quarta-feira, 27 de março de 2013

Pulp - a última grande tacada de Buk

Marlon Villas

Capa de edição de bolso.
(Fonte: farm6.staticflickr.com)
Foi uma boa opção para mim, que estava sem muitas opções (leia-se “disposição”) para sair de casa no último domingo. Eu já havia comprado o livro há alguns meses, porém o mesmo ficou esquecido junto a um pequeno monte de papéis sobre o balcão da cozinha. Vou procurar me vigiar de agora em diante que para que isso não volte a se repetir.

Segundo diz na contracapa, foi o último livro escrito por Bukowski antes dele falecer em 1994, alguns meses depois. E segundo diz na dedicatória, a novela é dedicada à subliteratura. Buk parecia, como sempre, estar pouco se lixando se os críticos literários apreciariam ou não seu trabalho intitulado Pulp, ao estilo das velhas histórias policiais, cheias de exageros e detetives de moral duvidosa, mulheres fatais, mistérios em cima de mistérios, enfim aquela miscelânea na qual se consagrou o estilo noir no cinema, a partir dos anos 1940.

Li todas as 176 páginas no mesmo dia. Acredito que tenha sido a leitura mais rápida que já fiz até hoje de um volume, mesmo se levar em conta a quantidade relativamente pouca de páginas. O estilo sem muitas preocupações estilísticas, marca bem conhecida de Charles Bukowski, me ajudou a devorar em poucas horas a história do detetive Nick Belane, um sujeito com poucas posses, que cobra barato por seus trabalhos de investigação (“Quanto é?” “Seis dólares a hora.” “Não me parece muito.” “Para mim, é.”), mete-se em brigas em quase todo bar que frequenta e que é contratado por Dona Morte, a própria, encarnada em uma mulher linda e extremamente atraente, que não deixa de ser alvo dos desejos sexuais do protagonista. Aliás, mulheres exuberantes e que despertam a atenção de Belane não faltam no livro.

O velho Buk mandando ver.
(Fonte: f.i.uol.com.br)
Dona Morte contrata o detetive para encontrar Celine, um escritor francês (que realmente existiu, e morreu em 1961, quase no mesmo dia que Ernest Hemingway) que ela acredita estar vivo. Com esta história a ser desvendada inicialmente, Nick Belane acaba se metendo em várias confusões, incluindo uma mulher que demostra ser uma alienígena, um certo Pardal Vermelho que é preciso encontrar, agiotas da máfia e muito mais.

É claro que, por se tratar de uma obra escrita pelo velho Buk, não faltam situações absurdas, um humor corrosivo e personagens que fogem completamente ao senso comum. Mas tudo, como dito antes, criado a partir das características noir de antigos escritores de mistério policial, como Dashiell Hamett, Raymond Chandler e David Goodis, dentre vários outros.

Aliás, isso me faz lembrar que estou devendo (ao menos para mim) um texto sobre filmes noir. Tentarei fazer isso, só não vou estabelecer um prazo pra você. Aí seria demais.

Pulp é o tipo de história excelente para quem gosta de uma mistura de mistérios, personagens sem-noção e situações hilárias, além de palavrões, bebidas e sexo. Sem contar o fato de que é uma novela com a assinatura de Charles “Hank” Bukowski, um mestre na arte de chocar e surpreender, por favor.

Título: Pulp
Autor: Charles Bukowski
Editora: LP&M
Número de páginas: 176

domingo, 24 de março de 2013

Cosmos, Carl Sagan (1980)

Karina Pimenta

Na faculdade eu tive o prazer de ter um professor maravilhoso, tanto como pessoa quanto como profissional. Em uma oportunidade, estive presente em uma palestra de química para um grupo de alunos do ensino médio. O Dr. Edvaldo Sabadini discursou sobre a dimensão microscópica do universo dos átomos, dos elétrons, dentre outras partículas, que são basicamente o material de estudo dos alunos de química. Também ressaltou a árdua tarefa de tentar compreender esse mundo tão pequeno em tamanho e, de uma maneira muito inteligente, o professor equiparou o grau de dificuldade do mundo infinitesimal com medidas imensas como o universo. Para finalizar, apresentou um episódio do DVD Cosmos (1980), de Carl Sagan que foi tido como inédito para o conjunto dos alunos, nascidos por volta do ano de 95. Foi assim que eu relembrei daquela série antiga, quando eu era criança demais para entender o que se passava no programa.

Acho que é válido eu esclarecer que eu não entendo praticamente nada de astronomia. Eu gosto do assunto, mas não sei explicar detalhadamente absolutamente nada. Às vezes eu tento, mas sempre fico com uma dúvida aqui ou ali. A título de curiosidade, comecei a assistir alguns episódios da série Mistérios do Universo, com Morgan Freeman, também um ou outro da série Wonders of Universe, ambos da BBC e, é claro, os episódios de Cosmos.
Carl Sagan
Cosmos é um livro da autoria de Carl Sagan (1943-1996), e foi lançado em 1980. Recheado de ilustrações, aborda em 13 capítulos diversos assuntos relacionados à ciência e civilizações. Carl Sagan transmite tópicos científicos de elevada complexidade na forma de uma agradável leitura, como se ele estivesse conversando com o leitor. O livro fala de curiosidades históricas sobre filósofos, e introduz suas contribuições relacionando-as com a ciência moderna.

O sucesso rendeu ao autor o prêmio Hugo Award for Best Non-Fiction Book. A série de televisão Cosmos, que conta com a participação do autor, contribuiu para a sua divulgação e transformou a obra em um best seller, sendo o primeiro livro de ciências a vender mais de meio milhão de exemplares antes de ter sido traduzido para outros idiomas. No final daquela década, Stephen Hawking bateu o recorde de vendas de Carl Sagan ao lançar o livro Uma Breve História no Tempo.

Box de DVD's Cosmos
Eu assisti aos episódios da TV recentemente e notei que, na série Cosmos, temos uma outra noção de tempo, bem diferente dos documentários que vemos passando hoje em dia. A informação é a mesma, entretanto, sem aquele monte de imagens e fotos rápidas, música acelerada. Esse ponto de vista é bem interessante porque pode ser uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que os conceitos são apresentados de uma forma mais lenta e não são vomitados no telespectador, algumas pessoas podem se entediar. Não é cansativo de jeito nenhum, é calmo, devagar.

A começar pela música, em Cosmos temos uma bem escolhida seleção de clássicos! E podemos chamar cada episódio de aula, porque Carl Sagan segue um modelo para seu show que se inicia com um exemplo prático, um assunto palpável e relacionado com o dia-a-dia. Em seguida, entra com a matéria propriamente dita, emprega vídeos e animações para auxiliar na explicação (mas não esperem muito das animações da década de 80). E, para finalizar, volta aos exemplos e encerra o assunto. 

A didática é tamanha que Carl Sagan consegue explicar de forma muito simples como descobriram que a Terra é redonda em poucos minutos. Um outro exemplo é o calendário cósmico, onde a idade do Universo, 13.7 bilhões de anos, é dividida em 12 meses, começando em janeiro, com o Big Bang, terminando nos últimos segundo de dezembro, com o aparecimento do homem. A revista Superinteressante, dentre diversas fontes online, adoram usar essa figura. Já viram? É batido, mas funciona! E Carl Sagan é tido como aquele que popularizou o calendário cósmico, buscando contextualizar a vasta idade do universo.

Calendário cósmico (Fonte: Wikipedia)
Gostei muito, principalmente porque o conteúdo não fica preso somente em astronomia, mas relaciona-se também com biologia, por exemplo. E dá para sentir, a cada palavra, a paixão que Carl Sagan sente pelo seu trabalho, dentro de cada episódio. Posso dizer, orgulhosa, que aprendi com ele como somos ao mesmo tempo insignificantes em massa mas, ao mesmo tempo, muito importantes para a nossa própria compreensão. Deixo a dica para vocês!

terça-feira, 19 de março de 2013

David Bowie - The Next Day (2013)


Não tem como deixar passar em branco um super lançamento como este, né? Como você já deve estar sabendo, o cantor/ator/produtor/alienígena/camaleão/etc David Bowie apareceu depois de muito tempo sem dar qualquer notícia para lançar um novo álbum intitulado The Next Day, seu primeiro registro em dez anos. Após deixar o álbum no repeat por uma semana acho que já estou apto a falar sobre ele.
O cd abre de forma bastante forte com a faixa que dá seu nome. Um rock'n'roll energético e dançante com uma certa pegada Rolling Stonica, principalmente nas guitarras. Ouvindo a faixa me vem a cabeça a imagem de um show lotado, com o publico pulando e cantando enlouquecidamente. Uma música simples, mas grudenta e eficiente.
A sequência com Dirty Boys, The Stars (are out tonight) e Love is Lost é minha parte preferida do trabalho. Uma música melhor do que a outra. Enquanto a Dirty Boys transita entre o rock e o jazz, com seu acompanhamento de metais e seus tempos quebrados, The Stars... volta ao rock básico.  A música já ganhou um fantástico clip e é fácil de entender o porquê de ter sido escolhida como single. A guitarra sempre presente e sua estrutura em crescendo que explode no refrão tem tudo pra se tornar um dos grandes hits da carreira de Bowie. Já me peguei cantando ela alto no busão algumas vezes. Love is Lost fecha esse primeiro terço do cd de forma soberba com seu baixo pulsante, teclado altíssimo dando um aspecto sombrio para a música e guitarras distorcidas que surgem em ótimos fraseados e riffs. A linha vocal criada por Bowie confere um tom de urgência para a faixa.
Então vem o único ponto fraco do trabalho. Where are we now? é uma baladinha pra tocar em baile da terceira idade. Chata que só. E por falar em baladas, o cd tem mais algumas (felizmente bem melhores), como Valentine's Day, que poderia ter aparecido em algum LP antigo do inglês. Seu andamento e sonoridade remetem à um amalgama de músicas romanticas dos anos 60 e 80. Entretanto, a melhor balada do cd é a épica You feel so lonely you could die. Corais, pianos, cordas... a faixa podia ter descambado para a breguice, mas o cantor consegue fazer de tudo isso um momento genuinamente emocionante. 
Uma das músicas mais interessantes é a agitada If you can see me. A bateria dela parece ter sido inspirada pela fase drum and bass do camaleão (do álbum Earthling, de 1997), entretanto sendo tocada "organicamente". Extremamente trabalhada e criativa é sem dúvida uma de minhas preferidas do álbum.
I'd rather be high tem um andamento militar (mais ou menos como a Sunday Bloody Sunday do U2) e um bonito refrão. Boss of me reúne um monte de elementos de forma elegante. Guitarras, metais, partes mais paradas, outras mais agitadas, corais... tudo de forma orgânica e bem equilibrada. Já uma das mais alegres e dançantes é a Dancing out in space
How does the grass grow é uma das grande pérolas. Com um "quêzinho" de hard rock, a faixa traz linhas de teclado bacanas, bateria bem trampada e uma das onomatopéias mais divertidas dos últimos tempos. Te desafio a escutar a música e não ficar com esculaxados La la la las na cabeça. O solo de guitarra é outra coisa linda. E por falar em solo de guitarra, um dos melhores é da post-punk (You will) Set the world on fire, faixa que evoca Bauhaus todo o tempo.
A densa Heat fecha o trabalho. Se a faixa de abertura foi a escolha certa, a de fechamento também não poderia ser melhor. Lenta, depressiva e épica, Heat é hipnotizante. Coloque-a no fone de ouvido, feche os olhos e boa viagem pelas sensações e sentimentos que a música vai te trazer.
No alto dos seus 66 anos David Bowie ainda mostra como se faz. Dá um banho em um monte de bandinhas que se acham modernas e lançou um cd digno não só de sua própria discografia como também das famosas listinhas de melhores do ano. Na minha com certeza The Next Day vai estar.
Álbum: The Next Day
Artista: David Bowie
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Columbia

segunda-feira, 18 de março de 2013

The Sunset Limited

Marlon Villas



Pros mais chegados, não é novidade que eu goste de temas pesados para discussão. E a filosofia vem bem a calhar em muitos desses momentos de exercitar o raciocínio.

Então o que posso dizer quando vejo duas coisas que adoro, o cinema e a filosofia, unidos numa coisa só? É um prato suculento, com bastante tempero e cheiroso só esperando por mim. E ele estava esperando, bem quietinho, na prateleira de uma locadora de vídeos no ano passado.

Cheguei como quem não tá nem aí, o DVD olhou pra mim, eu fiz que não era comigo, mas me aproximei e o encarei. Li a sinopse na contracapa e fiquei intrigado: que diabos é isso? Um filme de 1 hora e meia em que, pelo jeito, só aparecem dois atores? Fiquei ruminando e, quando dei por mim, já pedia para a atendente registrar a locação no meu nome.

Não fui eu: foi ele que me obrigou a carregá-lo para casa.

Liguei o home theater, coloquei o disco lá dentro, preparei um lanche rápido e sentei no sofá. Ainda não tinha entendido direito sobre o que se tratava a história do filme, de início a tal sinopse me pareceu rasa demais. Depois compreendi o porquê: é o tipo de obra que você precisa descobrir sozinho e tirar suas conclusões. Botar a cabeça para funcionar mesmo. Mas é claro que essa compreensão só veio nos créditos finais.

Mal sabia eu.

Primeira cena: um trem passando em uma estação. Há um barulho alto dos trilhos sendo arranhados, e a impressão de que algo muito grave acontece com alguém naquele momento, na estação.

Na cena seguinte, me encontrei dentro de uma quitinete bem pobre, enquanto Tommy Lee Jones se encontra ali dentro, ainda tentando entender por que tinha ido parar naquele lugar, enquanto Samuel L. Jackson procura deixá-lo à vontade. E logo noto que ambos estavam antes na estação, sendo que Jackson havia acabado de salvar Jones de se atirar na frente do trem. É aí que começa uma das conversas mais longas e sensacionais que eu já presenciei na minha vida.

Jones, um professor de filosofia ateu, desgostoso com a vida e com o mundo, decidira se suicidar se lançando na frente do Sunset Limited, nome do comboio que passava àquela hora, início de madrugada. Jackson, um ex-presidiário e funcionário de subemprego em alguma fábrica e cheio de convicções religiosas, não permitiu que o outro fizesse aquilo, por uma questão de humanidade. E por isso leva o professor para seu humilde lar e busca compreender os seus motivos para aquilo que ele considera um ato de desespero ou de falta de perspectiva. Tommy Lee tenta sempre buscar uma forma de ir embora, mas Samuel o convence diversas vezes de que ele não deveria partir, que ficasse um pouco mais. A discussão entre os dois vara as primeiras horas do dia que ainda não amanheceu.

E essa discussão se estende por vários assuntos. É impressionante como os dois discorrem sobre verdades, incertezas, vida, morte, amor, religião, felicidade, conhecimento e mais e mais e mais, com tamanha naturalidade, enquanto tomam café, enquanto tomam uma sopa, ou quando Jackson põe água em sua planta no vaso perto da janela. Por diversos instantes você pode ter a sensação de que é simplesmente uma conversa entre dois conhecidos e que nada de mais acontecera algumas horas atrás. Mas nenhum jamais tinha visto o outro antes, e tudo aquilo teve seu início a partir de um ato: o suicídio, ou ao menos a tentativa de um.

Jackson pergunta, Tommy Lee responde, Jackson provoca, Tommy Lee ironiza, Jackson procura uma brecha na argumentação do outro, Tommy Lee se mantém firme. Tudo isso sem saírem da quitinete, mais especificamente da sala. Não existe uma dica muito clara/explícita sobre o que concluir de todo o diálogo entre o professor ateu e o ex-condenado religioso. Arrisco a dizer que você possivelmente fica com uma sensação de que é você mesmo, o espectador, quem deve botar os pingos nos is da história.

Decididamente não é um filme para quem é fissurado em efeitos especiais, ou para quem detesta debates. Vi alguns comentários internet adentro de pessoas que não gostaram, e entendo bem porquê. Claro que uma história dessa não vai agradar a maioria, que só quer saber de filmes facilmente digeríveis, de preferência pré-mastigados para não comprometer o funcionamento cerebral. Mas o que vou dizer agora não é exagero: ao final, fiquei uns bons minutos sem me tocar que estava de boca aberta. A primeira coisa que disse foi um palavrão bem alto, logo a seguir concluí que precisava urgentemente de uma cerveja.

The Sunset Limited é baseado em uma peça de teatro de mesmo título do escritor Cormac McCarthy, mesmo autor dos livros A Estrada e Onde Os Fracos Não Têm Vez, que também viraram obras de cinema. A direção ficou a cargo do próprio Tommy Lee Jones, que mostrou, além de uma ótima interpretação, um poder de saber conduzir o roteiro com muito pouco em termos físicos.

E olha: precisei de mais do que somente uma cerveja naquela noite.

Título: The sunset Limited (original)
Lançamento: 2011
Direção: Tommy Lee Jones
Duração: 91 minutos

quarta-feira, 13 de março de 2013

Sound City: Real To Reel (2013)


Dave Grohl é a pessoa ligada à música que mais gosto. Longe da revolução punk dos tempos de Nirvana, no Foo Fighters Grohl desenvolveu uma boa fórmula, um rock de arena palatável para grandes multidões e para as rádios, mas sem cair na bunda-molice que geralmente se encontra nesse tipo de música atualmente. É uma das mais honestas e interessantes bandas de rock'n'roll mainstream da atualidade.  
Entretanto, eu gosto mesmo é quando Grohl assume as baquetas. Como baterista ele gravou alguns álbuns clássicos, como (obviamente) o Nevermind do Nirvana, o Songs for the Deaf do Queens of the Stone Age e o auto-intitulado cd do Them Crooked Vultures, além de participações e projetos diversos, como sua homenagem ao heavy metal, o Probot, e a recente participação na nova jóia do metal, o sueco Ghost.
Dave, o fã de Slaaaayeeeeer
Além de simpaticíssimo e carismático, o líder do Foo Fighters também é hiperativo. Ao decretar férias para sua banda principal ele não demorou à encontrar novos projetos. Dentre eles a gravação de um novo álbum com o Queens of the Stone Age e a produção de um documentário sobre o lendário estúdio Sound City. Foi lá que muita gente boa gravou. Como por exemplo, o próprio Nirvana, Neil Young, Greatfull Dead, Santana, Metallica, Kyuss, Queens of the Stone Age, Red Hot Chilli Peppers, Elton John, Tool, Black Crowes...
E claro que esse documentário geraria música também. Assim Dave juntou um time de músicos que em sua maioria (se nao todos) já utilizaram o Sound City em gravações e produziu uma excelente trilha sonora para o filme.
O trabalho abre com a guitarrenta Heaven and All que conta com Robert Levon Been e Peter Hayes, músicos do Black Rebel Motorcycle Club. A faixa lembra bastante a sonoridade da banda em seus melhores momentos. Agitada e barulhenta, a música foi uma excelente escolha para abertura do cd, com sua levada garage rock ao  estilo do clássico MC5.
Time Slowing Down trás nos vocais e guitarra Chis Goss da banda Stoner Rock Masters of Reality e a "cozinha" do Rage Against the Machine. A música entretanto soa como um ótimo hard rock. Chegamos então a uma das minhas faixas preferidas, You can't fix this que tem nos vocais a ex-Fleetwood Mac Stevie Nicks. Uma pseudo-balada meio sombria como se fazia nos anos 1980.
As duas próximas são as musicas "punk" do álbum. Na verdade The man that never was se parece bastante com as faixas mais barulhentas do Foo Fighters (talvez por contar com praticamente toda a banda de Grohl), enquanto You wife is calling é mais violenta, me lembrando até alguma coisa do The Stooges. Um inesperado solo de gaita dá um charme a mais pra faixa.

Alguns dos músicos que tocaram no álbum.
Corey Taylor é um dos grandes vocalistas da geração atual. Gosto muito quando ele canta de verdade, não ficando limitado apenas aos guturais que usa no Slipknot. Sei que tal banda tem uma legião de fãs, mas acho o cara um talento desperdiçado. Uma pena que não rolou a entrada dele no Velvet Revolver, adoraria ouvir o que ele produziria ao lado dos ex-Guns'n'Roses. From can to can't, a música que Corey canta, é uma balada metal, que começa com um dedilhadinho a la Scorpions e acaba ganhando os riffs de guitarra mais pesados do álbum.
Josh Homme é o principal convidado de Centipede. Uma das melhores do cd, a faixa, que poderia ser do Them Crooked Vultures, começa com um bonito dedilhado e descamba para uma destruição sonora lotada de riffs e bateria pesadas
A trick with no sleeve é a primeira a ganhar clip. Talvez como homenagem a Alain Johannes. Parceiro habitual de Grohl em diversos projetos, o ótimo multi-instrumentista acaba sempre sendo eclipsado por nomes mais conhecidos. Aqui entretanto ele assume os holofotes ao cantar esse ótimo rock de arena.
Sem dúvida nenhuma o convidado mais ilustre do cd é Sir Paul McCartney. Em Cut me some slack o ex-Beatle é acompanhado pelo "Nirvana". Ou seja, Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear (guitarrista que tocou com a banda em suas últimas turnês). A música é um rock'n'roll sem frescura, como deve ser.
Nas duas últimas faixas Grohl assume o microfone. If I Were Me é uma baladinha com violões e piano. Bonita música, mas não considero das melhores do cd. Já Mantra era o encontro que eu mais aguardava, juntando à Grohl os gênios Joshua Homme e Trent Reznor. A faixa é um épico de quase 7 minutos, uma mistura de Queens of the Stone Age com elementos eletrônicos do Nine Inch Nails. Coisa linda.
Apesar dos diferentes músicos envolvidos o cd não parece uma colcha de retalhos. Claro que cada convidado acabou levando sua música para o lado de sua banda de origem, mas Dave soube dar a "liga" necessária e, ao contrário do que poderia se esperar de um cd assim, Sound City: Real to Reel não é daqueles cds de grandes altos e baixos, com duas ou três faixas bacanas e as demais descartáveis. O cd é inteiro ótimo, pra se ouvir do início ao fim. Bem alto de preferência. 
Se a ideia era mostrar que o Sound City é um lugar inspirador, de onde saem ótimas músicas, então Dave foi bem sucedido. Fica agora a curiosidade para assistir ao documentário.

Álbum: Sound City: Real to Reel
Artista: Vários
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   RCA

segunda-feira, 11 de março de 2013

Powder Blue, ou o famigerado Ponto de Partida

Marlon Villas



Poderia resumir assim: Ponto de Partida (2009) é um bom filme; Ponto de Partida não chega a ser tudo isso. Mas não vou fazer uma coisa dessa, mesmo porque tenho que escrever um pouco mais do que um parágrafo aqui.

Poderia ser de outra forma: Ponto de Partida não chega a ser tudo isso, com exceção da fantástica e exuberante Jessica Biel, que ainda por cima faz o papel de uma stripper sensualíssima e com pitadas de masoquismo.

Aliás, que nomezinho mais fuleiro esse que arranjaram para o filme aqui no Brasil, hein. O original é muito melhor (Powder Blue), convenhamos.

Fiquei sabendo desse filme alguns meses atrás e resolvi assistir pensando que seria um daqueles filmes que deixa o espectador pensando e pensando no final. Infelizmente comigo não foi assim, mas acho que tem uma explicação pra isso.
Jessica B.

A trama toda é montada com aquele velho artifício de se contar várias histórias, cruzando as vidas das personagens entre si. Até aí nada de mais. O problema que eu vi no roteiro é que, por mais que a gente perceba o sofrimento de cada um no desenrolar da película (e olha que todo mundo ali sofre pra diabo, cada um à sua maneira com suas culpas e/ou desilusões), fiquei com a impressão de que já vi algo parecido.

Em todo caso, assista ao filme, não acho que você vá se arrepender, se gosta de dramas densos.

Uma moça (Jessica Biel), que acabou por se tornar stripper para pagar as contas médicas do filho que há muito tempo está em coma numa cama de hospital. Um homem por volta dos cinquenta anos (Ray Liotta) que saiu recentemente da prisão e que, para alcançar uma espécie de autorredenção, tenta ajudar a stripper de alguma forma. Um ex-religioso (Forest Whitaker) que saca todo o dinheiro que possui em uma conta bancária e busca pela cidade alguém que possa lhe matar com um tiro, pois não aguenta mais a vida. Um rapaz (Eddie Redmayne) que herda uma funerária do pai e não parece ter qualquer tipo de vida social.
Ray L.

Há também a participação do falecido Patrick Swayze, que morreu de câncer no pâncreas ainda no mesmo ano de lançamento da obra. Ele interpreta um dono da boate onde Jessica trabalha e é um sujeito intolerante e insensível. Ah, e Lisa Kudrow também, a eterna Phoebe Buffay, do seriado Friends, aparece como uma garçonete também sem muitas expectativas sobre seu próprio futuro.

Existem cenas pesadas, eu diria que quase beirando o surreal, porém perfeitamente plausíveis. Como as cenas de Whitaker interpelando um travesti e o rapaz da funerária em momentos diferentes, suplicando para ser morto, é chocante. Aliás, passagens magníficas, porque justamente são com Whitaker, um sujeito pra quem tiro o chapéu todas as vezes que o vejo atuando.
Forest W.

Também existem cenas belíssimas e muito comoventes, como o momento em que Jessica descobre que seu cachorro, que ela havia perdido, está com Redmayne e vai até o seu apartamento-quitinete recuperar o animal. Ele ainda não a conhece e pede para que ela não vá embora, então ela sugere que se deem um abraço. Depois disso, ambos desejam um novo abraço, pois percebem o quanto isso faz falta em suas vidas tão tristes.
Patrick S.

Mas acho que eu esperava mais, de certa forma. Acredito que algumas passagens ficaram a desejar em relação a diálogos ou exageros completamente desnecessários. O final eu nem vou comentar. Também me pareceu que algumas coisas em Ponto de Partida foram retiradas de outros filmes, não consegui ver o trabalho todo como algo tão criativo como imaginei que era. Talvez o problema principal seja esse: ter visto muitos filmes parecidos entre si. Isso não tira o mérito dos atores, que estão todos maravilhosos. Dá até vontade de confortar cada uma das personagens ali e dizer que tudo vai dar certo, mesmo que acabe não dando. Porque tudo nesse filme remete à esperança, por mais que ela, a esperança, humilhe e pisoteie e espanque e cuspa na sua cara.

PS.: nunca me apaixonei tanto pela Jessica Biel como nesse filme.

Título: Ponto de Partida (Brasil) / Powder Blue (original)
Lançamento: 2009
Direção: Timothy Linh Bui
Duração: 145 minutos

sexta-feira, 8 de março de 2013

Pérolas perdidas dos anos 80


Se existe um tempo que ficou marcado com carinho nas memórias de quem o viveu (e, em muitos casos, mesmo de quem nasceu depois) foi a década de 80. A produção cultural daquela época foi intensa. Na música, o pós-punk e a new wave dominavam, mas além desses inúmeros outros gêneros e estilos se criaram e/ou se estabeleceram, como a NWOBHM, o Thrash  Metal e o Hip-Hop. Os quadrinhos acabaram por se tornar "coisa séria", principalmente por causa dos trabalhos de Alan Moore, Neil Gaiman e Frank Miller. E no cinema foi um festival de filmes que hoje consideramos clássicos. Os Indiana Jones, os De volta para o futuro, Os Goonies, dois filmes da série Star Wars, E.T., filmes do Stallone e do Scharzenneger, Curtindo a vida adoidado... se você parar para pensar em títulos de filmes que ama daquela década não vai conseguir mais parar, são dezenas. 
Assim, não é de se espantar que alguns bons títulos tenham caido no limbo do esquecimento. Resolvi destacar aqui alguns destes que acho que merecem ser lembrados ou conhecidos pelas gerações mais novas.

Viagem ao mundo do sonhos (Explorers, 1985). Desta lista acredito ser o mais "esquecido". Dirigido por Joe Dante, um dos maiores diretores do cinema infanto-juvenil/aventura light que Hollywood já teve (são dele, por exemplo, os dois Gremmlins, Loucademia de Polícia e Meus vizinhos são um Terror), o filme trás em seu elenco dois jovens que seriam grandes estrelas, Ethan Hawk e River Phoenix. É interessante que neste filme Phoenix faz papel de nerd-meio gordinho-esquisitão que fica muito longe dos papeis de galã bad boy que ele logo assumiria em sua carreira (curta, infelizmente).
A história gira em torno de três garotos que passam a ter sonhos recorrentes e à partir de um diagrama visto acabam por criar um campo de força controlável por computador. Com esse campo de força eles acabam por construir uma pequena nave e vão de encontro aos seres que lhes enviavam os sonhos. Sci-fi juvenil das melhores!

Viagem Insólita (Innerspace, 1987) Mais um filme de Joe Dante na lista. Este filme revisita conceitos do clássico Viagem Fantástica (Fantastic Voyage, 1966), porém adicionando novos e interessantes elementos. Neste filme Dennis Quaid é um piloto de caças envolvido em um projeto ultra-secreto de miniaturização. Seu personagem é colocado dentro de um submarino e diminuído para ser injetado em um coelho, como teste. Terroristas invadem o laboratório justo nessa hora e ele acaba indo parar no corpo de um neurótico caixa de supermercado.  Ao contrário do filme mais antigo, Viagem Insólita é mais voltado para a comédia e tem até alguma influência de filmes de espionagem como os do 007. Um dos bandidos, com sua mão mecânica, poderia muito bem ter saído da galeria de vilões do famoso agente britânico.
O filme dosa bem essas diversas facetas e é divertidíssimo do começo ao fim. 

O milagre veio do espaço (Batteries not Included, 1987). Uma pequena obra prima. Moradores de um prédio que resiste bravamente à especulação imobiliária recebem a visita de um casal de discos-voadores. Sim, isso mesmo, um casal. Tais discos-voadores são uma mistura de nave espacial com robôs. O filme transita entre o sci-fi e a comédia, fazendo um tipo de aventura light que não existe mais nos dias de hoje. Impossível não sentir uma empatia enorme por todos os moradores do prédio, do casal de velhinhos que tem uma lanchonete à um ex-boxeador aposentado, passando pela futura mãe solteira e pelo jovem pintor. E claro, pelos simpáticos visitantes alienígenas, que mudam completamente o destino de todos aqueles com quem interagem.





Uma noite de aventuras (Adventures in babysitting, 1987). Re-assisti esses dias. Na verdade é super inverossímil e bobo, mas sua inocência e despretensão fazem parte do charme. A história é super simples. Uma babá recebe um apelo desesperado de uma amiga para que a busque na rodoviária e, vendo-se sem outra opção, acaba levando as crianças junto com ela. Claro que o que era pra ser uma simples carona acaba dando errado e, parafraseando o locutor dos comerciais da Sessão da Tarde, essa "turminha se mete em altas confusões". 


Se lembra de mais alguma pérola dos anos 80? Compartilhe aqui nos comentários!