terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ninguém Pode Saber (2005)

Karina Pimenta


Com o título original Dare mo Shiranai, este drama japonês relata a história real de quatro crianças abandonadas à sorte pela mãe. Em meados de 1980, a manchete foi amplamente divulgada em jornais de vários países. Um assunto polêmico, maus tratos com crianças pequenas em plena Tóquio. O assunto teve tamanha repercussão no Japão que foi criado então um filme a partir desse escândalo.

Ninguém Pode Saber, tradução para o português do título, traz o cerne do filme em si. Ninguém pode saber que, em um pequeno apartamento nos subúrbios de Tóquio, mora uma mãe solteira com quatro filhos, uma de cada pai. Ninguém pode saber que elas não têm estudo, e não frequentam a escola. Certa vez, quando questionada pela filha, a mãe diz que pelo fato de não ter pai, ela iria sofrer bullying. (Para quem não é familiarizado, bullying é um assunto realmente muito sério no país.) Nenhum vizinho os conhece, e as crianças nunca saíram de dentro do apartamento.

A mãe, jovem e infantil, frequentemente chega bêbada em casa. Ela precisa do filho mais velho para cuidar dela, uma cena que demonstra a necessidade de amadurecimento precoce do menino frente à imaturidade da própria mãe. Em inúmeras vezes, ela dorme fora de casa. Às vezes, passa semanas longe. Sem demais explicações, sem muitos diálogos. 

Em um esforço de tentar enganar a si mesma, ela envia envelopes de dinheiro para o filho, como se fosse ele o responsável por cuidar de todos os seus irmãos, tão crianças quanto ele. Faz o mercado, o almoço, e ainda estuda matemática sozinho. Após longos intervalos, a mãe retorna para casa. Como uma resposta à ferida causada pelo abandono, os filhos esquecem que foram esquecidos, e só querem um abraço apertado da mãe. Ela passa uns dias com eles, e depois some novamente.

A estrela do filme é, sem dúvida, o filho mais velho, Akira. Muitos jovem, com apenas 12 ele anos, ele se dá conta da situação à qual sua vida se encaminha. Meses seguidos sentindo a ausência da mãe, sem mais envelopes de dinheiro, as contas atrasadas, o corte de luz, o corte de água, os malabarismos para conseguir comida, deixando tanto os filhos quanto o telespectador presos na angústia da espera do retorno da mãe.

O receio a pedir ajuda de outras pessoas tem uma simples resposta: a fobia ao desmembramento dos irmãos pelo serviço social. Apesar disso, o desmoronamento da família se transforma em realidade, só não é físico. Estão juntos, mas arruinados em sua sorte. 

Você deve estar pensando "Mas que bela receita de filme dramalhão barato: história real + sofrimento + closes nos rostos de criançinhas, cheios de lágrimas". Mas, apesar de todos esses trágicos acontecimentos, não temos nada que remeta ao não-querido Fausto Silva em seu programa infame. O tema abandono é tão bem explorado neste filme que até a câmera mantém uma distância segura do telespectador. O sofrimento calado das crianças depende basicamente da atuação das próprias, e não de closes acompanhados de uma bela trilha sonora ao fundo. A bela atuação do ator mirim que interpreta o irmão mais velho, Yagira Yura, lhe rendeu uma premiação como melhor ator no Festival de Cannes com apenas 14 anos.

Deixo aqui uma recomendação de um filme estruturado, que retrata um triste acontecimento de forma inigualável, capaz de transmitir emoção sem utilizar diálogos. 

Bom filme a todos!

3 comentários:

  1. Legal o texto e parece bem legal o filme, mas vale ressaltar q as criancas foram abandonadas por PAI e MAE.

    Vou buscar prá ver =)

    Dani

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    1. Muito bem colocado, Daneca! Eu espero que você goste do filme! Beijo!

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  2. Vou precisar ver esse filme, com certeza.

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