quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

1991: a Revolução (I)

Marlon Villas

Sabe quando você de repente lembra de algo que há muito tempo não apreciava? Foi assim comigo. Passando um dia tomando uma cerveja de leve na casa de uma de minhas irmãs, conversando sobre a vida, recordei de coisas de mais de quinze anos atrás, e eis que bateu a vontade de ouvir mais uma vez um disco que marcou muito meu início no mundo do rock pesado.

Recordo também que, aos 14 anos, comprei o tal CD, um dos primeiros da minha lista do gênero, e que várias primaveras mais tarde, acabei o emprestando a um sujeito na faculdade que nunca teve a decência de me devolver de volta. Um amiguinho do Danilo Altman, que por sinal aqui também escreve. Cadê o Sérgio, Danilão?

E a capa, como o álbum, é magnífica.
(Fonte: http://sequelacoletiva.wordpress.com)
Tive de baixar Arise, do Sepultura, lançado em 1991, na internet para voltar às minhas sensações de estupefação e assombro com o recém-conhecido thrash metal brasileiro naquela minha época. E me peguei sozinho no quarto dos meus sobrinhos, enquanto eles jogavam video game na sala, ouvindo no fone de ouvido do celular, deitado na cama, toda aquela porradaria muito bem concertada, gritando em silêncio (?) junto com Max Cavalera as letras do álbum.

Você, que é nostálgico, sabe bem do que estou falando.

Foi com esse trabalho que a banda de Belo Horizonte conseguiu finalmente reconhecimento dos headbangers do próprio país, pois até então os quatro músicos eram mais bem sucedidos em terras estrangeiras, principalmente nos Estados Unidos. Com a participação do Sepultura no Hollywood Rock, de 1992, no Rio de Janeiro, a consagração foi total.

A faixa-título abre com tal peso, cadência e clareza de sonoridade, que são poucas as músicas do estilo thrash que me fazem sentir tão bem com o fato de curtir o gênero quanto essa. A voz gultural do vocalista ajuda a arrepiar os pelos no refrão: "Under a pale gray sky we shall arise!". Em seguida, entra Dead Embrionic Cells, com uma guitarra um pouco mais ritmada, mas a construção bem feita da melodia e dos solos, além da bateria profunda dando o ar sinistro do som, principalmente na parte em que há uma espécie de parada sintomática prenunciando outro corpo musical, é fantástica (é a famosa parada em que hoje, nos shows, com o atual vocalista Derrick Green, e antes, com Max, há o inevitável "Um, dois, três, quatro!" berrado no microfone). Logo vem Desperate Cry, que para mim, é uma pequena obra-prima de mais de 6 minutos do metal brasileiro, com um riff inicialmente simples, e que depois descamba para uma espécie de sinfonia apocalíptica. Não vou me estender detalhando todas as faixas de Arise, porque, acredito, seria muito maçante para você, mas quero que também preste atenção à décima e última música, um cover da mítica banda Motörhead, Orgasmatron; esta versão ficou conhecida em todos os meios de metal, sem exceção (isso, é claro, caso você não saiba do que estou falando).

Dito isso, logo resolvi voltar mais uma vez (de dezenas e dezenas de vezes) a outro álbum lançado em 1991, Metallica, ou o grande Álbum Preto, do Metallica. Foi então que resolvi escrever esta homenagem às duas bandas, estas que, cada uma a seu modo, marcaram história no thrash metal mundial.

Para bom entendedor, Metallica foi o grupo que oficialmente inaugurou este gênero mais pesado (violento, destilando fúria?) do metal, no início dos anos 80. Hoje os fãs sabem que a banda investiu em outros estilos de som misturados ao original, ou mesmo fugindo do que os mais conservadores chamam de "tradição". Porém ninguém nega que este quarteto da Bay Area da Califórnia (EUA) contribuiu demais para o rock como um todo.

A capa simples e sem muitas firulas.
(Fonte: http://redutodorock.com.br)
Metallica é o álbum mais popular (entenda-se por popular aquilo de que quase todo mundo, mesmo não sendo roqueiro, já ouviu algo a respeito, pelo menos uma ou duas músicas) de toda a carreira destes músicos. Enter Sandman abre o trabalho de estúdio, com uma levada bem cadenciada, guitarras mais limpas do que os discos anteriores e melodia idem. Aliás, todas as doze faixas do trabalho soam desta forma, com uma equalização de todos os instrumentos tocados que soa agradável aos ouvidos, sem perder o peso que marcou a fama de Hetfiled, Ulrich & Cia. Sad But True é uma espécia de balada às avessas, pois é carregada de um clima estranho para um otimista (aliás, penso que a letra é sobre os abusos de álcool de Hetfield - se você prestar atenção, percebe que o alcoolismo se encaixa muito bem nas metáforas utilizadas). Nothing Else Matters é a única música romântica feita pelo grupo, e que virou o hit em toda e qualquer rádio no mundo, mesmo aquelas que não costumam tocar nada de rock. Of Wolf And Man remete a algo visceral de toda pessoa, dos seus instintos básicos. My Friend of Misery é uma pérola, entre tantas outras contidas no álbum.

Duas bandas de origens distintas, mas com algo em comum: o amor pelo som pesado e consagrado por dois discos lançados no mesmo ano, um ano em que muitos consideravam o início do fim do metal, já que muitas bandas começavam a surgir copiando umas às outras indiscriminadamente. Essa afirmação, que depois se mostrou totalmente errada e feita às pressas por pessoas que estavam desgostosas com os rumos da música na época, teve como motivo uma outra coisa que surgiu em outro canto dos EUA: o movimento grunge, com algumas bandas que, duas décadas depois, já ganharam seus devidos espaços no Olimpo do rock. Depois farei uma comparação entre outros discos destas "novas" bandas, que também tiveram destaque neste mesmo ano de 1991.

Parece que 1991 foi algo abençoado para os roqueiros de todos os gêneros. De lá para cá, ainda não percebi nada tão devastador - no bom sentido - quanto o que aconteceu naquele ano tão longínquo. Eu e muitos outros ainda aguardamos por outra revolução como aquela.

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