domingo, 14 de outubro de 2012

A outra história (interna) do rock

Marlon Villas

Ramones, fab four punk.
(Fonte: http://www.filmjackets.com/)
Estranho como uma coisa pode virar contra si mesma. Vamos começar com algumas definições, de acordo com o dicionário (pode ser qualquer um):

Discriminação significa o ato de distinguir, separar, apartar alguma coisa ou alguém de qualquer meio geral e comum, por assim dizer. Preconceito já envolve, como o nome sugere, "pré-conceitos", opiniões e julgamentos pré-formados sobre algum assunto ou objeto, sem antes mesmo de conhecê-lo mais profunda ou detalhadamente. Percebam que as definições são diferentes, ainda que de um modo um tanto sutil.

O rock e todas as suas vertentes sofre de ambas as definições. É motivo de preconceito pela massa social enganada/desinformada pela grade mídia, que também não entende o que vem a ser o rock, sua importância, sua história, seus estilos, costumes e outros adendos mais. E o que, de certa forma, demorei para enxergar, talvez porque não pensasse muito por esse ângulo quando se tratava do tal assunto: o rock sofre discriminação por parte de seus próprios fãs, o que não deixa de ser um paradoxo, no mínimo, curioso.

Lynyrd Skynyrd, que homenageou um professor que pegava no pé deles.
(Fonte: http://www.collapseboard.com)
Está certo, quem nunca pratica discriminação ou preconceito vez em quando é um mentiroso, ou grande hipócrita. Todos temos nossas cotas de um ou de outro, isso é fato. Bem como é fato também certas pessoas terem o estereótipo do roqueiro em geral como um deliquente, desajustado, encrenqueiro, viciado em todo tipo e quantidade de drogas. (Em tempo: uma vez, uma garota - que adorava sertanejo, pagode, entre outros estilos musicais dessa linha dita popular - me perguntou por que eu gostava desse "tipo de coisa", já que eu era um sujeto tão gentil, inteligente etc... Tive de dar uma pequena aula sobre a diferença entre o roqueiro e a imagem distorcida e preconceituosa que fazem dele. Mesmo assim, ela não se convenceu do que eu estava falando. Isso é o que o preconceito fortemente enraizado é capaz de produzir.) Porém, se for o caso, volto a este tópico mais especificamente em outra postagem.

O motivo de estar escrevendo todo esse palavrório é outro: a discriminação interna do rock. E eu pensava que isso, embora existisse, como em outras coisas nesse mundo, não fosse levado tão a sério - engano bastante infeliz o meu.

Johnny Cash dispensa comentários.
(Fonte: http://www.billboard.com)
Costumo acessar alguns sites de rock para obter mais informações a respeito de bandas, shows, histórias, biografias, curiosidades e outros assuntos dentro do rock, uma fonte impressionantemente extensa para conversas  em bares, festas e pizzadas na casa de amigos. E o que comecei a me dar conta, entre matérias de diversos assuntos e títulos, é a quantidade de comentários discriminatórios, incluindo xingamentos e comparações descabidas de bandas, artistas, até mesmo discos e músicas. Punk falando mal de heavy metal, heavy metal denegrindo o thrash metal, thrash metal humilhando metal progressivo, progressivo escarnecendo de death metal, e por aí vai, porque a lista é muito longa. Uma batalha de gostos que não tem o menor sentido, por mais que se procure algum no meio de tanta discussão irracional. E o pior de tudo é que os autores das frases ainda fazem pose de intelectuais e donos da verdade, como se gostos e estilos fossem algo totalmente desprovido de subjetividade.

Blind Guardian, de Krefeld, Alemanha.
(Fonte: http://www.blind-collection.com)
Uma coisa escrita alguns parágrafos acima foi de que sertanejo, pagode e outros estilos musicais são ditos populares. O que muita gente não entende é que o rock, este sim, é o estilo musical mais popular do planeta, pois em todos os continentes ele é aceito, e em várias facetas: países escandinavos são fábricas de grandes bandas de black e death metal; a Inglaterra, com algumas das bandas dos primórdios do hard rock e heavy metal, como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, e outras da chamada New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), como Iron Maiden, Saxon, Diamond Head, impulsionaram toda uma nova maneira de fazer som pesado, veloz e com técnica que não deviam nada a grandes compositores do passado, de outras décadas, eras e estilos; o rock australiano, também conhecido por alguns como "aussie rock", já produziu algumas pérolas como AC/DC, Midnight Oil, Men at Work e várias outras bandas; o Japão é sempre palco de grandes shows de todos os estilos, do hard rock ao thrash, do rock alternativo ao power metal; Brasil é um berço de grandes bandas em quase todos os tipos de rock, vide Sepultura (thrash metal, inicialmente death metal), Angra (metal melódico), Titãs (pop rock), entre tantos outros. Não há canto algum do mundo em que ainda não se tenha ouvido acordes dos Beatles. A figura de Elvis Presley é imitada e cultuada por muitos, dos mais jovens ao mais velhos.

O que há de errado, então? Talvez falta de unidade entre os fãs dos diferentes gêneros e subgêneros de rock? Bem provável. Essa falta de unidade se vê claramente em fóruns de rock, onde você pode emitir sua opinião, obviamente, contanto que não extrapole a regras de civilidade - detalhe que, muitas vezes, é ignorado pelos autores de alguns comentários infelizes e sem propósito - tais comentários são feitos simplesmente para provocar outras pessoas que acessam estes fóruns, sem respeito à opinião e gosto musical alheios. E, volto a enfatizar, estes comentários ruins, em sua grande maioria, são de pseudointelectuais e pessoas que não buscam saber corretamente as informações sobre o assunto tratado. O que não consegui entender até hoje é de onde surgiu essa rivalidade entre estilos de rock - lembrando, a rivalidade é de todos contra todos, basicamente. Claro que há roqueiros que não se dignam a fazer papel de bobo como esse e respeitam o gosto dos seus vizinhos, mas a outra grande parcela não vê o rock dessa forma.

Queen, hard operístico e afins.
(Fonte: http://collider.com/)
Como não podia deixar de ser, as inúmeras demonstrações de discriminação por roqueiros contra roqueiros não se limitam à internet: basta frequentar algum bar ou qualquer outro local que dê preferência aos costumes do rock em geral (lojas especializadas em discos, acessórios, camisetas de bandas etc., por exemplo). Certa vez, em um bar de rock onde costumava assiduamente frequentar, um rapaz pediu ao dono do estabelecimento que tocasse algum disco do Aerosmith, banda de hard rock (para muitos, hard/pop rock) que começou sua fama nos anos 1970. Logo que foi atendido o pedido, outra moça em outra mesa, acompanhada do namorado (guitarrista de uma banda local), começou a xingar, em alto e bom som, o dono do bar por ter colocado aquela "merda" para tocar, bem como o "imbecil" que fez aquela escolha. O mais triste de tudo é que, enquanto ela esbravejava toda aquela discriminação, o namorado não fazia nada para impedir o papelão da garota. E o rapaz que pediu o disco também ficou bastante incomodado com a situação, assim como o proprietário do local (que por pouco não expulsou o casal) e vários outros frequentadores naquela noite.

Se alguém souber de algo que possa esclarecer as origens dessa guerra de opiniões, gostos e atitudes no rock em geral, por favor, me avise. Enquanto isso, continuo acessando sites especializados em rock, frequentando bares temáticos no assunto, ouvindo, conversando, tirando minhas próprias conclusões e dialogando, tudo dentro do respeito mútuo, pois afinal de contas, ninguém precisa aturar algum indivíduo com ares e narizes de superioridade.

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