terça-feira, 23 de abril de 2013

Vikings (2013)

Karina Pimenta


Quando pensamos em History Channel, nos é familiar lembrar de documentários puramente baseados em fatos legítimos, recheado de detalhes e fatos históricos, com uma terceira pessoa narrando a linha do tempo. Tudo bem, também tem aquele programa absurdo dos Aliens, não lembro o nome, é super engraçado, mesmo não querendo ser. Mas o canal apostou diferente desta vez ao produzir um novo show com estrutura de seriado, com diversos episódios construindo temporadas. O mais relevante foi o tema, a propósito, uma bela escolha da produtora: "Vikings" estreou em abril desse ano e, com apenas alguns episódios lançados, já teve sua segunda temporada (dez episódios) confirmada para o próximo ano.


Ao contrário do que algumas pessoas comentam, eu não sou do time que acredita que o seriado só vem fazendo sucesso por conta da fama de Game of Thrones. Eu concordo que Vikings seja épico, tenha muitas cenas de luta, de guerras, tenha cenários e caracterizações de época mas, ao contrário de GoT, é baseado na história de um personagem que existiu, o lendário Ragnar Lodbrock (ou Lothbrock, depende da referência). A cultura da civilização viking é ícone de fascinação e/ou curiosidade para muitas pessoas, como pode ser constatado pelo sucesso do escritor Bernard Cornwell, que consegue escrever tantos livros épicos que se tornam best seller, como os da coleção Crônicas Saxônicas. Além disso existem diversos games inspirados no líder Ragnar, como Civilization III e IV e Medieval Total War.


A produção do programa é excelente, mesmo sendo o primeiro ficcional do History Channel. Eu não estava esperando muita qualidade, mas o seriado fala por si. Uma boa história, simples, mas bem construída, com atores desconhecidos que cumprem muito bem o seu papel. Ragnar Lodbrock é interpretado por Travis Fimmel (modelo australiano) e, na trama, Ragnar mora com sua família em um sítio e também é um audacioso guerreiro. Decide ir contra o senso comum ao explorar o desconhecido Oeste, na direção da Inglaterra. Ele é casado com Lagertha (Katheryn Winnick, canadense conhecida por Bones), e tem um irmão, Rollo, (Clive Standen, ator inglês, fez o irmão de Robin Hood) ambos com papéis muito importantes na história viking. O ator mais conhecido do seriado com certeza é Gabriel Byrne (Usual Suspects, Stigmata), que faz o papel de Earl Haraldson, líder viking inimigo das proezas e Ragnar.


Como era de se esperar de um seriado que já iniciou com a premissa ficcional, muitos fatos históricos são apresentados de forma ilegítima. Entretanto, existe também muita informação interessante sobre os costumes da civilização, como a religião e sacrifícios humanos, a navegação e seus barcos velozes que são fortes o suficiente para cruzar o mar, a violência dos atentados, os massacres, etc. Vale muito a pena se você estiver disposto a encarar como entretenimento! Domingo que vem é o último episódio da primeira temporada e, só para desabafar, estou esperando ansiosamente, muito mais do que GoT.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Ghost - Infestissumam (2013)


Do nada começaram a pipocar notícias e reviews sobre o Ghost. Não dei muita bola. Demorei a ter curiosidade sobre os caras. Mas depois de ver que até figurões como Phil Anselmo (Down, Pantera) e James Hetfield (Metallica) se declararam fãs e andavam por aí com camisetas do grupo deixei a preguiça de lado e fiz o download. Verdade seja dita, de cara não curti a banda. Achei leve demais e o timbre do vocal Papa Emeritus I não me desceu. Mas de repente me vi cantarolando algum riff ou melodia dos caras. E ouvi mais uma vez o álbum, só pra tirar teima. E mais uma. E outra. Logo já estava cantando todas as letras por aí. Não teve jeito,  também fui pego pela praga do Opus Eponymous, debut dos suecos. Já se passaram uns 2 anos desde meu primeiro contato e continuo ouvindo o cd sem parar.
O Papa e seus seguidores
Pra quem não sabe, o Ghost é uma banda que faz um resgate do heavy metal setentista, com influências de Blue Oister Cult e Uriah Heep e alguma pitada de Mercyful Fate. Desta última trouxeram principalmente o aspecto visual e teatral e as temáticas demoníacas. Para reforçar o aspecto sombrio a banda decidiu manter em sigilo as identidades de seus músicos. Alias, fora o vocalista Papa Emeritus I (agora Papa Emeritus II), que a imprensa acredita ser Tobias Forge, vocalista das bandas de death metal Repugnant e Subdivision, todos os outros outros cinco instrumentistas encapuzados são conhecidos apenas como Nameless Ghouls.
Dá para entender o rebuliço que o debut da banda causou. O contraste dos vocais suaves aliadas às belas melodias do hard rock/heavy metal setentista com as letras e visual obscuro e enigmático conferiram uma aura cult ao grupo. Aliás, não consigo parar de pensar que a banda é, além de uma grande homenagem as bandas clássicas, uma certa sátira à alguns clichés do metal. As letras de tão absurdamente satânicas (e até meio juvenis) passam a ser  engraçadas. Veja bem, isso não é uma crítica. Muito pelo contrário, acredito que a cada detalhe da banda foi pensado e repensado em cada pormenor e o Ghost é entretenimento puro. Desde as especulações sobre as identidades dos músicos até o que mais importa mesmo, o som.
Phil Anselmo, Dave Grohl e James Hetfield, fã club do Ghost
Com tudo isso veio a ansiedade pelo segundo álbum. O primeiro single liberado foi a "valsa" Secular Haze, que ganhou um clip no melhor estilo Black Sabbath. A música já mostrava o que seria ouvido no álbum, uma produção mais caprichada e uma atenção redobrada aos teclados. 
A banda fez excelentes escolhas na composição de Infestissumam. O primeiro aspecto é que não fizeram uma mera cópia do cd anterior. O grupo evoluiu e se aprofundou ainda mais em seu resgate da sonoridade setentista.  Seu som está até mais leve e melódico do que em Opus Eponymous, porém não menos carismático. Como já dito, a presença do teclado é bem mais forte e a adição de alguns corais gregorianos em certas faixas só acrescenta dramaticidade e consistência ao som do grupo.
O trabalho abre com a excelente instrumental que dá nome ao álbum, com bateria rápida e corais, já deixando o ouvinte em estado de alerta e preparando o clima para Per Asperi Ad Inferi, uma das mais pesadas do cd, com seu riff cortante e bateria militar em seu refrão. Esta é provavelmente uma das faixas que mais se parece com as do registro anterior.
Uma das diferenças entre este cd e o debut é a presença de "baladas". A primeira metade do épico Ghuleh/Zombie Queen é um exemplo, com seus teclados, piano e clima triste. A segunda metade da faixa começa com um efeito "tecnobrega" (o Ghost se inspirou em The Strokes?) e ela se torna uma das faixas mais agitadas e divertidas do álbum. Outra balada é Body and Blood, que poderia ter saído de qualquer cd da Mark III do Deep Purple.
Jigolo Har Megiddo, Idolatrine e Depth of Satan's Eyes são ótimos hard rocks. Todas com andamentos moderados em termos de velocidade, as faixas apresentam muita melodia e um clima até dançante, meio post-punk. Mostre essas músicas pra aquele seu amigo que acha que música boa é só aquela produzida nos anos 70 e pode apostar que ele vai amar.
A grande música do álbum (e da banda, ao menos até agora) é Year Zero. O coral cantando nomes de demônios dá espaço à riffs e andamentos que são ao mesmo tempo vintage e modernos. Impossível não se empolgar com esta faixa. Ela até já ganhou um clip bacaníssimo e bem sacado, cheio de subtextos, brincando com rituais católicos e pagãos, além da óbvia piada a respeito da identidade dos músicos. 
O trabalho fecha com Monstrance Clock. Imagino o King Diamond ouvindo esta e pensando "meus garotos" com um sorriso no rosto. Piano e um riff sabbatico dão o tom aqui. Só tome cuidado para não sair cantando em alto e bom som por aí "come together, together as one, come together, for Lucifer's son".
O desafio do segundo álbum está mais do que superado. O Ghost veio para ficar.


Álbum: Infestissumam
Artista: Ghost
Lançamento: 2013
Gravadora/Distribuidora:   Loma Vista

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Da Natureza das Coisas - o poema que mudou o mundo para sempre

Marlon Villas

(Fonte: http://www.adrigomes.com)

Você já pensou alguma vez em como a nossa visão atual de mundo, a respeito de ciência, filosofia, até mesmo de política e de economia, foi moldada? Será que foi simplesmente uma evolução natural das variáveis do comportamento e do conhecimento humanos ao longo dos séculos e milênios? Ou essa visão terá sido impulsionada — melhor dizendo, rápida e radicalmente modificada — por conta de um poema antes dado como perdido para sempre?

A última hipótese parece, nesses termos, ser a mais improvável, porém é o que o livro A Virada — O Nascimento do Mundo Moderno, de Stephen Greenblatt, busca demonstrar, de acordo com uma pesquisa imensa feita pelo autor em cima de fatos históricos.

Stephen Greenblatt.
(Fonte: http://radioboston.wbur.org)

Poggio Bracciolini era um sujeito de família de pouca renda, que nasceu na Itália no ano de 1380. Com o passar do tempo foi se especializando em algo que, para quem não possuía um título de nobreza na família, como era o seu caso, poderia ser a saída, embora não garantida, para um futuro melhor: tornou-se um escriba, aquele que copia manuscritos e livros, já que ainda naquela época a imprensa de Gutenberg não havia sido inventada. Poggio acabou sendo aluno de alguns humanistas (homens que buscavam o conhecimento em obras clássicas da humanidade),  e adquiriu uma vasta cultura sobre textos antigos latinos e gregos, principalmente.

Quando havia alcançado a vida adulta, conseguiu um lugar como escriba ao lado de alguns bispos, até que finalmente, para um homem de sua posição social, alcançou o máximo posto de sua carreira como secretário apostólico no Vaticano, trabalhando bem próximo de alguns papas.

Até que, no início do século XV, com a queda do papa João XXIII (cujo nome de batismo era
Retrato de Poggio com quase 70 anos.
(Fonte: http://mhoefert.blogspot.com.br)
Baldassare Costa, um homem que terminou sendo acusado por dezenas de crimes — após sua destituição do mais alto cargo da igreja católica, o nome João XXIII ficou novamente disponível, e somente foi reutilizado no século XX por Giuseppe Roncalli, ao ser eleito em 1958), Poggio se viu de repente sem trabalho que lhe garantisse uma renda. Entretanto, já era obcecado por algo que muitos humanistas praticavam, que era a busca e descoberta de textos antigos e raros, como poemas, tratados filosóficos, cartas, qualquer escrito que demonstrasse algo que pudesse ser visto como relevante para a história humana.

Segundo fontes de pesquisa de Greenblatt, Poggio provavelmente (isso até hoje nunca foi muito bem esclarecido) adentrou o mosteiro de Fulda, no sul da Alemanha, em 1417, e lá encontrou o que seria um pergaminho de um antigo poeta chamado Tito Lucrécio Caro, que viveu algumas décadas antes do nascimento de Cristo. Hoje tal obra, intitulada em latim De Rerum Natura, ou traduzida como Da Natureza das Coisas, é considerada uma obra-prima do pensamento ocidental, e várias pistas indicam que foi a partir da disseminação deste poema (em parte) que a Idade Média foi dando lugar à Renascença, com sua influência sendo plantada por diversas áreas da criatividade humana, como ciência, filosofia e literatura, até mesmo pintura e escultura. Alguns nomes famosos da História ocidental teriam claramente tido contato com De Rerum Natura de Lucrécio, como Giordano Bruno, Nicolau Maquiavel, Galileu Galilei, Thomas Jefferson, Isaac Newton, Pierre Gassendi, Molière, Thomas More, William Shakespeare, Montaigne, entre muitos outros que, atualmente, são referências como grandes pensadores e realizadores do conhecimento.

A seguir, você tem listados (como está no livro A Virada) os pensamentos fundamentais da obra de Lucrécio, dispersos por 7400 versos :


  •         Tudo é composto de partículas invisíveis.
  •         As partículas elementares da matéria — “as sementes das coisas” — são eternas.
  •      As partículas elementares são de número infinito, mas limitadas em forma e tamanho.
  •         Todas as partículas estão em movimento num vazio infinito.
  •         O universo não tem um criador ou um projetista.
  •         Tudo vem a ser por resultado de uma virada.
  •         A virada é a fonte do livre-arbírtrio.
  •         A natureza experimenta incessantemente.
  •         O universo não foi criado para os ou em torno dos humanos.
  •         Os seres humanos não são únicos.
  •     A sociedade humana começou não com uma era dourada de tranquilidade e abundância, mas com uma batalha primitiva pela sobrevivência.
  •         A alma morre.
  •         Não há vida após a morte.
  •         A morte não é nada para nós.
  •         Todas as religiões organizadas são ilusões supersticiosas.
  •         As religiões são invariavelmente cruéis.
  •         Não existem anjos, demônios nem fantasmas.
  •        O objetivo mais elevado da vida humana é a ampliação do prazer e a redução da dor.
  •         O maior obstáculo ao prazer não é a dor; é a ilusão.
  •         Compreender a natureza das coisas gera um profundo embevecimento.

Uma das primeiras cópias impressas de Lucrécio.
(Fonte: http://blogs.law.harvard.edu)
Reconhece algo familiar em tudo isso? Não parece que muitas dessas afirmações são bastante comuns a nós hoje em dia? Percebe como muitas dessas mesmas afirmações eram extremamente radicais, consideradas inclusive heréticas pela Igreja, que controlava boa parte das sociedades naquele tempo, constituindo uma ameaça seriíssima a seus dogmas? Galileu, por exemplo, foi condenado por heresia, mas escapou da morte pela Inquisição por influência de alguns colegas. Giordano Bruno era um monge que não teve tanta sorte: acabou queimado perto da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Hoje existe uma estátua em sua homenagem exatamente no lugar onde ele foi executado.

Será tão estranho que um poeta grego vivido antes da era cristã tivesse tamanho discernimento acerca de todas as coisas? Na verdade, se você pensar que ele próprio, Lucrécio, foi influenciado por Epicuro e por Demócrito, dois filósofos que, segundo fontes históricas, deram origem ao atomismo e a como conhecemos hoje a estrutura da matéria, ao menos em termos gerais, não parece algo tão incomum.

Um manuscrito de Lucrécio.
(Fonte: http://commons.wikimedia.org)
A lista acima é bem explicada durante a leitura de A Virada, mais precisamente no capítulo 8, com o título Como As Coisas São. Só sei que hoje não consigo mais pensar na história moderna como pensava antes. Preciso achar este poema de Lucrécio, senão não vou conseguir dormir em paz outra vez algum dia. É algo que diz respeito basicamente a todos nós, cada pessoa que vive neste planetinha azul e que segue sua vida de acordo com certos preceitos de vida, sejam eles científicos, religiosos ou qualquer outra definição que você queira. 

Ou talvez seja só empolgação da minha parte.

Título: A Virada – O nascimento do mundo moderno (tradução brasileira) / 
The Swerve: How the world became modern (original)
Autor: Stephen Greenblatt
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 294

sexta-feira, 5 de abril de 2013

John Fante: os sonhos devastados e reconstruídos

Marlon Villas

John.
(Fonte: mail-attachment.googleusercontent.com)

Até poucos dias atrás eu não tinha tido a oportunidade de pegar um livro de John Fante em minhas mãos. Muito ouvi falar dele, de que era um escritor marginal ou coisa parecida, que não se importava em ter um estilo rebuscado como outros famosos escritores de sua época (aliás, estilo rebuscado seria algo que não faria o menor sentido em seus escritos) etc. Muitos outros escritores admiram ou admiraram sua obra. Um deles foi Charles Bukowski, de quem você já me viu falando aqui pelo menos duas vezes. Outro é Marcelo Mirisola, um paulistano da geração 90 de novos escritores brasileiros, irônico, crítico ao extremo e escatológico por excelência, com diversos livros lançados por diferentes editoras (quem sabe eu fale mais sobre ele num outro momento).

A primeira vez que descobri o nome de Fante foi quando avistei um pôster do filme Pergunte Ao Pó em uma locadora de vídeos anos atrás. Demorou mais um tempo para que eu assistisse à obra, protagonizado por Colin Farrell e Salma Hayek. A história me pareceu um pouco estranha, talvez porque eu não estivesse preparado para o que iria presenciar na tela da minha televisão. Depois fui entendendo melhor o enredo e, por fim, achei bem interessante.

Logo após isso esqueci John. Não me lembrava de procurar saber mais sobre o autor de Pergunte Ao Pó, livro que deu origem ao filme, com tantas outras coisas acontecendo, como por exemplo o fato de que eu tentava sair vivo, pelo menos respirando, da universidade onde me enfiei, ou então de arranjar um trabalho razoável com um diploma de nível superior debaixo do braço.

Até que outro dia entrei em uma livraria que não possuía um acervo muito grande de livros, e encontrei uma dessas edições de bolso de Sonhos de Bunker Hill, da editora LP&M.  Sonhos... é o último romance de Fante antes de sua morte, e que foi ditado à sua esposa pois o escritor estava cego e aleijado ao final de sua vida, por conta do diabetes do qual sofreu por anos até 1983, quando faleceu. Claro, soube disso apenas porque estava na contracapa. Eu ainda me perguntava: quem diabos é John Fante?

Capa da edição.
(Fonte: mail-attachment.googleusercontent.com)
Da mesma forma que em Pergunte Ao Pó, em Sonhos de Bunker Hill John usou mais uma vez seu personagem (e espécie de alter ego) Arturo Bandini como protagonista, um típico, clássico anti-herói, um sujeito meio ressentido que, entre empregos mal pagos, tenta se tornar um escritor de renome após o que sobrou da América com a grande crise de 1929. Neste livro ele chega perto da fama, quando consegue um lugar ao sol entre os roteiristas de Hollywood da década de 1930. Porém, por mais que desejasse escrever algo, qualquer coisa para se sentir útil, o seu chefe sempre diz que é para ele esperar o momento certo, e que “está fazendo um bom trabalho”. Mesmo sem atividade, Bandini ganha cheques polpudos um atrás do outro.

O aspirante a escritor ainda se mete em confusão com uma mulher, também escritora e rica, quando praticamente a ataca na praia durante o que deveria ser uma tarde relaxante para os dois. Envolve-se com a sua senhoria do prédio onde mora, uma mulher bem mais velha que ele, que no início julgava ser uma pessoa ruim, e que termina por gostar bastante dela.  Recusa-se a ter seu nome creditado a um roteiro de faroeste por princípios morais, roteiro este que foi totalmente modificado por outra escritora, e que havia sido o único que ele tinha escrito durante toda a sua estada em Hollywood. Arturo também dá a impressão, às vezes, de ser um tipo que, embora reclame de muita coisa e de muita gente, não possui uma certa coragem para enfrentamentos, pois em pelo menos duas ocasiões deixa bilhetes com palavras duras a pessoas que o aborreceram ou o decepcionaram. Como no caso em que, num jantar em um restaurante com um amigo, encontra o escritor Sinclair Lewis (pessoa real, o primeiro norte-americano laureado com o prêmio Nobel de Literatura, transformado aqui em personagem) e este o despreza publicamente. Enfim, um homem que busca um lugar no mundo e que ainda busca descobrir que lugar é esse.

Sonhos de Bunker Hill é um livro fácil e rápido de ser lido, e que me fez ter vontade de conhecer mais John Fante pela riqueza e simplicidade de suas palavras. Um escritor que não se preocupava em trabalhar e expor emoções, que abria feridas morais e sentimentais, sem regalias. É isso, sem dúvidas, o que John foi.

Título: Sonhos de Bunker Hill (original: Dreams of Bunker Hill)
Autor: John Fante
Editora: LP&M
Número de páginas: 166

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Lollapalooza - 30 de março de 2013


Este sábado fui ao festival Lollapalooza. Em primeiro lugar, achei o festival extremamente bem organizado. Quanto a estrutura dele não tenho nenhum ponto negativo para comentar, então vamos pro que interessa mesmo, os shows (só os que eu vi, obviamente)!



Tomahawk. Depois do Faith no More é a banda do Mike Patton que eu mais gosto.  Eu vinha acompanhando o setlist de shows anteriores dos caras e me surpreendi muito positivamente com o que apresentaram no Lolla. Começaram com a ótima Mayday e misturaram de forma bastante coerente músicas dos dois primeiros álbuns com algumas (muito bem escolhidas) do mais recente. Mas para mim o momento alto da apresentação foi a Totem, única representante do maravilhoso álbum Anonymous, apresentada por Patton como "música de macumba".

Quem já viu o vocalista a frente de qualquer uma de suas bandas já sabe o que esperar. Apesar de mais contido em relação às suas maluquices quando está com sua banda mais famosa, o cara é um frontman sem paralelos. O restante do Tomahawk também não fica pra trás, afinal o grupo é praticamente um dream team do rock/metal alternativo com Duane Denison (Jesus Lizard) na guitarra, Trevor Dunn (Mr Bungle) no baixo e John Stainer (Helmet) na bateria.
Em relação a banda não tenho dúvidas que foi um showzaço, porém, com pouca gente que conhecia/gostava dos caras na platéia acabou não sendo tão empolgante. Fico na expectativa de ver um show só deles, com mais tempo e mais fãs enlouquecendo ao meu lado.

Alabama Shakes. Me surpreendeu o número de gente esperando ansiosamente em frente ao palco. E todo mundo conhecendo e cantando as músicas! Nem parecia que estávamos diante de um grupo formado recentemente e que possui apenas um cd na bagagem. Quem disse que downloads ilegais são apenas prejudiciais para as bandas, hein?
O show foi excelente. É impressionante o quanto canta a vocalista Britanny Howard! 
Torço muito para que o Alabama Shakes continue evoluindo.

Queens of the Stone Age. Vou a shows faz 19 anos. Já vi de Alanis Morrissete à Brujeria e posso afirmar que poucas bandas são tão legais em cima de um palco como o QotSA. É muito peso, muita energia. Para mim, foi não só o grande show da noite como também um dos grandes shows que já presenciei na vida.
A banda se calcou no seu disco mais famoso, Songs for the Deaf, mas deu tempo de tocarem algumas surpresas como a inédita (e ótima) My God is the sun e a lisérgica Better living through chemistry.
Além disso foi a primeira apresentação do grupo com seu novo baterista, John Theodore, que é um monstro. A técnica e a brutalidade com que ele espanca sua bateria são impressionantes.
Claro que cada um tem suas preferências e outras pessoas podem ter gostado mais de outro show, mas a plateia mais empolgada e o show mais comentado do dia foi com certeza o do QotSA. 

A Perfect Circle. A difícil tarefa de tocar depois do QotSA. Apesar de adorar a banda e estar ansioso para vê-los reconheço que demorei umas 3 músicas pra entrar no clima da apresentação. Foi como sair de um jogo de Hóquei no gelo e ir ver um balé. 
Entretanto, passada essa minha fase de adaptação o que presenciei foi show lindíssimo. O segundo cd da banda, o Thirteenth Step, é um dos meus prediletos dentre os lançados no século XXI e ver aquelas músicas ao vivo foi uma emoção muito grande. Claro que faltou uma ou outra que eu gostaria muito de ter visto, mas o setlist dos caras foi incrível e a execução das músicas idem.

The Black Keys. O guitarrista/vocalista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney mostraram boa presença de palco, muita simpatia e tinham um setlist matador em mãos. Mas alguma coisa não estava certa. Faltou um pouco de pegada ao show. 
Atribuo isso a dois motivos em especial. O primeiro foi o som. Como o headliner do dia pode ter o pior som? Desregulado e baixíssimo, só consegui ouvir alguma guitarra depois de umas 4 ou 5 músicas. O que eu mais ouvi durante a apresentação da banda foi o cara do meu lado contando pra uma amiga que tinham roubado o celular dele. Isso por si só já era motivo para estragar a minha experiência. 
O segundo motivo: talvez o The Black Keys não seja uma banda para tocar para multidões. Acompanho os caras faz alguns anos e até pouquíssimo tempo atrás eles eram uma banda que devia tocar em lugares para 1000 ou 2000 pessoas. Não estou tendo síndrome de underground aqui, acho ótimo que mais gente esteja conhecendo e apreciando o competentíssimo blues rock da dupla, era uma banda que estava faltando no mainstream, mas acredito que o tipo de som que eles fazem ficaria melhor num ambiente menor e mais intimista, com um público que conhecesse mais da história deles e não apenas Lonely Boy. 
Em resumo, o show foi bom, mas poderia ter sido melhor.