quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Luz . Câmera . CLIPE! (Parte I)

videoclipe | s. m. : Curta-metragem que ilustra um tema musical ou apresenta o trabalho de um artista.  Sinônimos: clipe, teledisco.

A definição acima (em letras quase garrafais) são a definição no dicionário, mas basicamente um videoclipe (videoclip, clip ou clipe) é um filme curto que interage com imagens e música, produzido para fins promocionais e/ou artísticos. Apesar de hoje em dia serem utilizados – em sua maioria – como meio de divulgação ou marketing, ainda são muito apreciados. Nesse, e nos próximos posts, vamos tentar explorar um pouco dessa ‘Jugendstil televisiva’, essa Art Noveau contemporânea, verificando os aspectos que começaram ainda no cinema mudo e chegaram aos videoclipes, como os conhecemos hoje.  

Joe Stern e Edward Marks: os "criadores do videoclipe". À esquerda, uma propaganda de  uma lanterna mágica tripla

Em 1894, os americanos Edward Marks e Joe Stern, editores de partituras musicais, contrataram o eletricista George Thomas e vários artistas para promover as vendas de sua música ‘The little lost child’. Utilizando uma lanterna mágica – um projetor de imagens provavelmente desenvolvido por Christian Huygens no séc. XVII – George Thomas projetou uma série de imagens em uma tela, simultaneamente a performances da música ao vivo. Essa forma de entretenimento tornaria-se conhecida como “canção ilustrada”, o que seria o primeiro ‘videoclipe’ a ser feito na história. Se eles usaram o 'clipe' para auxiliar a venda de sua música, eles obtiveram grande êxito, pois venderam mais de dois milhões de cópias das partituras de sua música. 

Algo desnecessário de ser dito é que o que contribuiu massivamente para a criação dos vindouros videoclipes foi o avanço das técnicas de cinema.  No início do século passado, os filmes, inicialmente mudos, começariam a agregar sons sincronizados (previamente gravados), por volta da década de 1920. Posteriormente, com uma tecnologia melhorada, alguns diálogos sincronizados começaram a ser incorporados e esses filmes começaram a ser conhecidos como ‘fotos falantes’. As técnicas foram melhorando e muitos musicais curtos passaram a ser produzidos (diga-se de passagem, Cary Grant e Hupmfrey Bogart , conhecidos atores americanos, estrearam em filmes dessa leva, como em “This is the night” e “The dancing Town”, respectivamente). Na década de 1930 o processo de incorporação de áudio em filmes chegou a ser feito de forma inovadora, fazendo com que filmes fossem adaptados à música, e não o contrário. Muitos desenhos animados da época são ótimos exemplos disso – como Fantasia, da Disney. Esses desenhos, inclusive os que assistíamos na nossa infância, possuíam músicas que eram executadas em ‘live-action'. 

Fantasia (Disney): um marco nos desenhos animados em 1940

As décadas passaram e ideias continuavam a surgir na intersecção música-vídeo
            Em meados da década de 1940, o músico americano Louis Jordan (o rei das Jukebox nas décadas de 1930 e 1940) produziu curtas-metragens para suas canções – de acordo com o historiador musical Donald Clarke, esses foram os ancestrais dos videoclipes. Filmes musicais (com qualidade superior às das canções com curtas-metragens) também foram produzidos e muito difundidos a partir dessa mesma década –  podemos citar ‘Os homens preferem as loiras’ (1949) e ‘Amor, sublime amor’ (1957). Em 1958 nasce na França o Scopitone, o que seria uma jukebox com vídeos, fabricado pela Cameca. Algumas variantes surgiram em outros países, como o Cinebox, na Itália, e o Color-sonic, nos Estados Unidos. Em 1959, Jiles Perry Richardson (vulgo ‘The Big Bopper’, um D.J. e cantor americano, nascido no Texas) cunhou pela primeira vez o termo ‘vídeo musical’. Uma curiosidade sobre Big Bopper é que ele possuía uma voz marcante e era muito conhecido na cena rock and roll da década de 1950. Morreu em uma queda de avião em 1959, junto com seu conterrâneo Buddy Holly e o mexicano Ritchie Valens. 

"Os homens preferem as Loiras"(no alto à esquerda), "Amor, sublime amor" (abaixo, à esquerda) e a famigerada maquininha da Scopitone.
Em 1964 foi lançado o filme – em preto e branco - ‘A hard day’s night’, que retratou alguns dias da banda no auge da Beatlemania, intercalando músicas e sequências de diálogos. No ano seguinte os Beatles gravariam o filme ‘Help!’ – em cores. A faixa título, gravada em preto e branco, foi a Pedra de Roseta para os vídeos musicais das décadas seguintes, por conta de ângulos e tomadas de câmera não usuais para a época: foco nas mãos do baterista ou apenas em seu rosto (junto com um pedaço de um dos pratos), a mão esquerda de George Harrison e o braço de sua guitarra vistos em primeiro plano, enquanto, ao fundo, há um desfocado John Lennon, tomadas rápidas das câmeras de cada beatle, seguidas pelo enquadramento de todos eles juntos. quem quiser conferir, veja a partir de 1:08 nesse link http://www.youtube.com/watch?v=jbCVKEUkQzc, onde há o filme completo. Quem assistir ao clipe provavelmente achará que não há nada inovador, mas devemos lembrar que algumas poucas décadas antes as atenções voltavam-se mais para musicais, pois os clipes, propriamente ditos, ainda não existiam ou não eram massificados.  


"A hard day's night"( 1964) e "Help!" (1965)


Ainda em 1965, os Beatles começaram a fazer as chamadas ‘inserções filmadas’ (tradução livre), o que eram simplesmente clipes promocionais para distribuição internacional. Isso permitia que eles pudessem promover seus lançamentos sem ter que fazer apresentações ao vivo. Em 1966, seus filmes promocionais tornaram-se altamente sofisticados: fizeram duas compilações de clipes promocionais para o single “Rain e “Paperback Writer” , dirigidos por Michael Lindsay Hogg, que também dirigiu “Let it Be” (o último filme dos britânicos de Liverpool), além do aclamado “The Rolling Stones rock and Roll circus”, que contou com a participação de John Lennon, Paul McCarney e Yoko Ono (!!). Os clipes para “Strawberryfields forever” e “PennyLane”, ambos de 1967 e dirigidos por Peter Goldman, levaram os clipes a um novo nível, utilizando técnicas de vanguarda como filmagens borradas, slow motion, filmagens de trás-para-frente e adição de filtro de cores na pós produção.


Muitas bandas seguiram essa linha de vídeos promocionais: Bob Dylan, Pink Floyd, The Who... Algumas músicas chegaram a ter mais de um clipe promocional, como foi o caso de "Jumping Jack Flash", do Rolling Stones. Porém seria David Bowie a ter mais notoriedade com seus clipes. O vídeo de “John,I’m only dancing”, de 1972, foi feito com orçamento de apenas US$ 200,00, retratando um ensaio de David Bowie e sua banda.  Esse clipe, entretanto, foi recusado pela BBC, que considerou de muito mal gosto as conotações homossexuais (??) presentes no clipe. Posteriormente o Top of the pops – programa da BBC – exibiria um clipe muito diferente para essa música, com sequências de motociciclistas e dançarinos.  O clipe de “Jean Genie” não causou tanta polêmica, mas também custou pouco: US$ 350,00. Foi filmado em apenas um dia e editado em menos de dois. Nessa década a country music também acabou aderindo a produção de vídeos promocionais.

David Bowie fez o primeiro clipe 'mamilos' da TV britânica

            Pelo que vimos até aqui, os clipes tiveram uma grande repercussão no meio em que foram difundidos, principalmente na Europa. Contudo os E.U.A terão outras enormes contribuições no mundo vídeo-musical. Muito ainda está por vir, mas – (in)felizmente - fica para o próximo post. 

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