quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Repouso do Guerreiro

Marlon Villas
 
Esta é a estória de amor mais intensa que já li, depois de O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. E olha que Heathcliff e Catherine me fizeram pensar que eu tinha entrado em algum cenário de horror gótico, ou coisa parecida.
 
Capa da edição.
(Fonte: 3bp.blogspot.com/)
O Repouso do Guerreiro é o segundo romance da francesa Christiane Rochefort, e foi publicado originalmente em 1958. Marcos Salvatore, quando de uma visita minha a sua residência com direito a Brahmas, Almsteds e um Quinta do Morgado, me emprestou o livro dizendo que o sujeito era muito a minha cara. Conferi.
 
Não, Marcos, ainda bem que não sou, nem de longe, o sujeito do romance. Mas se você queria me assustar de certa maneira, acho que conseguiu. Vamos ao enredo.
 
Geneviève de Theil é uma jovem estudante que recebe a herança de uma tia, e vai averiguar toda a situação dos bens recém-adquiridos numa cidadezinha no interior da França. No hotel em que se hospeda, acaba salvando, por uma confusão de chaves de quartos, a vida de Renaud Sarti, um homem pouco mais velho do que ela, que tentava cometer suicídio logo ao chegar ao mesmo hotel, algumas horas antes dela.
 
A partir de então, os dois começam uma relação que, nem se vista do espaço sideral, pode ser classificada como normal, ou saudável: Renaud se mostra um alcoólatra niilista dos mais graves, um degenerado e um egocêntrico sem precedentes, que abusa moral e fisicamente de Geneviève, enquanto esta, gradativamente — o que é mais absurdo em toda a trama, do meu ponto de vista — está plenamente consciente do que lhe acontece, mas não consegue se desvencilhar do homem que a pisoteia como a um capacho na porta da entrada de casa. É como se ele se tornasse a sua droga particular, uma droga tão poderosa de que lhe era impossível abrir mão, sob qualquer circunstância.
 
No fundo, a obra não chega a ser precisamente um absurdo no contexto real das coisas. Afinal, infelizmente, sabemos todos disso, muitas mulheres, em maior ou menor grau, se submetem a este tipo de relacionamento que extrapola o bem estar e a sanidade mental, em alguns casos. Mas penso que, para muitos em geral, e especialmente para elas, a mesma obra é pesada de se aguentar.
 
A autora Rochefort.
(Fonte: 3bp.blogspot.com/)
No entanto, o romance fascina pela verossimilhança da realidade.
 
Humilhações em público, agressões físicas, litros e litros de álcool ingerido a toda hora do dia e da noite, indiferença e até um desprezo sem qualquer pudor por parte de Renaud ao amor de Geneviève encharcam as páginas deste romance de Rochefort, que era considerada uma escritora feminista. Fico imaginando que, se estivesse em seu lugar, eu teria muita dificuldade em fazer brotar esta estória no papel.
 
Um adendo: foi realizada uma versão cinematográfica do romance e lançado em 1962, onde a grande estrela foi Brigitte Bardot, a musa das telas francesas naquela década.
 
O título da obra, a meu ver, claramente se explica no final, mas isso eu não contarei: prefiro que você me diga depois.
 
 
Título: O Repouso do Guerreiro (original: Le Repos Du Guerrier)
 
Autora: Christiane Rochefort
 
Editora: Abril Cultural
 
Número de páginas: 250

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