada. Aliás, não entendo o porquê God is Dead? ter sido o primeiro single. É facilmente a faixa mais fraca do álbum. Apesar de seguir a cartilha da banda em seu ritmo arrastado, ela me soa mais tediosa do que tenebrosa (ainda que seus riffs finais sejam excelentes). Fiquei pensando que se tivessem deixado apenas a metade final da música ela seria bem mais interessante e poderosa. O outro clone de Black Sabbath, End of the Beginning é bem melhor. Ainda que seus primeiros três minutos sejam pura cópia, sua parte final é bastante empolgante.
Os 3 Sabbathicos com Rick Rubin

Por fim, o olhar sobre 13 como se este fosse o debut de uma banda desconhecida. Temos aqui um bom conjunto de canções, em especial no que se refere à guitarra. Iommi é o mestre, não tem jeito. Seus solos estão incríveis. Parece que foram gravados nos anos 70 e estão sendo usados agora. Além disso, ele mostra que ainda tem alguns ótimos riffs na manga.  Geezer sempre foi um dos meus baixistas prediletos e continua mostrando toda sua técnica e peso. Uma pena Bill não ter participado das gravações, mas seu substituto, Brad Wilk, fez um ótimo trabalho. Já a voz do Ozzy é só um fiapo do que era. Nem o mais die hard dos fãs pode dizer que o comedor de morcego foi algum dia um excelente cantor, mas ao menos em juventude ele tinha um vigor que os anos de abusos levaram embora. O timbre inconfundível está lá, o carisma também, mas falta um pouco de emoção em suas linhas, parece que ele está desanimado, cantando enquanto pensa nos seus problemas com a Sharon. No conjunto da obra acredito que esta "nova banda" conseguiria sim atrair alguma atenção. Não haveria tantas odes de amor ao álbum, mas tenho certeza de que arrebanhariam um número considerável de fãs e boas críticas. Principalmente devido às duas grandes músicas do cd, que são Live Forever e Damaged Soul. A primeira um vigoroso heavy metal com o melhor riff do trabalho e a segunda um delicioso blues cheio de solos e gaitas. Nessas duas músicas consegui sentir a magia Sabbathica chegando bem perto da força dos longínquos anos 70.

As três músicas bônus são todas muito boas, até é engraçado terem ficado de fora, sendo  melhores do que a maioria das "oficiais". Enquanto Peace of Mind e Pariah são faixas que conseguem remeter à fase clássica soando, ao mesmo tempo, modernas, Methademic é uma desgraceira da melhor qualidade. Interessante notar que são justamente nestas que estão os melhores momentos de Ozzy.  Acredito que se tivessem seguido nessa direção o resultado final seria bem melhor. Entretanto, é fácil entender o porquê das 3 músicas terem ficado de fora da edição "normal" do cd, elas são conceitualmente bem diferentes das demais. Essas faixas não cometem, por exemplo, o erro das anteriores, de serem mais longas do que deveriam.
Hora do chá

Resumindo:

Ao meu ver, são três os grandes problemas do álbum: a já discutida falta de empolgação de Ozzy, a duração das músicas, muitas delas são muito maiores do que deveriam, e o auto-plágio. Também faltaram alguns refrãos mais poderosos. Dear Father, por exemplo,  é uma música com ótimas guitarras, mas com um refrão que dá uma certa broxada.

E como pontos positivos: grandes riffs e solos e ... o auto-plágio! Em sua maioria as músicas dão aquela sensação de "já ouvi isso antes", mas sejamos honestos, alguém queria realmente que o Sabbath fizesse algo diferente nessa altura do campeonato? 13 não é apenas a continuação de uma discografia, é um retorno depois de mais de três décadas. Era difícil se arriscar (e acertar). Neste ponto a banda acertou o tom. Musicas com uma pegada setentista e a produção moderna. Seria irreal esperar uma evolução do BS, surgindo em 2013 como se tivesse passado apenas um ou dois anos de Volume 4.

Pensando bem, se olharmos o período entre o primeiro e este último álbum dos ingleses, muitas boas bandas de heavy metal surgiram, algumas poucas conseguiram chegar perto, menos ainda se igualaram (Iron Maiden, Metallica...talvez mais uma ou duas...), mas ninguém conseguiu superar os pais. Um Black Sabbath recauchutado e sem brilhar, muito longe do que já fez de mais incrível, é melhor do a gigantesca maioria das bandas atuais.

Álbum: 13
Artista: Black Sabbath
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Vertigo, Universal

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Alice in Chains - The Devil Put Dinosaurs Here (2013)

Quando foi anunciado o retorno do Alice in Chains com um novo trabalho e um novo vocalista todos os fãs experimentaram uma enorme apreensão. Poderia a banda sobreviver sem seu icônico vocalista Layne Staley? Quem poderia substituir à altura uma figura tão talentosa e carismática? O vocalista e guitarrista Willian DuVall entrou na banda e os caras tiveram com Black Gives Way to Blue um excelente recomeço. Aquele álbum foi pensado e executado como uma reapresentação da banda e do novo integrante, investindo em músicas que buscavam elementos passados e consagrados de forma bastante convincente. Desta forma, o cd de 2009 foi mais uma visita aos álbuns passados com uma roupagem nova do que uma evolução da banda, que vinha agregando novos elementos e se alterando em cada novo trabalho. A missão foi cumprida com louvor, assim eu imaginava (e esperava) que a banda voltaria à sua "metamorfose ambulante" em seu segundo álbum da nova fase. Entretanto, o que o AiC fez em The Devil Put Dinosaurs Here foi lançar uma espécie de Black Gives... parte 2.


Dá pra dividir o álbum em 3 grandes blocos distintos: As músicas pesadas, baseadas em riffs fortes de guitarra e andamentos moderados de bateria; as músicas densas e depressivas, arrastadas e com dedilhados tristes; e por fim as sempre presentes baladas. 

O cd abre com 3 pauladas: Hollow, Pretty Done e Stone. São todas faixas muito boas, entretanto soam de forma muito semelhante entre si. É até curioso que a banda tenha escolhido colocar essas músicas em sequência, o que acaba por tirar um pouco do impacto individual de cada uma. Dá a impressão que os músicos encontraram uma fórmula e vão repeti-la até o fim. Ao ouvir esse primeiro bloco tive a impressão de que o AiC havia se tornado uma espécie de AC/DC do grunge.

Voices é a primeira balada do disco. Bem no estilo da Your Decision do álbum anterior, porém sem o mesmo frescor. Assim como a Scalpel, que tem uma pegada meio country em seu arranjo. Ambas não se comprometem e não se destacam. Perto da grande experiência em baladas da banda essas duas músicas são bastante fracas.  Já a última faixa, Choke, é de longe a música mais emocionante do trabalho. Belas melodias vocais e arranjos. Adoraria ouvi-la sendo tocada em um set acústico ao lado de Nutshell e Over Now.

A faixa título vem naquele estilo Love Hate Love, com dedilhados e climas pesados. Gosto bastante do refrão, mais pela letra do que pelo ritmo, mas também não tem nada nela que a faça ficar grudada na memória. Lab Monkey mantém a pegada sombria, com algumas partes mais agitadas e um belo solo. Se destaca mais do que a anterior e o vocal de DuVall finalmente ganha mais destaque.

Low Ceiling é a faixa mais hard rock do trabalho, sendo a única que não tem pares no mesmo. É também a que mais me lembrou os trabalhos solo do guitarrista Jerry Cantrell. Uma faixa sem muita inspiração, mas que traz um solo de guitarra muito bonito, que a faz valer a pena.

Breath on a window tem um ótimo riff e um ritmo mais rápido do que as outras do seu estilo no cd. A variação de andamento e a guitarra do final da musica tornam ela mais épica ainda. Uma das melhores do trabalho, sem dúvidas. Já Phantom Limb volta a fórmula das 3 primeiras, guitarras e bateria pesadas, tendo o melhor riff principal de todo o álbum. Esta deve ser a música com maior destaque do vocal de DuVall. Aliás, acho uma pena que ele não apareça mais. Gosto da voz do Jerry e da dinâmica das duas vozes juntas, mas o vocal mais agudo e agressivo do "novo" vocalista confere mais emoção às faixas.

Hung on a Hook é a "Down in a Hole" da vez. Aqui DuVall canta os versos de forma muito diferente e interessante, em tons baixos, para explodir nos refrãos. Do bloco das músicas mais arrastadas é a mais criativa e minha preferida.

The Devil... é mais um bom trabalho dos caras. Não é melhor do que os álbuns clássicos, e talvez nem os próprios músicos tenham a pretensão de tentar superar aqueles registros. O grande pecado do grupo foi escolher fórmulas prontas e “fáceis” ao invés de se arriscar, como a banda fazia em seus primeiros anos. O AiC de hoje é uma grande banda de hard rock, sem dúvida dentre as melhores do estilo em atividade, mas que aparentemente não consegue mais sair de sua zona de conforto. Lugar que os trabalhos com Layne nem chegaram a conhecer.



Álbum: The Devil Put Dinosaurs Here
Artista: Alice in Chains
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Capitol

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Queens of the Stone Age - ... Like Clockwork (2013)


Quando penso no rock da primeira década do século XXI não tenho dúvidas de que a grande banda foi o Queens of the Stone Age. Nascido das cinzas do ótimo Kyuss, o Queens rompeu com todos os limites e criou álbuns que agregavam os mais diversos elementos de forma orgânica. Seus discos sempre foram pesados, dançantes, criativos, barulhentos, empolgantes. Assim ansiedade por este ...Like Clockwork, primeiro trabalho em seis anos, era imensa. 
A atual formação do Queens of the Stone Age

O cd abre com uma das melhores faixas, Keep your Eyes Peeled. Bluesão pesado, distorcido e arrastado, com excelentes riffs e andamentos. Ainda assim me pareceu uma escolha curiosa para abrir o álbum, por ser muito lenta e soturna. Essa é uma faixa que eu esperaria ouvir no vindouro álbum do Black Sabbath ou de alguma (boa) banda Doom Metal por aí.
As carismáticas If I Had a Tail e I Sat by the Ocean tem aquele estilo bem característico e consagrado da banda, contrastando bases pesadas com ritmos dançantes. Se não trazem nada de realmente novo à sonoridade da banda ao menos são bastante boas dentro de suas propostas, em especial a segunda, com suas ótimas linhas vocais.
The Vampyre of Time and Memory é uma balada bonita, que tem até uma pegada meio classic rock, principalmente no solo de guitarra. Outra faixa no mesmo estilo é a que nomeia e fecha o trabalho, uma música melancólica que começa ao piano e violão para ir ganhando corpo e emoção conforme evolui.
Kalopsia é a mais fraca do cd. Uma faixa que tem em sua concepção caras como Josh Homme e Trent Reznor (Nine Inch Nails) merecia mais do que ter apenas passagens bacanas. Se alternando entre versos lentos (tediosos) e refrões barulhentos (bem legais) fica bem aquém do que eu esperava. Prefiro a cooperação que os músicos tiveram na trilha sonora do documentário Sound City, aquela sim bem mais interessante.
A maior porrada do álbum é sem dúvidas a My God is the Sun, que foi mostrada pela primeira vez no Lollapalooza Brasil. Bons riffs, Dave Grohl detonando na bateria como sempre... é legal, mas fica pálida perto de outras barulhentas da banda, como Sick Sick Sick, Feel Good Hit of the Summer ou Song for the Dead, por exemplo. Divertida, mas duvido que se torne um clássico nos shows dos caras.
Smooth Sailing me lembrou um pouco o estilo amalucado reminiscente de Era Vulgaris em faixas como I'm Designer e Misfit Love, com inúmeros detalhes, camadas e sonoridades diferentes. A mais psicodélica e uma das melhores deste lançamento. No início de Fairweather Friends temi pelo pior, mas temos aqui um ótimo hard rock, engrandecido pelo ótimo piano de Sir Elton John. Música simples, mas bem eficiente.
A angustiante (no bom sentido) I Appear Missing é uma power balad furiosa. Épica até o osso, a semi-balada te deixa com os nervos à flor da pele até o fim. Alias, acho até anticlimático que o trabalho não se encerre com essa faixa. É tranquilamente um dos destaques de ...Like Clockwork
A produção do cd está excelente. Todos os instrumentos podem ser ouvidos com bastante definição. Ouça no fone de ouvido e descubra novos detalhes cada vez. Os timbres dos instrumentos foram todos muito bem escolhidos. As guitarras solo tem um som vintage delicioso enquanto as bases soam "gordas" e na cara. Os teclados e sintetizadores e o som seco escolhido para a bateria deixam tudo mais pesado. Outro dos destaques do álbum é a voz de Josh, que está cantando muito. É impressionante como ele vem melhorando cada vez neste quesito com o tempo. Fazia tempo que eu não ficava tão impressionado com a produção de um cd. Neste quesito dá até pra dizer que ...Like Clockwork é o Sgt Peppers do Queens. O que decepciona é que fora o piano de Elton John nenhum outro participante especial mostra muito a que veio. Se eu não tivesse lido a lista dos músicos convidados eu nunca saberia que participaram desta gravação.
Mais um bom trabalho da banda, que ainda está invicta, sem lançar nenhum cd realmente fraco. Entretanto faltou "aquela" música, entende? Não temos aqui nenhuma arrasa-quarteirão como No One Knows, Sick Sick Sick, Feel Good Hit of the Summer, entre outras. A impressão que dá é que o falta um pouco de tempero para o álbum, algo que o deixe diferenciado. Nada daqueles riffs criativos de outrora, a pegada aqui é bem mais Hard Rock setentista. Mais direto, mais ao ponto. Dá pra dizer que ...Like Clockwork é exatamente o oposto de Era Vulgaris. Enquanto aquele álbum tinha bastante músicas "médias" e umas 3 ou 4 arrasa-quarteirões, o novo release é um álbum forte e coeso, com suas 10 músicas mostrando qualidades, porém sem nenhum grande hit. ou "revolução". Nenhuma música aqui tem aquela pitada de insanidade, de desconstrução dos padrões estabelecidos que permeavam os álbuns anteriores e que  "explodem seu cérebro". É tudo muito bem feito e bacana, porém dentro da "normalidade". Aqui o Queens é uma ótima banda de hard rock/rock alternativo, mas não é desafiadora para os seus ouvintes.
Entretanto é importante ressaltar que apesar de manter certas referencias, conceitos e estilos, a banda nunca  se auto-plagia. A integridade artística do Queens continua intacta e este ...Like Clockwork é mais um passo em sua brilhante carreira, tendo uma cara bem própria, sendo o mais soturno e melancólico trabalho da banda. Se não é aquela explosão de criatividade da década passada, ao menos o álbum é um honesto, bem-feito e cativante registro de rock.
Um cd muito bom e que provavelmente será um dos destaques de 2013, mas ainda assim dificilmente será lembrado como um dos grandes clássicos dos caras. Para outras bandas seria um lançamento maravilhoso, mas para um grupo do quilate do Queens é pouco. Nos acostumaram mal demais.


Álbum: ... Like Clockwork
Artista: Queens of the Stone Age
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Matador, Rekords Rekords

sábado, 18 de maio de 2013

LUZ. CÂMERA. CLIPE! (parte III)



            Antes de tudo, gostaria de me desculpar pelo hiato de meses sem postar nada (tive problemas com meu computador e as atividades da faculdade estavam me consumindo). Agora toda vez que eu mencionar um clipe, farei o máximo pra achar algum bom exemplo do vídeo comentado e, assim, agitar um pouco esse blog, trazendo muitos clipes para os leitores. 

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          No post anterior falamos de como a produção de vídeo clipes começou a crescer e ganhar importância, sendo um meio muito eficiente para a divulgação de músicas novas e artistas. Tão importante que até passou a ser encarada como uma commodity. Neste post vamos falar de como a indústria de clipes se desenvolveu na década de 80 e da criação dos canais que se dedicariam exclusivamente a exibição de vídeos musicais. 

1981 – 1991: a popularização dos videoclipes
         Em 1 de Agosto de 1981, às 12:01 a.m. de Nova York, o recém criado canal MTV exibia o vídeo Video killed the Radio star (lembram que eu disse no post anterior que esse clipe seria importante?) e começou uma era de clipes musicais 24 horas por dia na TV. Com esse novo canal, os videoclipes ganhariam cada vez mais importância no marketing musical, principalmente a partir de meados da década de 1980. Muitos artistas importantes desse período – como Madonna e Duran Duran – devem grande parte de seu sucesso ao apelo sedutor e à construção habilidosa de seus clipes.
Duas inovações na produção dos clipes modernos foram o desenvolvimento de técnicas mais simples e acessíveis de gravação/edição de vídeo, além de melhorias nas técnicas de efeitos visuais, como as obtidas com composição de imagens (como o Chroma key – ou fundo verde – que foi muito utilizado no seriados Chaves e Chapolin, da Televisa mexicana). 


Para muitos brasileiros, uma das cenas mais icônicas feitas em chroma key

A chegada dos gravadores de alta qualidade e de câmeras de vídeo portáteis coincidiu com a política do “faça você mesmo” da era New Wave, o que permitiu que muitos artistas pop produzissem vídeos promocionais de forma rápida e barata. Não à toa, a década de 80 é recheada por clipes que hoje consideraríamos de gosto, digamos, brega e duvidoso (o que, convenhamos, rende boas risadas). Conforme esse gênero se desenvolvia, os diretores dos clipes passavam a preferir filmes de 35 mm como meio preferido. Durante a década de 1980, os clipes tornaram-se quase que obrigatórios para os artistas. Essa obsessão chegou a ser parodiada em um clipe imperdível do programa Not the Nine O’Clock News, da BBC,  chamado “Nice vídeo, shame about the song”. Ao assistir esse vídeo não pude deixar de pensar que eles devem ter assistido Monty Python  por diversas vezes para ter inspiração. E sabe o que é pior? A música é legal e representa muito bem os clichês de clipes daquela década, tanto que em vários momentos ele se assemelha ao clipe de Total Eclipse of the Heart, que só seria lançado um ano depois. A letra é um tanto desconexa, pois há versos que não fazem sentido entre si (Vamos passar a lua de mel em Berlin oriental / E, como lemingues, nunca vamos nadar / A nave lunar do Diabo faz ondas no tempo / Meu irmão asiático diz ‘me dá um trocado’). Nessa música talvez haja algumas críticas a acontecimentos da época, já que eles falam sobre visitas a Alemanha Oriental (que era socialista) e sobre o ‘irmão asiático’, talvez uma referência às conseqüências da guerra do Vietnã, terminada em 1975, que deixou o Vietnã economicamente devastado. Crítica aliada a humor: a melhor combinação, não é mesmo? 
Nesse período, artistas e diretores começaram a explorar e a expandir a forma e o estilo dos clipes, usando efeitos mais sofisticados em seus vídeos e introduzindo uma história com enredos. Poucos eram os clipes que não mostravam os artistas (como nos raríssimos clipes de Under pressure, dirigido por David Mallet e TheChauffeur, dirigido por Ian Eme).  
Em 1983, foi lançado um dos clipes mais bem sucedidos, influentes e icônicos: o vídeo de 14 minutos para Thriller, de Michael Jackson, dirigido por John Landis. Esse vídeo estabeleceu novos padrões de produção, com um custo de quinhentos mil dólares para ser feito (se hoje esse valor ainda é expressivo, imaginem naquela época). Esse vídeo e outros previamente lançados pelo rei do pop contribuíram para que vídeos de afro-descendentes pudessem ser exibidos na MTV, pois antes do sucesso de Michael Jackson estes eram raramente exibidos. A própria MTV alegava ser um canal orientado para o rock (quem diria, não?) o que justificava a falta de clipes de artistas afro-americanos. Contudo, muito se falava que a MTV não os exibia por conta de um ‘racismo descarado’.

O rei do Pop e seus Dead Walkers. 

Ainda em 1983 seria lançado o primeiro rival da MTV: o Country Music Television (CMT) – ainda que exibisse uma programação voltada para a música country. Entretanto, houve conflitos entre a MTV e a CMT (esta, inclusive, acabou adotando a sigla CMTV em resposta a uma denúncia feita pelo canal concorrente, fazendo com que a sigla dos dois canais ficassem semelhantes). Hoje a CMT pertence à Viacom, que fundou a MTV Networks, administradora de operação de vários canais de TV (inclusive a própria MTV). A CMT chegou ao Brasil em um empreendimento conjunto com o Grupo Abril, mas teve uma vida curta, entre 1995 e 2002.
No Canadá criaram o canal Much Music, em 1984, que existe até hoje e está bem ativo, pois possui sua própria premiação, o Much Music Video Awards, que esse ano terá o cantor Psy como anfitrião (e performer, claro), afinal, nada melhor para uma premiação do que chamar o primeiro cantor com mais de 1 bilhão de visualizações no youtube (que também será comentado em um post posterior). Nesse mesmo ano foi realizada a primeira edição do MTV Video Music Awards, em 14 de setembro, o que ajudou a marcar a importância da MTV na indústria musical. Por ser a primeira edição, premiaram os melhores vídeos lançados entre maio de 1982 e maio de 1984 (afinal, Boheman Rhapsody é hors concours). A premiação teve como apresentador o ator Dan Aykroyd, e teve como grandes ganhadores o cantor Herbie Hancock (5 prêmios) e Michael Jackson (3 prêmios). Nesse festival a cantora Cindy Lauper teve nove nomeações, seis pelo vídeo "Girls just wanna have fun" e três pelo vídeo de "Time after time" (que infelizmente foi recentemente regravada por Claudia Leitte). 
Em meados da década de 80 a MTV começou a lançar suas ‘filiais’: em 1985 criou o VH-1: Video Hits One (ou VH1), que compreendia músicas mais suaves para abocanhar um público maior; a MTV Europa foi lançada em 1987; 


a versão brasuca estreou ao meio dia (horário de Brasília) de 20 de Outubro de 1990 (os clipes já tinham chegado ao Brasil em 1975, mas até então eram exibidos em sua grande parte no programa Fantástico, da TV Globo); a MTV Ásia estreou em 1991. Alguns programas britânicos tentaram fugir ao padrão MTV, exibindo apenas clipes, sem apresentadores, como foi o The Chart Show, exibido pelo Channel 4 em 1986: havia janelinhas que pulavam na tela com informações sobre o clipe ou a música, o que era bem inovador e fez bastante sucesso na época.  Até mesmo a própria MTV chegou a adotar esse esquema em alguns de seus programas.
Um dos primeiros clipes a utilizar animação computadorizada foi o clipe de Money for nothing, do Dire Straits, em 1985. O clipe foi bem sucedido e fez com que a canção se tornasse um hit internacional.
Com métodos melhores de filmagem e com diretores cada vez mais interessados em fazer clipes, o mundo musical começou a ganhar clipes cada vez mais técnicos e memoráveis. Quem é que não se lembra de vídeos como “November Rain”, “Don`t Cry” e “Stranged” (Guns’n’roses), “Human” (Human League), o cômico “The Ultimate Sin” (Ozzy Osbourne) e do quase cinematográfico “Hole in my soul”, do Aerosmith? Pois todos eles tem uma coisa em comum: o diretor. No próximo post (que prometo, não vai levar meses pra sair) veremos a importância crescente dos diretores nos clipes. Daria até o nome de um filme: “Rise of Directors”. Alguém se habilita a fazer o roteiro?