sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os caminhos para o fim do mundo

Marlon Villas

Sempre gostei muito de histórias pós-apocalípticas (o termo não é o mais correto, mas é o que vou usar aqui), aquela coisa de que tudo o que conhecemos como civilização foi destruído, um clima de fim dos tempos. Desde pequeno achei curiosa a ideia de me imaginar sozinho no mundo, percorrendo estradas e cidades e não encontrando pessoa alguma para conversar, saber as novidades, jogar um dominó (a gente se presta a qualquer coisa em meio ao desespero), dividir uma pizza, sei lá. Existe um caráter até filosófico nesse assunto, como em toda boa estória futurista e possível de acontecer, que deixa meu cérebro intrigado.


Aqui vão algumas considerações sobre alguns filmes e livros que li sobre o tema:

BLECAUTE - provavelmente este tenha sido o primeiro livro que me levou a indagar sobre o fim do mundo e o da raça humana. E foi escrito por um brasileiro, o Marcelo Rubens Paiva, mesmo autor de Feliz Ano Velho, uma autobiografia sobre o acidente que o deixou numa cadeira de rodas, até hoje, quando ainda um jovem estudante da Unicamp, misturando memórias e indagações sobre seu pai, que sumiu durante a ditadura militar (aliás, não sei por que isso virou um livro tão famoso - eu li e achei uma grande bobagem literária, coisa de moleque que só queria desabafar suas angústias, mesmo). Marcelo disse que escreveu Blecaute ouvindo muita coisa das antigas (Tom Waits, King Crimson e Duke Ellington), além de ter sido influenciado pela antiga série Twilight Zone (Além da Imaginação, no Brasil). Três amigos, dois rapazes e uma garota, depois de ficarem presos por dias dentro de uma caverna devido a um desabamento de pedras durante uma expedição de espeleologia, percebem que são as únicas pessoas vivas na cidade de São Paulo. Todas as outras viraram algum tipo de estátuas, e eles não sabem o motivo disso ter ocorrido. Entre a solidão numa metrópole e a possibilidade de usufruir de absolutamente tudo a seu bel-prazer, o trio vai tentando levar uma vida normal. Existem cenas fantásticas no livro, como o momento em que explodem a torre de transmissão da Rede Globo na Avenida Paulista, e como pintam a mesma avenida de vermelho, de uma ponta a outra, simplesmente porque o tédio tomava conta deles. Não à toa, já li este romance duas vezes, de tão interessante que achei. E fica aqui meu apelo: quando algum cineasta vai ter a coragem de transformar Blecaute em filme, hein? Hein?

A ESTRADA - Cormac McCarthy é um nome que eu não conhecia até então. Mesmo tendo assistido ao filme Onde Os Fracos Não Têm Vez, baseado em um de seus romances, eu não tinha a menor ideia de quem era o sujeito. Até que ouvi falar de um filme chamado A Estrada. Como era com o Viggo Mortensen no papel principal, não fiquei muito entusiasmado para conferir o trabalho, mas por algum motivo totalmente estranho (sério, não sei bem a razão disso ter acontecido), acabei por comprar o livro homônimo. Mesmo com o Mortensen na capa, uma foto tirada de um pôster de divulgação da película. O enredo do romance é basicamente o seguinte: um pai segue com seu filho pequeno em direção à costa oeste dos Estados Unidos, em meio a um mundo destruído por algum tipo de guerra mundial, pois acredita que lá terão mais chances de sobreviver ao inverno que se aproxima. Ambos estão desnutridos, vestem farrapos que encontram pelo caminho e possuem uma arma com algumas poucas balas para se protegerem de outros humanos que se tornaram canibais pela escassez de alimentos. Existem algumas cenas fortes e emocionantes, mas não consegui gostar do livro como um todo. Principalmente pelo estilo de escrita de McCarthy, que acredito não ter combinado tão bem com a própria estória. Alguns meses depois resolvi assistir ao filme, e pensei que foi uma das raríssimas vezes em que uma adaptação cinematográfica ficou melhor que o original em texto. Mesmo assim, não é um grande trabalho, na minha opinião. Ou talvez seja apenas a minha mente que já tenha ficado desconfiada com o romance desde o início, só isso.

EU SOU A LENDA - taí um filme que gostei desde as primeiras cenas. Will Smith é um ator que admiro por ter feito vários trabalhos dignos de nota, embora já tenha escorregado um pouco em sua carreira com atuações e projetos mequetrefes. Entretanto, em Eu Sou A Lenda ele está muito bem na pele do virologista militar Robert Neville, que procura uma cura para um vírus que sofreu mutação genética, e que havia sido utilizado alguns anos antes como veículo para a cura do câncer. A mutação do vírus causou uma epidemia na cidade de Nova York, e que depois se espalhou mundo afora, transformando as pessoas infectadas em criaturas violentas, sem resquícios visíveis de inteligência, com o metabolismo muito acelerado, e que só saem às ruas à noite, pois são extremamente sensíveis à luz do dia (nisso eles se parecem com vampiros, mas a comparação começa e termina por aí). Neville descobriu ser imune ao vírus em qualquer forma de transmissão, ao contrário de sua cadela Sam, sua única companhia, que só é imune pela infecção por ar. A sequência de cenas em que a cadela é infectada e Neville precisa matá-la, e depois ele aparece em uma locadora de vídeos e procura conversar com um manequim são as partes mais tristes de todo o filme. Assim como a cena em que, depois de ser salvo por Anna, personagem da brasileira Alice Braga, Neville conta uma história vivida por Bob Marley, seu cantor preferido, também é tocante. O roteiro é baseado no livro I Am Legend, de Richard Matheson, da década de 1950 (que ainda não li), e há outras adaptações anteriores para o cinema, uma dos meados dos anos 60, outra do início dos 70 (e que ainda não assisti a nenhuma delas). Só sei que esta versão com Will Smith é uma das melhores do gênero.

O LIVRO DE ELI - típico filme em que você pode pensar: "É bom, mas podia ter sido bem melhor". Denzel Washington está excelente como Eli, o andarilho de um planeta destroçado por uma guerra nuclear que tenta, há cerca de 30 anos, chegar à costa oeste norte-americana. Ele acaba se metendo em confusão com arruaceiros de uma pequena cidade comandada por Carnegie, interpretado pelo grande Gary Oldman, que deseja encontrar um certo livro que lhe daria poder para comandar todas as pessoas. Eli carrega esse livro, que é a Bíblia Sagrada, mas não quer se desfazer do mesmo, pois acredita que precisa levá-lo ao oeste em segurança. Dá-se início a uma caçada desesperada por Eli e pelo livro por terras que viraram verdadeiros desertos, e uma moça (a belíssima atriz Mila Kunis) acaba se envolvendo com o andarilho em sua fuga dos capangas de Carnegie. As cenas de luta são incríveis, os efeitos visuais são ótimos. Mas você percebeu alguma semelhança deste enredo com o do livro A Estrada? O fato de o protagonista querer alcançar o oeste dos EUA? Pois vou dar outra dica: em uma rápida sequência de cenas, em que Eli e a moça encontram um casal de velhos morando sozinhos numa casa no meio do nada, há uma insinuação de que o casal seja canibal, como no livro de McCarthy. Ou seja, na minha opinião, houve alguma espécie de cópia de ideias, e acredito que isso tenha sido feito pelo roteirista Gary Whitta, já que o romance de McCarthy havia sido lançado cerca de um ano antes dele assinar contrato com os estúdios que produziram O Livro De Eli. Basicamente por essas "coincidências" tão coincidentes é que digo que o filme podia ter sido melhor, se houvesse um pouco mais de criatividade no enredo.

E então? Você aí, tem outras dicas pós-apocalípticas pra discutirmos/compararmos aqui? Puxe um banco e sinta-se à vontade.

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