quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Eram os deuses headbangers?

Danilo Altman

Dia desses encontrei uns amigos e acabamos assistindo ao DVD do Wacken Metal Fest de 2011, o qual um deles tinha ido curtir in loco. Tudo muito bem, tudo muito bom, mas depois de quase 3 horas de DVD eu já me perguntava "ainda existe criatividade no metal?". Não me levem a mal, eu adoro heavy metal em praticamente todas as suas formas, mas é que esse é um caminho que tomo há uns bons 20 anos já, devo ter milhares de horas de voo acumuladas ouvindo, lendo revistas e sites, debatendo com colegas, indo a shows, fazendo air guitar, então acho que já cheguei num ponto onde posso olhar toda a cena nos olhos e dizer poucas e boas a ela.

Como todo headbanger já está cabeludo de saber, tudo começou lá no fim dos 60, começo dos 70. É verdade que algumas bandas já faziam experimentações mais pesadas. The Beatles, The Who, Blue Cheer, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Stteppenwolf e muitos outros já tinham espancado suas guitarras, mas foi só quando aquele quarteto ogro de Birmingham lançou seu álbum auto-intitulado numa sexta-feira 13 em 1970 é que o bicho realmente pegou. Osbourne, Ward, Buttler e Iommi. Se o heavy metal fizer um teste de paternidade no programa do Ratinho, não tenha dúvidas, foi do Black Sabbath que tudo veio. Os riffs distorcidos e pesados, as temáticas sorumbáticas, as roupas pretas... e até o famoso símbolo do chifre feito com o indicador e mindinho esticados, cortesia do segundo vocalista da banda, o sr. Ronnie James Dio.


Os pais.
(Fonte: lokaos.net)

E assim como foi o Black Sabbath, outras bandas viraram tudo o que se conhecia do avesso. Ou introduziram elementos novos no estilo. E não à toa viraram grandes medalhões do gênero, lançando clássicos atemporais. Sim, você sabe de quem estou falando. Iron Maiden, Metallica, Slayer, Pantera, Motorhead, Sepultura, entre alguns outros. E, claro, também existiram bandas que criaram algo de novo e desafiador, mesmo sem alcançar o sucesso comercial destes citados anteriormente. Cito, por exemplo, o grande Kyuss e seu stoner metal, ou o Theater of Tragedy, precursor do gothic metal estilo "a bela e fera", que acabou ficando popular alguns anos depois.


Primal Fear: até a calvície do vocalista é cópia.
(Fonte: http://rockmanaus.files.wordpress.com/)
É aí que finalmente chego ao meu ponto. O metal é um estilo de música supra-sumo, inventado pelos deuses e ordenado a nós que o tocássemos mais alto do que o inferno?

Não, pequeno gafanhoto, não é. É um estilo de música, como qualquer outro. E assim como no samba, no jazz, no j-pop, no tecno, no rock progressivo, na mpb, no __________ (preencha a lacuna com seu tipo de música preferido/odiado), tem uns 95% de picaretas e uma meia dúzia de artistas realmente bons. 

Nas tais 3 horas de DVD que assisti, o que predominaram foram bandas thrash. Estava tudo lá, os bumbos duplos, os vocais rasgados, os riffs cortantes... mas, e daí? O Metallica já não fez isso lá em 1983? E, aliás, muito melhor? 

Também teve show de um tal de Primal Fear. Vocal técnico, fraseados de guitarra, roupas de couro... opa, peraí... já ouviu falar de Judas Priest? Pra que vou ouvir esse cover?

Enfim, o que quero dizer é que não entendo gente que se prende ao subestilo do subestilo. Gosta de Rammstein? Ótimo! Excelente banda. Mas me diga, porque ouvir todas as 265178165 bandas de metal industrial que cantam em alemão? Não dá. Como eu dizia lá no começo, aos 20 anos de vida headbanger, acredito que já consigo ver que não é porque tem um cabeludo gritando e um solo de guitarra que uma música é necessariamente boa. É preciso criatividade. 


Mastodon: sim, ainda existe criatividade no metal!!!
(Fonte: http://gunshyassassin.com/)

Não é melhor se preocupar em buscar bandas/artistas realmente bons, ao invés de ficar simplesmente procurando por bandas/artistas feitos numa linha de montagem? Já que estamos falando nisso, sabia que fora do metal também tem muita música boa?

Claro que existem bandas que fazem um som calcado em conceitos pré-existentes e, ainda assim, se saem bem. Mas revirar esses conceitos, homenageando os clássicos e ainda fazer isso de forma contagiante e honesta, dando uma certa cara própria pro negócio todo é praticamente tão difícil quanto criar algo de fato novo. É para poucos. Se for para citar, eu colocaria nesse quesito as ótimas bandas Ghost e Down, por exemplo. Não fazem nada de novo, entretanto elas são como aquela menina bonita da sua classe, à qual você já estava acostumado, mas ao vê-la com um vestido diferente seus hormônios borbulham novamente.

Respondendo minha própria pergunta, se "ainda existe criatividade no metal", a resposta, felizmente, é sim. Demanda paciência e garimpagem, mas lá nas fossas abissais do mar de mp3 que tem por aí, ainda há bandas com seu próprio brilho e que merecem ser ouvidas. O que um macaco velho como eu não aguenta mais é esse festival de covers involuntários. 

6 comentários:

  1. Cara, excelente post! Principalmente na parte do Black Sabbath.
    Também sou cabeludo das antigas e acho que está um pouco complicado, discuto isso com um amigo, sobre bandas de um CD. Explico, parece que a banda ficou cozinhando aquele CD anos até achar uma gravadora, daí lança o primeiro CD e tem a pressão do segundo e faz um “meia boca” e vai caindo de nível até ficar esquecida.
    Acho também que o comportamento dos fãs está equivocado, metal virou consumo, quero-quero-quero e quanto mais melhor. Nisso se criou uma espécie de receita de bolo do inferno, em que a base de tudo é a distorção mais pesada, com a bateria mais rápida, mas gratuitamente colocado, "pasteurizando" o metal.
    Uma vez Vinnie Paul falou sobre isso, não lembro exatamente o que disse, mas foi algo como, se a música é "metralhada" do início ao fim, onde fica a parte rápida? Basta ouvir 4 ou 5 músicas do Pantera para saber do que ele fala.
    O som pesado virou algo “de shopping” se é que me entende, virou uma moda fazer tudo o “mais malvado” possível, e quando me deparo com um som novo bom, me ligo que o som é de um “velho” headbanger, como Slayer, Overkill, Dream Theater, etc.
    Ainda vejo bandas boas surgindo, mas sempre temo que sejam bandas “´primeiro CD”, bom exemplo é o Steel Wing, ou o “velho-novo “Ex Deo.
    Acho até que esse metal “Palmirinha” (receita de bolo) tem um percussor, o Hammer Fall, basta ouvir o primeiro que você saberá como vai ser o próximo.
    Ouvi o Mastodon, e realmente não achei isso tudo que falam, talvez porque não tenha gostado muito do vocal, mas ainda estou conhecendo.
    Essa “fossa mp3” que você comenta também não ajuda. Antes eu ficava com um caderninho em frente da TV vendo o Fúria Metal e anotando as bandas que gostava, daí me virava para ir na Galeria (falo do lugar da década de 90, porque hoje nem sei como está) e comprar o CD, que ouvia até gastar, conhecendo, música por música e lendo o caderninho de letras. Hoje são dois cliques e a discografia está na sua casa. Confesso também baixo essas discografias, mas não sei explicar, é diferente, acho que você “metal veio” me entende, não preciso das modas e autoafirmação da mulecada nova com meu cabelo batendo na bunda e minhas camisetas cinza, um dia pretas.
    Finalizando, ainda tem muita coisa boa, talvez tenha só mudado e eu não aceitei a mudança direito. De qualquer forma, ainda posso colocar o Seventh Son para tocar e viajar de volta no tempo em que batia topete porque meu cabelo era curto, hahaha.
    Muito bom! Espero o próximo post!

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  2. Wow! Seu comentário acabou ficando melhor do que o próprio post, cara :)

    Eu assino embaixo de cada argumento seu. Alias, muitos deles eram assuntos que pensei em entrar em mais detalhes, mas desisti pq se não o post viraria um livro, hahaha.

    Uma vez formulei uma teoria de que as bandas tem prazo de validade que gira por volta de (no máximo) 10 anos. Pega qualquer banda que você goste e pense sobre a discografia dela. Em geral a fase de ouro delas dura uma década, depois a banda decai de alguma forma. As vezes tá tudo lá, o tipo de riff que vc curte, a bateria bacana, os vocais... mas falta algo, falta alma pras músicas. E, claro, tem essas bandas que vc falou, que não passam nem do 1º ou 2º cd.

    Cara, o que vc disse sobre a pasteurização do metal eu achei incrível! "Metal Palmirinha" acabou de entrar para o meu vocabulário, uahua. É bem isso mesmo. O peso é fajuto. As vezes escuto uns blues antigos, tipo Robert Johnson ou Blind Willie Johnson, e sinto muito mais peso e atitude do que a maioria dessas bandas malvadonas de butique.

    Tocar rápido é fácil, difícil é fazer isso com atitude. Realmente, parece que agora o negócio é se auto-afirmar. "Sou mais rápido, cabeludo, tatuado e malvado do que vc". Isso não quer dizer que sua música é melhor, nem aqui nem na China. Esses dias fui ao show de uma mina que canta jazz, chamada Meschya Lake. Cara, me deu vergonha alheia de certas bandas de metal pagando de fodonas. A mina cantando swing e parecendo uma pin up dos anos 50/60 deu um show de talento e atitude. Ela não fazia poses com cara de má e de pernas abertas, mas vc via nos olhos dela o feeling do que ela tava passando. Talento e feeling, isso que tá faltando no metal!

    Sobre o Mastodon: bem aí é questão de gosto, o que eu quis dizer é que ainda se acham coisas novas, o negócio é que tem tanta coisa genérica por ai que as coisas legais estão soterradas debaixo delas.

    Pois é, uma das coisas que eu pensei em escrever era a questão "as bandas que são ruins hj em dia ou eu que tô velho e chato?" Isso é uma coisa sobre a qual vou pensar ainda. Fato é que eu não me adaptei a moda do metalcore. É um tipo de música que não me atrai em nada.

    De resto só tenho a agradecer por ter lido o texto e ter comentado. :D

    Grande abraço!!!

    Danilo Altman

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  3. AH, esqueci de comentar mais uma coisa.

    Conehcer bandas pelo Furia, ir atrás do cd e ficar lendo as letras e foleando os encartes... quase chorei agora! Eu fazia o mesmo!

    E de fato, a sensação era outra.

    Claro, eu tb sou adepto de baixar discografias inteiras, não resisto. Mas reconheço que minha relação com músicas e artistas mudou para um nível mais distante e impessoal. Parece que antes eu vivia mais cada música.

    Tanto que hoje em dia é mais fácil me pegarem ouvindo aquelas músicas que aprendi a amar na adolescencia do que as recém-lançadas.

    Abs!
    Danilo Altman

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  4. Muito Bom!! eu não esqueço da minha fita do painkiller do judas uhauhahuauuhahuahu, o foda nessa época era conseguir arranjar as músicas!!

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  5. Demorei, mas respondendo...

    Isso vira um livro fácil. Muitas histórias no metal.

    Talvez essa validade seja normal. Pense em escrever músicas durante décadas. Uma hora a criatividade acaba mesmo, não tem jeito.
    Pelo que eu lembro agora, sem pensar muito, só o Slayer tem uma discografia que me agrada do início ao fim. Mas com certeza, se eu pensar mais 15 min, vou falar mais bandas. Até o Iron Maiden (Amém) não me agradou nos últimos CDs. Não que tenha feito algo ruim, mas sei lá, não me empolguei muito. Já o CD solo Harris... pelamor do capeta! Que horror!

    Depois discutimos os Royalties do “metal Palmirinha”.
    Exato está difícil achar quem saiba usar o peso. Quando acho uma banda comento com alguém: “Po, vi essa banda nova. Som muito bom!”, no que a resposta vem: “Po cara, esses caras já tão no 5º CD. Não é novo já tem uns 10 anos”.

    Exato, tocar rápido é algo mecânico, sem alma. Por exemplo, os caras falam do Zakk Wylde, que não tem técnica, ou sei lá faz solos fora do tom e bla bla bla. Mas olha a pegada do figura, pega o solo de No More Tears ou Perry Mason. Não preciso ficar 320 anos em Berkeley para fazer um solo legal.
    Outro exemplo é o solo simples, que qualquer cara que estude 1 ano de guitarra faz, da Chemical Wedding do Bruce Dickinson/Roy Z. O cara toca, mas vai ter que comer muito miojo para botar a pegada nas notas.
    Mais um exemplo de coisa simples com pegada é Always with me, Always with You do Satriani.
    Daí vem um cuspidor de notas, tipo Dragon Force, e a mulecada acha a “pica das galáxias”...

    Do Mastodon, tem uma musica que acho muito boa, “Iron Tusk”, que parece uma Moby Dick cheirada atrás de almas perdidas. Aliás, falando em baleias, o livro “No Coração do Mar” é uma leitura altamente recomendada.

    “Na minha época” metalcore se chamava Crossover e a coisa toda era bem melhor. Acho que da para notar meu nível “tiozão do metal” só por essa frase. hahahaha.

    Sobre o conhecer as bandas, também estou mais impessoal. Não sei mais os nomes dos músicos, não decoro totalmente as letras.... sei lá, as coisas mudaram. Temos que ver também, que não somos mais adolescentes que tem a tarde inteira para moscar e ouvir metal.
    Mas de qualquer maneira, eu gosto da sensação de ficar como 1 ano sem ouvir um CD do Maiden, e quando coloco sei cantar junto até o solo de guitarra hahaha.

    É isso aí, Só Slayer Salva!

    Vou ver seus outros posts para conhecer novas bandas.

    Abs!

    OS.: Você não é parente do Dino Altiman não, né? Falo, o médico.

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    1. Cara, mil desculpas! Eu não tinha visto que vc tinha respondido.

      heheh, primeiro, nao sou parente desse médico nao. Não que eu saiba, pelo menos.

      Cara, Iron Maiden pra mim só é válido até o 7th son. Dali pra frente virou uma banda cover de si mesmo, na minha opinião. Slayer até que gosto dos albuns mais recentes, mas eles tb tem uns bem mais ou menos espalhados por sua discografia, tipo o God Hates us all.
      Esse cd do Harris foi de fuder mesmo... nem consegui ouvir todo. Que chatice!

      Ah, eu tb acho que tecnica nao tem nada a ver com qualidade. Otimo exemplo o seu, do Dragonforce. Feeling e criatividade em primeiro lugar! Se acompanhados de uma boa tecnica melhor, claro, mas prefiro mil vezes eu guitarrista mediano mas que seja um excelente compositor do que um masturbador de guitarra que faz musiquinhas ruins.

      Cara, sobre o Mastodon: se estiver a fim de um som mais porrada tente escutar os albuns Blood Mountain e Leviathan (onde tem a Iron Tusk), se preferir algo mais progressivo ouça o Crack the Skye (é meu preferido). O mais novo (The Hunter) é o mais "leve" e direto deles, indo numa direçao mais stoner rock/metal, tb muito bom.

      UAHUAHA, pois é, tb sou do tempo do crossover! auhuah

      Fico feliz que queira acompanhar o blog! =D

      Abração

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