sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

1991: a Revolução (II)

Marlon Villas


Grunge. Uma das principais palavras de ordem naquele tempo. Até hoje muita gente se confunde na definição do que seja grunge, muitos dizem que isso seria um subgênero de rock, outros afirmam que é um estilo de vida, portanto maior do que apenas ligado ao rock. A verdade é que esta palavrinha estranha e engraçada surgiu no estado de Washington, EUA, principalmente na cidade de Seattle, e teve a ver com rock, sim.

Pra ser totalmente honesto com você, esse papo de que o movimento grunge é “muito mais” do que somente uns caras que gostam de um som pesado e distorcido do heavy metal, vestem camisas e calças rasgadas, revivendo a atitude visual do punk, e gritam contra a sociedade, seus preconceitos e sua moral hipócrita, não passa da necessidade de um bando de sujeitos supervalorizarem algo que idolatram, nada mais. O grunge tem a ver com rock porque nasceu nas entranhas do rock, não há mais o que discutir a respeito deste ponto, e ponto final.

Vamos seguir em frente.

O movimento de Seattle já estava se consolidando como uma nova forma de se fazer um som com peso e de aparência mais suja, musicalmente falando, do que os roqueiros estavam acostumados até então. Os norte-americanos estavam com suas antenas voltadas para Los Angeles ou Nova York, e foi aí que surgiu algo fora dos padrões destas duas cidades: a cena punk de Seattle estava passando por alguma espécie de metamorfose efervescente. Daí, você já sabe: tudo o que é diferente e criativo acaba virando uma febre que se espalha rapidamente. Os empresários musicais da época foram forçados a rever seus conceitos na mesma velocidade, a fim de abocanhar aquele mercado que se mostrava bastante promissor.

Esta cena, provavelmente batizada de grunge pela banda Green River, segundo reza a lenda, já estava bem estabelecida nas ruas onde havia nascido alguns anos antes, no final da década de 1980, além de começar a ganhar um bom status fora de seus domínios, com trabalhos de bandas diversas, como Alice In Chains, The Melvins, Soundgarden, Stone Temple Pilots etc. Porém foi no ano de 1991 que, mais uma vez, como no thrash metal (ver este outro texto), que muitos criam estar à beira da morte, a revolução grunge tomou o lugar de uma certa pasmaceira musical na mídia especializada daqueles dias. Tudo por causa, basicamente, de dois discos lançados quase simultaneamente (um, no final de agosto, o outro, no final de setembro). Coincidência?

Capa emblemática pra cacete.
(Fonte: http://cs.leander.isd.tenet.edu)
Ten – Pearl Jam
A banda Pearl Jam começava sua carreira definitivamente pelas rádios de todos os EUA, e depois por todo o mundo, com seu primeiro álbum, Ten. Falando nisso, alguém pode me dizer o motivo deste título? Porque, se é para se referir às 11 faixas contidas no disco, então obviamente não faz sentido. Ou faz? Enfim, conheci o grupo através da MTV, quando a emissora ainda era uma ótima opção para se conhecer bandas e artistas da música nacional e internacional, com seus videoclipes sendo transmitidos todos os dias, às vezes em diversos horários num mesmo dia, caso sua popularidade fosse alta.

Ao contrário das outras bandas grunges aqui citadas e outras do mesmo movimento, com uma sonoridade mais carregada e cheia de distorções e diferentes efeitos, o Pearl Jam se destacava, já neste trabalho, por uma maior limpeza na equalização das músicas, além destas serem trabalhadas com mais solos de guitarras e uma clareza na voz do vocalista Eddie Vedder. Tudo isso sem perder, no entanto, a contestação e os assuntos de forte conteúdo emocional tratados por todos os grunges, como suicídio, depressão, dúvidas existenciais, morte, drogas, preconceitos sociais, falta de sentido/necessidade de liberdade, e por aí vai.

Logo após o lançamento do álbum, ele não teve tantas vendas, mas alguns meses depois, principalmente no ano seguinte, os fãs de rock perceberam que estavam diante de algo feito de forma única, em contraste com tudo o que andavam escutando. Não deu outra: Ten é considerado um dos discos mais bem sucedidos de toda a década de 1990, na verdade dos últimos 20 anos. Não são muitas bandas que alcançam reconhecimento desse nível logo no primeiro trabalho. Na minha opinião, todas as faixas possuem aquela coisa que você pode não definir bem o que seja, mas com certeza reconhece que é especial. Even Flow, Alive, Black, Jeremy, Porch, Garden, todas são músicas que brincam com as sensações de quem as ouve, emocionando de uma maneira ou de outra, com solos simples e bem executados, com pratos e caixas da bateria soando agressivos sem partir para o ataque propriamente dito, linhas melódicas de voz e baixo muito bem casadas. Enfim, uma bela obra de arte em 53 minutos totais.

A lendária caça ao dólar.
(Fonte: http://hqrock.files.wordpress.com)
Nevermind – Nirvana
Diferentemente do Pearl Jam, o Nirvana já tinha um disco na bagagem em 1991. Dois anos antes havia lançado Bleach, embora tal trabalho não tenha alcançado na época toda a imensa fama que Nevermind ofereceria ao trio de punk grunge.

Diferentemente do Pearl Jam, o Nirvana sempre prezou por algo mais barulhento, com certa violência em suas músicas, de uma crueza magnífica, mesmo que houvesse apenas uma guitarra, um baixo e uma bateria para fazer todo o estardalhaço em seus trabalhos. Confesso aqui que, no início, não me agradou muito o som da banda, não sei exatamente o porquê. Foi só bem depois, provavelmente entre meus 17 e 18 anos, quando decidi gastar meu dinheiro e comprar este CD, que compreendi toda a importância do álbum que andava evitando. Não me arrependi.

Do mesmo modo que o Pearl Jam, conheci o Nirvana pela MTV, assistindo ao videoclipe de Smells Like Teen Spirit, um single que ficou para a história do rock. Aliás, em algum ano da década de 2000, quando eu ainda morava em Campinas/SP, a extinta Rádio Rock da cidade fez um tributo a todas as grandes músicas da história, começando às 08 horas e terminando às 18 horas do dia 13 de julho, Dia Mundial do Rock, as 100 mais tocadas de todos os tempos, e adivinha qual foi a número 1? Bingo. Não sei se concordo que Smells... tenha sido a mais tocada em todas as rádios do mundo, também nem sei se concordo com aquela lista, mas certamente ela merece estar numa homenagem como aquela.

Todos sabem (deixando de fora os alienados) que Nevermind chegou a tamanho sucesso que a própria banda, principalmente o vocalista Kurt Cobain, que já era uma lenda viva, não conseguia administrar emocionalmente a fama e, entre outros motivos, acabou por se matar na sala de sua casa alguns anos depois. O que vale dizer sobre o álbum é que Smells..., bem como Come As You Are, Lithium, Polly, Territorial Pissings, Stay Away e Something On The Way, além de todo o resto das 12 faixas, foi um tipo de catarse para toda uma geração de jovens incomodados com suas próprias vidas e com o rumo que tomavam todos os acontecimentos em vários cantos e em vários países, principalmente no aspecto social, se tornando o exemplo perfeito de tudo aquilo que o movimento grunge reclamava e criticava em altos e potentes decibéis.

* * * * *

O que era grunge já passou. Mesmo as bandas que nasceram naquele meio e ainda estão em atividade já não carregam (tanto) aquele estigma da época. Mas até hoje o movimento influencia novas bandas de diferentes gêneros do rock, talvez mesmo de gêneros não-rock. Uma revolução musical que, sem sombra de dúvidas, quem viveu não vai esquecer tão cedo, pois sempre mostra suas garras aqui e ali, para mostrar que, no fundo, bem lá no fundo, grunges somos todos nós.

5 comentários:

  1. Adorei o post! Só respondendo, o Ten tem (ficou engraçado isso ne? "o Ten tem"... hahah) esse nome pq os musicos resolveram homenagear seu jogador de basquete preferido (o qual nao me recordo agora) que jogava com o número 10 na camisa.
    Por coincidência eu e HUgo estavamos discutindo sobre "Oq é ser grunge" hj mesmo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso foi coincidência, pelo visto. Hehehehe. Sobre o camisa 10, realmente eu não tinha ideia. Valeu pela informação.

      Excluir
  2. Ao ver o título do tópico, achei até que o Danilo tinha escrito esse post... aí vi o nome do Marlon e achei uma feliz coincidência! Muito legal seu artigo! \m/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu, Hugo. Eu já estava devendo esse texto há algumas semanas. Foi difícil, mas se não fosse difícil, não seria tão bom ter terminado de escrevê-lo. Fiquei feliz.

      Excluir