segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mary e Max (2009)

Karina Pimenta


Esse filme foi lançado no ano de 2009, ou seja, a época em que uma crítica a seu respeito seria algo inovador já passou há alguns bons anos. Particularmente, eu realmente amo esse filme, entretanto, um número relativamente pequeno de pessoas que eu conheço o assistiram. Pensando nisso, sinto que é um dever da minha parte deixar aqui um pequeno texto para auxiliar a disseminar um filme maravilhoso e tocante.

Mary e Max é uma animação australiana do premiado diretor Adam Elliot (Harvey Krumpet, 2003), e se auto classifica como comédia e drama, simultaneamente. Apesar de estar localizado na seção infantil das locadoras, em nada se parece com aqueles já conhecidos da Pixar ou Dreamworks.

E as diferenças são muitas! Os bonequinhos dos personagens não são fofinhos e engraçadinhos, pelo contrário, possuem defeitos e imperfeições físicas. A coloração do filme não é viva e brilhante: é sépia, terrosa, e também cinza, com músicas melancólicas. Acredito que a única semelhança entre ambos seja a importância da amizade, o fator-chave que permeia toda a trama. Em Mary e Max temos uma animação única. Adjetivos tais como simples, grotesco, belo e infeliz são extremamente representativos dentro deste universo.

O filme tem início ao ilustrar a simplicidade da vida de Mary, uma criança australiana de oito anos que passa o dia vendo televisão e brincando com bonequinhos feitos à mão por ela mesma. Começamos a simpatizar com uma menina solitária e inocente, que tem dúvidas em relação à origem dos bebês como toda criança. Mas a complexidade de sua vida nos atinge como um soco quando nos damos conta das suas aflições psicológicas, de sua baixa auto-estima, da rejeição dos pais, da sua constante solidão e carência afetiva. Um sofrimento que não esperamos que uma pessoa tão nova venha a passar. Ou ainda, que consiga compreender e seguir em frente. Aqueles bonequinhos feitos à mão não são apenas um passatempo de criança: eles são os amigos que ela não têm, e são feitos com restos de comida devido à falta de dinheiro para comprá-los.

O desenrolar da história se inicia quando Mary começa a se corresponder com Max, um nova-iorquino de quarenta e poucos anos. Assim como Mary, Max é sozinho e também sofre com problemas de auto-estima devido à obesidade. Eles não se conhecem, nunca se viram, mas ambos descobrem nas cartas o primeiro contato com a amizade, e a paixão de ambos por doces inicia o elo de vinte anos de cartas trocadas. O espectador então entra em contato com a sua síndrome, uma variedade do autismo, e é a partir daí que passamos a entender toda a frustração de sua vida.

A dedicação com a qual esse filme foi construído fica explícita em uma diversidade de segmentos. Além do belíssimo roteiro, detalhes como o quase monocromatismo encaixaram-se perfeitamente: a Austrália terrosa e Nova Iorque cinzenta, enquanto há o vermelho escarlate em ambos os cenários. Em algumas cenas há espaço para citar peculiaridades australianas como o típico bolo Lamington, a caixa de correios vermelha que é a mesma até hoje na Austrália, e até uma brincadeira com os neozelandeses. (o que seria equivalente ao Brasil vs. Argentina da Oceania).


Os detalhes são tantos, que até a máquina de escrever que Max usa em suas cartas funciona de verdade (foram necessários dois meses só para fazê-la funcionar). E, além de tudo isso, o filme foi construído em stop motion: empregou 212 bonecos, 147 roupinhas, e 400 acessórios. Cada semana de trabalho gerava 2 minutos e meio de animação. Após cerca de cinco anos para finalizar o filme, Mary e Max foi escolhido para ser apresentado na abertura do Sundance Film Festival, em 2009.

Mary e Max é uma exploração mental, e traz à tona conceitos como autismo, homossexualismo, obesidade, cleptomania, diferenças religiosas, alcoolismo e perdão, inseridos gota-a-gota dentro de diversas cartas entre dois grandes amigos. Fascinante.

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